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Antônio Vicente Pietroforte

Professor Titular da USP (Universidade de São Paulo). Possui graduação em Letras pela Universidade de São Paulo (1989), mestrado em Linguística pela Universidade de São Paulo (1997) e doutorado em Linguística pela Universidade de São Paulo (2001).

Coluna

As palavras terrorismo e genocídio

As palavras ganham sentido somente no discurso

Entre tanta confusão, com quaisquer fascistas ventilando a palavra “terrorismo”, o que isso significa? Não a palavra “terrorismo” especificamente, mas seu uso na boca dos direitistas e, inclusive, pela esquerda pequeno burguesa, supostamente progressista.

Nos dicionários – recorro ao Houaiss, o melhor e mais completo em língua portuguesa –, terrorismo significa: (1) modo de impor a vontade pelo uso sistemático do terror; (2) emprego sistemático da violência para fins políticos; (3) regime de violência instituído pelo governo; (4) por extensão, atitude de intolerância e de intimidação adotada pelos defensores de uma ideologia, sobretudo nos campos literário e artístico, em relação àqueles que não participam de suas convicções.

Ora, em vista disso, cabe indagar por que não seria terrorismo: (1) espancar covardemente manifestantes que protestam, donos de seus direitos, contra privatizações pautadas pelo neoliberalismo, levadas adiante por governadores de extrema direita; (2) agredir violentamente professores exigindo salários justos contra aumentos sistemáticos de 0%; (3) ameaçar, com policiais fortemente armados, estudantes militando pela contratação de professores nas escolas e universidades públicas; e, (4) por extensão, combater minorias sexuais mediante princípios religiosos reacionários, baseados em mitologias altamente discutíveis.

A bem da verdade, independentemente dos dicionários, a palavra “terrorismo” ganha sentido somente por meio do discurso; na boca suja do fascista, qualquer oposição a suas ideologias, tão podres quanto seu hálito pestilento, tornam-se “terrorismo”. Em linguística – e isso se demonstra facilmente – as palavras dependem dos temas colocados em discurso; assim, mesmo assassinando milhares de pessoas, quando se trata dos porcos fascistas, quando alguém reage, respondendo à altura, chama-se “terrorista” quem se defende e, jamais, quem ataca, assassinando populações civis desarmadas, constituídas, preponderantemente, por idosos, crianças e adolescentes.

Desse ponto de vista, quem foi terrorista, os guerrilheiros de Sierra Maestra, do Araguaia, do Hamas ou os imperialistas dos EUA e dos países europeus, célebres por suas barbaridades no decorrer da história? Para os apedeutas da direita, vale a pena conhecer uma figura de retórica chamada diáfora. A diáfora se dá quando, numa polêmica, um dos debatedores devolve, a seus oponentes, a mesma palavra, mas com significado diverso, concorde com as ideologias em questão; dessa perspectiva, será “terrorista” quem o interlocutor chamar “terrorista”. Isso posto, o uso da palavra denuncia, antes, as ideologias e intenções do enunciador que aqueles nomeados por ela; recorrer ao dicionário se revela apenas parte da análise do discurso, é necessário saber quem utiliza o vocabulário e com quais propósitos.

Desse ponto de vista, enquanto os fascistas nomeiam terroristas seus inimigos, quer dizer, os esquerdistas, esses contestam, em vez de denunciar tal retórica perversa, nos mesmos termos, acusando-os de terrorismo; tal atitude, longe de configurar uma política inteligente, não passa de cabo de guerra ou jogo de Ping Pong, nos quais ninguém sai do lugar.

Algo semelhante se passa com as palavras “genocida” e “genocídio”, que, no mesmo dicionário, apresentam as seguintes definições: (1) “genocida” é (1,1) relativo a genocídio ou (1.2) que ou quem perpetra ou ordena um genocídio; (2) “genocídio” é (2.1) extermínio deliberado, parcial ou total, de uma comunidade, grupo étnico, racial ou religioso, (2.2) destruição de populações ou povos, (2.3) aniquilamento de grupos humanos, que, sem chegar ao assassínio em massa, inclui outras formas de extermínio, como a prevenção de nascimento, o sequestro sistemático de crianças dentro de um determinado grupo étnico, a submissão a condições insuportáveis de vida.

Novamente, cabe indagar se configura genocídio: (1) bombear populações civis desarmadas, assassinando mulher e crianças, com base em textos supostamente sagrados, mas bárbaros por natureza, com vistas a exterminar possíveis descendentes, evitando, assim, pretensas retaliações futuras; (2) durante epidemias letais, iludir a população com medicações ineficientes, tais quais chá de palha ou supositório de beterraba, provocando, com isso, a morte de milhões de pessoas; (3) abandonar cidadãos honestos e trabalhadores em favelas sem água encanada, saneamento básico, saúde e ensino, para, depois, lançar assassinos, fortemente armados, com vistas a dizimar, novamente, mulheres e crianças; (4) estourar, covardemente, duas bombas atômicas sobre populações civis e indefesas; (5) linchar minorias sexuais em nome, novamente, de seitas macabras movidas por cleptocracias, ou seja, lideradas por ladrões, capazes de ostentar, descaradamente, relógios de pulso de R$398.000,00. Desavergonhadamente, ainda na boca de latrina dos fascistas, todas essas barbaridades recebem os nomes de defesa da liberdade, medidas de segurança nacional, teologia da prosperidade, justa preservação da tradição, da família e da propriedade.

Com base naquelas definições, se um débil mental feito Charles Manson foi responsabilizado por ordenar o assassinato de 7 pessoas, o que dizer de presidentes feito Harry Truman, ditadores semelhantes a Adolf Hitler ou primeiros-ministros como Benjamin Netanyahu, responsáveis pelo extermínio, respectivamente, de milhões de japoneses, eslavos e palestinos? E no Brasil, como fica, em meio a políticos direitistas e supostos profissionais de medicina, quem recomendou medicamentos totalmente ineficientes, tal qual jejuar em nome de ilusões religiosas, acarretando a morte de, no mínimo, 700.000 pessoas – isto é, em números, menos do dobro do valor do relógio de pulso ostentado por pastores vigaristas –.

* A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião deste Diário

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