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Hélio Rocha

Possui graduação em Comunicação Social – Jornalismo pela Universidade Federal de Juiz de Fora (2013). Atualmente é repórter de meio ambiente e direitos sociais em Plurale em Revista e correspondente em Pequim.

É Brasil

Se nem Pelé nem Senna, quem dirá Villa-Lobos

Se nem a maestria esportiva, quem dirá a literatura, a ciência, a música

Não é preciso muita observação para concluir que o Brasil abandona seus heróis. Sejam aqueles que construíram o país, Dom Pedro I, Pedro II, os Bandeirantes e os jesuítas, até aqueles que moldaram a sua cultura, como Machado de Assis, Villa-Lobos, Santos Dumont, Tom Jobim. 

De alguma maneira, todos eles, em algum momento, foram desmerecidos ou até vilanizados. Pedro I, o príncipe banana que fez a independência se esvaindo em fezes. Pedro II, o nefelibata leniente com seus mantenedores escravistas. Bandeirantes como cruéis carniceiros de indígenas e negros imolados. Machado de Assis, um negro que se quis branco. Villa Lobos, “quem?” Santos Dumont, “uma pena que os Wright fizeram antes…”, Tom Jobim, elitista.

Mas eis que esta chaga começa a atingir unanimidades da cultura contemporânea do Brasil. Ambos desportistas. 

Pelé, o maior atleta (não apenas jogador. Atleta) de todos os tempos, que levantou multidões desde seu país aos campos da Europa, cortando o mundo transversalmente, dos Estados Unidos a Botswana ou Indonésia, de países apaixonados pelo futebol às culturas do críquete, não deve ser defendido em sua primazia, pois isso foge à imparcialidade. E assim, toma-se como natural uma discussão delirante de que Maradona, jogador de brilho curto (intenso, é verdade), mas restrito ao fim dos anos 1980, poderia ter sido melhor que ele. Um jogador que, além de tudo, foi pego no anti-doping, o que deveria lançá-lo ao ostracismo por questões éticas.

Maradona não foi melhor que o Garrincha, quem dirá Pelé. Como prêmio de consolação aos argentinos, pode sobrar uma comparação honesta entre Maradona e Ronaldinho Gaúcho, com carreiras muito parecidas, mas Ronaldinho sem o doping.

Messi pode, ao menos, ser levado mais a sério. Mas para por aí. Não fez 1200 gols como Pelé (dos quais a Fifa garfou 500, para equilibrar as coisas. Só esqueceu que os gols não deixam de existir). Suou sangue para ganhar uma Copa do Mundo (Pelé ganhou três, sendo a primeira aos 17 anos e com golaço na final). Mas, ok, manteve-se em alto nível e protagonizou maravilhosas jogadas por quase 20 anos. Pode ser que lhe seja razoável o segundo posto.

Pelé não está sozinho. Aquele que seria o segundo maior atleta brasileiro na história também é desmerecido. 

Ayrton Senna, o maior piloto de todos os tempos, gênio inatingível de peripécias impossíveis e inigualáveis (chegar ao pódio no ano de estreia, com um dos piores carros do grid. Vencer sua primeira corrida debaixo de uma chuva que não deixava os adversários manterem-se em linha reta. Vencer correndo por mais de dez voltas com apenas a sexta marcha. Sair de quinto para primeiro numa só primeira volta. Tornar-se ídolo de primeira grandeza em dois países, Brasil e Japão), não pode ter sido o melhor porque as estatísticas lhe são desfavoráveis.

Como se Hamilton, Vettel, Schumacher, ou quem quer que seja, não tenham sido favorecidos pela absurda financeirização de um esporte já elitizado, que distanciou as maiores equipes das pequenas e médias, e frequentemente permite que apenas um carro domine a categoria por anos consecutivos, o que Senna jamais teve em suas mãos. Com frescuragens como muros de espuma e gaiolas para o cockpit dos pilotos, para eles não se machucarem. Não é mais preciso coragem.

Sem feitos, sem carisma, sem audiência real, empilham resultados vazios. Senna venceu três títulos e ganhou 41 corridas quando as corridas eram corridas. Quando os carros pareciam os nossos, o sujeito via a McLaren e sentia Senna no seu Santana 91. Quando a Fórmula 1 era um campeonato mundial, e não um show business de marcas de carro e latinhas de energéticos. Senna é o maior da história, porque a história daquele esporte acabou. Restou um pastiche.

“Ah, mas o Senna era burguês”. “Ah, ele votaria no Partido Novo”. Não interessa. Ele era o Brasil. E, como brasileiro, sabia que o burguês daqui não é o mesmo que o burguês de lá. Botando o pé no 747 da Varig a caminho de Mônaco, ele sabia que esperavam por ele cartolas e patrocinadores sedentos por tirar-lhes as vitórias e transferi-las para um certo francês. Não conseguiam. O talento do esportista brasileiro era infinitamente superior ao dinheiro europeu. 

O Brasil, ao lado de Cuba, tem a maior cultura esportiva do mundo. Não há esporte de verdade, aqueles que existem no coração das pessoas, em que o Brasil não tenha sido campeão mundial. Não estou falando da prova de caiaque T64 até 60 kg, com remos de carvalho oco. Essas mil categorias de esportes incompreensíveis em que os países ricos derramam dinheiro para enfileirar medalhas olímpicas. Falo de corridas de carros, lutas, futebol, vôlei, basquete. Exceção seria o rugby, segundo esporte mais popular do mundo, em que nós, dos países oprimidos, contamos com o sucesso da África do Sul. 

Mas nem a tão vitoriosa cultura esportiva brasileira merece nosso próprio reconhecimento. Mesmo tão midiática, de tão fácil compreensão pelo povo trabalhador, não pode ser entendida como mostra da excelência brasileira.

Com o que eu concluo: se nem a maestria esportiva, quem dirá a literatura, a ciência, a música. Como diz o Ricardo Kotscho: “vida que segue…”

* A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião deste Diário

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