Em fevereiro, delegação do Partido da Causa Operária (PCO) esteve no Catar, onde se reuniu com o birô político do Hamas. A reunião teve por objetivo dar a oportunidade ao Hamas em um órgão da imprensa brasileira de contar o que realmente aconteceu no 7 de outubro, desmascarando as mentiras de “Israel” contra o partido palestino. Nisto, Rui Costa Pimenta, presidente do PCO, entrevistou o Dr. Musa Abu Marzuk, vice-líder do birô político do Hamas.
Vice-líder do Hamas responde às maiores dúvidas dos brasileiros
Na entrevista, o Dr. Marzouk esclareceu que o Hamas é um partido que luta pela libertação da palestina e que, atualmente, os partidos que possuem mais representação entre o povo palestino são o próprio Hamas e o Fatá, sendo este o segundo maior. Contudo, na década de 1960, quando o Hamas ainda não havia surgido, o Fatá era o principal representante. E a segunda maior organização chamava-se As-Saiqa. Embora atualmente sua representação entre o povo palestino seja muito pequena, ela tem uma história, conforme frisou Marzouk.
Surgiu em setembro de 1966, criada pelo Partido Baath Sírio, e se juntou à Organização para a Libertação da Palestina (OLP) em 1968. Como afirmado pelo Dr. Marzuk, àquela época era o segundo maior partido da OLP, atrás apenas do Fatá. E era uma iniciativa do Partido Baath da Síria de se opor à liderança de Yasser Arafat e do Fatá.
No ano de 1970, com Hafez al-Assad tomando o poder através da chamada Revolução Corretiva, o Partido Baath sofreu um expurgo e seu alto escalão foi substituído por pessoas leais a al-Assad, sendo um deles Zuheir Mohshen, que se tornou o secretário-geral. O partido palestino As-Saiqa foi utilizado no golpe dado por al-Assad. Por várias vezes, a Síria tentou fazer com que Mohshen se tornasse o líder da OLP, substituindo Arafat. Mas isto nunca se concretizou, pois ele não recebeu apoio suficiente dos demais partidos e organizações.
Haja vista que a resistência palestina não possuia o nível de unidade que se vê atualmente, a história da As-Saiqa é contraditória. Durante a Guerra do Líbano, houve momentos em que ela atuou junto da OLP, mas outros em que lutou contra. Não deliberadamente a serviço do sionismo, mas, de qualquer forma, era algo que mostrava a ausência de unidade entre as organizações da resistência palestina.
Enquanto a unidade de ação era mantida, a As-Saiqa era um dos mais importantes agrupamentos de combate palestinos, contra as milícias fascistas dos cristãos maronitas (falangistas e outros) e os sionistas. Na Síria, era uma organização de grande importância nos campos de refugiados palestinos daquele país. No que tange à Guerra do Líbano, em 18 de janeiro de 1976, os falangistas lideraram o Massacre de Karantina, assassinando cerca de 1.500 civis palestinos, curdos, sírios, armênios e sunitas libaneses no distrito de Karantina, Beirute, capital do Líbano.
Em resposta a esse massacre, a As-Saiqa liderou um ataque à cidade maronita de Damour, onde milícias fascistas falangistas e Ahrar estavam aquarteladas. Cerca de 150 pessoas foram mortas.
Contudo, apesar do combate aos maronitas (lacaios de “Israel”), embates que a As-Saiqa teve contra a OLP durante a década de 1970 fizeram com que muitos palestinos deixassem esse partido. Chegou-se ao ponto de a As-Saiqa ser expulsa da OLP em 1976. Contudo, foi readmitida no mesmo ano. Afinal, a guerra de “Israel” contra a resistência palestina no Líbano se intensificava, tornando necessária a unidade. Contudo, por motivos que não cumpre aqui detalhar, o imperialismo e o sionismo conseguiram impedir essa unidade. E uma manifestação disso foi a Guerra dos Campos, que foi deflagrada em 1985, durando até 1988. De um lado, lutou o Hesbolá, a OLP (dela fazendo parte o Fatá e a FDLP) e outras. De outro lado, lutou o Amal, a As-Saiqa, as Forças Armadas Libanesas e outras. Isto novamente fez com que inúmeros palestinos deixassem os quadros da As-Saiqa.
Após a guerra, sua influência ficou limitada em grande parte à Síria e ao território libanês ocupado pela Síria. Sua política, ao fim da década de 80 e começo de 90, destacava-se por se opor aos acordos de paz que a OLP e Arafat estavam fazendo com “Israel”.
Na Síria, após deflagrada a Guerra Civil em 2011, uma guerra de agressão impulsionada pelo imperialismo contra o povo sírio, lutou junto do governo contra as forças imperialistas e pró-imperialistas, com seus membros participando de importantes batalhas como a Ofensiva do Sul de Damasco e a Ofensiva do Sul da Síria.
Apesar disto, na Palestina, a organização praticamente perdeu sua significância após assinados os Acordos de Oslo. Não participou da Segunda Intifada e, apesar de ser contra a Autoridade Nacional Palestina (um governo capacho de “Israel”), praticamente não possui influência nos territórios palestinos, seja Gaza, Cisjordânia ou Jerusalém.