Publicada na Folha de S. Paulo nesse dia 22, assinada por Lygia Mariam a coluna “Fins sem princípios” é mais um artigo na imprensa capitalista atacando as pessoas que tomam posição ao lado dos palestinos. A autora não mede palavras:
“Tão repulsivos quanto os ataques do Hamas a Israel foram os comentários que se seguiram à barbárie, inúmeros partindo daquela famosa instituição que há séculos tem o papel de produzir conhecimento e defender princípios civilizatórios como a ética e a liberdade: a universidade.”
Vejam que a lógica de proporção da colunista é parecida com a do Estado de Israel. Este, com um dos exércitos mais poderosos do mundo, bombardeia uma população civil indefesa sob o pretexto de que foi atacado. A colunista iguala a opinião de alguém com as ações militares: “tão repulsivos quanto”.
Por essa consideração desproporcional e absurda compreendemos por que a burguesia imperialista vem há anos fazendo a campanha babaca contra o chamado “discurso de ódio”. Muita gente da esquerda pequeno-burguesa acreditou que a campanha servia para perseguir a direita, e eis que descobrimos que serve mesmo é para pegar as posições da esquerda.
Agora, ter uma opinião sobre o Hamas é tão repulsivo quanto assassinar alguém.
A autora parece indignada com as pessoas que defendem os palestinos e o Hamas. Ela não quer que pessoas pensem diferente dela, então acusa o outro de ser um criminoso repulsivo.
“Ainda pior, parte significativa do respaldo às atrocidades veio de professores e alunos de humanidades, área na qual se espera que pessoas não sejam tratadas como objetos.”
Quem disse que o que o Hamas fez foram atrocidades foi a imprensa capitalista, para a qual a colunista trabalha, foi o imperialismo e o Estado de Israel. Ela repete a propaganda dos que estão ao lado de Israel, os “alunos e professores” defende os que estão ao lado dos palestinos. Estes consideram atrocidades o que Israel faz contra os palestinos.
Mas a colunista acredita que só as “atrocidades” dos outros são repulsivas.
Para nós, por exemplo, defender o Estado de Israel é repulsivo. Não achamos tão repulsivo quanto o que faz Israel contra os palestinos, porque opinião qualquer um pode ter a sua. Mas é repulsivo, sem dúvida. É repulsivo defender um Estado que está promovendo uma limpeza étnica contra uma população indefesa que teve seu território invadido.
O problema da colunista da Folha é que ela acredita que só porque esse jornal capitalista dá espaço para que ela emita suas opiniões, as opiniões contrárias nem deveriam existir. É muita prepotência.
O que ela não sabe é que as opiniões de professores, alunos e de qualquer pessoa a favor da Palestina valem muito mais do que a opinião dela, que só está ali porque defende aquilo que os poderosos estão defendendo.
“é inacreditável que pessoas com diploma universitário resumam a causa palestina ao Hamas. (…) O substrato dessa distorção moral vem de um aspecto do idealismo filosófico, que enfatiza a primazia da mente, das ideias, sobre a realidade material.”
A colunista acredita que defender o Hamas, ou “resumir a causa palestina ao Hamas” é uma “distorção moral” idealista, a “primazia da mente, das ideias, sobre a realidade material”. Isso é o que se chama malabarismo argumentativo. É simplesmente o contrário do que a autora explica.
Quem enxerga o conflito atual de um ponto de vista idealista é ela mesma. Para ela não existe um problema material, não existe história, não existe uma luta em curso há décadas, não existe interesses antagônicos. Para ela, existe a moral.
E essa ideia moral que ela tem do mundo é a que rege todas as suas considerações. Por isso ela não consegue perceber, por exemplo, que a ação do Hamas é a expressão material, concreta, do que estão passando os palestinos.
Se podemos falar em algum momento em moralidade, certamente a única moral justificável na realidade é o direito dos palestinos reagirem da forma como for possível ao massacre que sofrem há décadas. E o Hamas é, sim, uma forma legítima dessa reação e representante dela.