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HISTÓRIA DA PALESTINA

1969: ano da ascensão da guerrilha palestina

A derrota do nacionalismo árabe foi um desastre para o Oriente Médio em geral, no entanto, para a Palestina, liberou caminho para a vitória da ala mais radical dentro da OLP

Em 1969, dois anos após a invasão de “Israel” da Cisjordânia e da Faixa de Gaza, a Organização de Libertação da Palestina (OLP), fundada inicialmente como um grupo moderado ligado ao nacionalismo árabe, foi tomada pela Fatá em sua fase revolucionária. Seu principal dirigente era Iasser Arafat. Esse foi um momento de ascensão da luta pela libertação da Palestina. Isso chamou a atenção da esquerda no mundo inteiro. Ibrahim Ali escreveu para o Socialismo Internacional o texto Palestina: organizações de guerrilha sobre essa realidade ainda em 1969.

O artigo destaca: “em 1º de fevereiro de 1969, a nova Assembleia Nacional da Palestina foi convocada no Cairo para discutir meios de unificar as atividades guerrilheiras palestinas. Em uma reunião preliminar anterior, a al Fatá recebeu trinta e três assentos, a Frente Popular para a Libertação da Palestina doze, as Vanguardas da Guerra de Libertação Popular doze, o Comitê Executivo da OLP onze, o ELP cinco, o Fundo Nacional da Palestina um, as Federações de Estudantes, Sindicatos e Mulheres três, e vinte e oito membros independentes a serem nomeados pelas organizações guerrilheiras. As delegações da FPLP e do ELP não compareceram”.

Iasser Arafat havia se tornado o grande dirigente da luta palestina após a Batalha de Caramé, na Jordânia. O artigo destaca: “a al Fatá, a maior e mais popular organização, dominou a conferência. Iasser Arafat, um líder da al Fatá, foi eleito presidente de uma ‘renovada’ OLP e quatro homens da Al Fatá foram eleitos membros do Comitê Executivo de onze membros da OLP. Assim, parece que a Al Fatá finalmente alcançou pleno reconhecimento dos Estados árabes dentro da estrutura da OLP”.

Naquele momento, a Frente Popular para a Libertação da Palestina (FPLP) já existia e atuava também na OLP: “a menor e mais progressista FPLP está dividida entre os chamados ‘moderados’ e ‘marxistas’. A ala ‘marxista’ da FPLP pede uma revolução ‘proletária’ no Oriente Árabe como um pré-requisito necessário para qualquer solução do problema palestino, embora não tenha realmente avançado nenhuma alternativa internacionalista abrangente ao ‘socialismo’ falso de certos Estados árabes e à visão nacionalista confusa das várias organizações guerrilheiras. Os membros da FPLP têm que trabalhar na clandestinidade na maioria dos países árabes, incluindo o Líbano, que suportou o peso de um ataque israelense ao aeroporto de Beirute por ‘permitir que terroristas responsáveis pelo ataque em Atenas tivessem liberdade de movimento e instalações de treinamento em solo libanês’. Na verdade, na época, vários membros da FPLP estavam nas prisões libanesas”.

O falso socialismo se refere aos governos nacionalistas que usavam a propaganda de serem socialistas, como foi no Iraque. Ao mesmo tempo, ele revela que as organizações de luta do povo palestino já eram perseguidas nos demais países árabes, com destaque para o Líbano. Hoje, com a existência do Hesbolá, isso não acontece mais. As organizações palestinas atuam em conjunto ao Hesbolá no sul do Líbano.

Então, ele toca no grande diferencial que existia nos anos de 1960, 70 e 80, a luta dos palestinos se dava principalmente fora da Palestina. “Os ataques guerrilheiros, embora aumentem em quantidade e qualidade, não foram acompanhados pelo estabelecimento de bases guerrilheiras em territórios ocupados por Israel. Isso não pode ser explicado apenas com base na vigilância israelense e em sua política de represálias massivas (demolição de casas, deportações, prisões em massa e execuções). A maioria dos funcionários civis da Cisjordânia recebe salários duplos – dos jordanianos e israelenses. O tráfego comercial regular entre a Cisjordânia e a Jordânia continua enquanto aeronaves israelenses bombardeiam vilarejos árabes na Jordânia. Os israelenses estão usando uma política de dois gumes – represálias massivas de um lado e concessões do outro. Nenhuma organização guerrilheira apresentou um programa, embora todas clamem por uma luta armada que leve a uma Palestina deszionizada, democrática e binacional”.

As diferenças com a etapa seguinte são muitas. Primeiro, que não mais a Jordânia, mas, agora, a Autoridade Palestina atua como forma de cooptação de um setor da sociedade contra a resistência. Mas o grande avanço foi do Hamas. Ele, e as demais organizações da resistência, agora têm uma base muito forte em Gaza, mas também na Cisjordânia. Para “Israel”, essa situação é muito pior do que durante a primeira etapa da guerrilha. Expulsar a OLP do Líbano e da Jordânia é uma operação muito mais simples do que expulsar a resistência de Gaza.

O artigo destaca o avanço que foi esse Congresso de 1969: “a recente conferência realizada no Cairo representa uma mudança qualitativa no desenvolvimento do movimento de resistência palestino. Durante o período de 1948-67, os governos árabes pareciam, para os palestinos e árabes em geral, ser a principal força capaz de combater a ameaça israelense sempre presente. Essa confiança nos regimes burgueses árabes sufocou qualquer iniciativa palestina em direção a uma ação independente. Assim, qualquer atividade palestina era controlada pelos vários governos árabes e subordinada aos seus interesses. Isso era particularmente o caso do Egito. A guerra de junho, ao expor até certo ponto a corrupção e a falência desses regimes, levou os palestinos a reavaliarem suas posições em relação aos estados árabes. Isso se manifestou em um grande apoio popular às organizações guerrilheiras que, deve-se destacar, operam independentemente dos governos árabes e provaram ser uma ameaça séria e de longo prazo aos israelenses”.

Esse ponto é muito interessante, pois a luta nacionalista palestina avançou quando o nacionalismo árabe, em geral, foi derrotado. O governo de Nasser atuava como uma contenção do radicalismo árabe ao mesmo tempo que era uma expressão do embate dos árabes contra o imperialismo. Essa contradição acabou com sua derrota na guerra de 1967. Os palestinos, então, perceberam que deviam tomar a dianteira. Eles mantiveram a chama do nacionalismo acessa até serem derrotados na década de 1980 por “Israel”.

A segunda fase do nacionalismo começou com a Revolução Iraniana de 1979. Esse nacionalismo religioso deu origem ao Hesbolá, em 1982, e, depois, ao Hamas, em 1987. Ou seja, os palestinos, em quase a totalidade de sua história, estavam em momentos de luta. Os períodos de derrota e arrefecimento do movimento foram curtos. A OLP de Arafat foi um momento importante, o Hamas foi um desenvolvimento dessa luta.

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