Há 125 anos, no dia 4 de julho de 1899, nascia Benjamin Péret, um dos mais importantes poetas do surrealismo francês. Amigo de André Breton, com o qual fundou o movimento surrealista na França, foi ainda um destacado militante trotskista e teve passagens pelo Brasil aonde analisou a “makumba” em artigos publicados em jornal, além de ter participado ativamente na Liga Comunista de Oposição.
Sobrevivente da Primeira Guerra Mundial, filiou-se ao movimento dadaísta logo na sequência. Não demorou para que Péret rompesse com o movimento dadaísta e, junto a André Breton, Louis Aragon, Philippe Soupault e Paul Éluard, fundasse o surrealismo, movimento artístico que “sublinha o valor da arte sem a intervenção limitadora da razão e a preponderância do inconsciente na comunicação do indivíduo com o todo que o cerca”, como define a revista Movimento.
Foi em 1927, com o sentimento de transformar a sociedade por meio de uma revolução social, que o poeta se filia ao Partido Comunista Francês, onde não demoraria para que criticasse o processo de stalinização do partido, que acabou transformando todo o esforço dos trabalhadores em uma ditadura. Vale ressaltar que Péret foi um dos fundadores da Oposição de Esquerda na França.
De acordo com o professor da Sorbonne Université Michel Riaudel, a relação do poeta com o Brasil foi além do interesse de artistas franceses do início do século XX pelo “primitivo”. De forma prática, ele descreve suas duas passagens pelo país como uma mistura de engajamento político, escolhas estéticas e uma história familiar.
“Surrealista eternamente fiel a Breton e dono de uma fibra anarco-trotskista, Péret ligara-se em 1928 à família Pedrosa Houston. Crítico de arte e militante comunista, Mário Pedrosa havia iniciado sua ruptura com Moscou a partir de 1927. Em Paris, frequentou os círculos surrealistas, onde se aproximou naturalmente de Péret, enquanto que Elsie Houston, sua cunhada, procurava difundir o repertório popular brasileiro. Além dos seus recitais, ela publicou uma notável coletânea de Chants populaires du Brésil (1930). O casamento de Elsie e Benjamin [Péret], em 12 de abril de 1928, emblematicamente teve como testemunhas Heitor Villa-Lobos e André Breton. O casal desembarcou no Brasil em meados de fevereiro do ano seguinte”, esclarece o professor.
Logo que chegou a São Paulo, foi recebido pelos modernistas, apresentou em conferência o surrealismo e se interessou pelas religiões populares, notadamente a “macumba” e o candomblé, conforme descrevem os pesquisadores.
Em artigo publicado no Diário Causa Operária (DCO), João Jorge Pimenta, membro da Direção Nacional do Partido da Causa Operária (PCO), conta a história de seu bisavô, João Costa Pimenta, que teria rompido com o Partido Comunista Brasileiro em 1928 e, ao seu lado, estavam Mario Pedrosa e Benjamin Péret. A atividade política trotskista do poeta francês é fartamente documentada em 1929, quando, por exemplo, aderiu no Brasil à Liga Comunista de Oposição, sendo responsável pela tradução para o português do livro Literatura e Revolução, além de ter militado no sindicato dos corretores.
O poeta se separou de sua esposa, a cantora lírica Elsie Houston, em 1933 e deixou o País. Sua segunda passagem pelo Brasil ocorre somente em 1955, a convite do filho, que não o via desde sua separação. “O segundo período passado no Brasil não foi menos movimentado: em função de várias viagens que levaram o poeta de Manaus a Salvador, passando por São Luís, Fortaleza e o Ceará, Recife, e ainda na trilha de grupos indígenas do Mato Grosso no início de 1956; mas também por causa de uma segunda detenção rapidamente deslindada pelo protesto de cerca de oitenta artistas e intelectuais brasileiros”, relatou o professor Riaudel.
Cabe ressaltar que o Centro Cultural Benjamin Péret (CCBP), localizado na Rua Conselheiro Crispiniano n° 73, no bairro da República, em São Paulo, é uma homenagem a este poeta que teve fundamental importância nas fileiras militantes do País, mas, sobretudo, em sua participação nos movimentos artísticos de vanguarda do começo do século XX. O poeta morreu em 18 de setembro de 1959.