Após mais de sete décadas de ocupação ilegal do território palestino pelos sionistas, a qual só se manteve através de muito massacre, violência e perseguição – tudo isso financiado, apoiado e acobertado pelo imperialismo mundial, os palestinos conseguem reagir da forma mais bem sucedida em sua história. No entanto, um setor da esquerda pequeno-burguesa se mostra simplesmente incapaz de apoiar a luta desse que é o povo mais martirizado de todo planeta, contra um estado fortemente armado e criminoso.
É o caso do psolista Vladimir Safatle, que publicou uma matéria com o título “O suicídio de uma nação e o extermínio de um povo” no sítio Brasil 247. Nela, Safatle quer demonstrar que o grupo Hamas “não será destruído porque ele tem um sócio que precisa dele para sobreviver, e esse sócio é Benjamin Netanyahu”.
A primeira questão que se coloca é: por que Safatle está interessado em debater a destruição do Hamas, um grupo que se organiza para levar adiante a luta de um povo oprimido contra seus opressores? Para alguém que se considera de esquerda, a discussão deveria ser a de combater aqueles que oprimem os palestinos, pedindo a dissolução imediata do estado de Israel e o fim da ocupação ilegal das terras palestinas.
Safatle considera que o problema do conflito palestino é que “diante dele todos param e preferem nada fazer, até que explode algo terrível, como os ataques perpetrados pelo Hamas (…)”. Não se trata de que ninguém faz nada a respeito do conflito palestino, muito pelo contrário. O problema é que o imperialismo e seus capachos, a todo momento, procuraram aprofundar o massacre do povo palestino ao longo de todos esses anos. Os governos dos países imperialistas fornecem armamentos de última geração para os sionistas, além de acobertarem todos os seus crimes em todos os meios internacionais e na sua imprensa. Se fosse simplesmente uma questão de que todos “preferem nada fazer”, haveria até uma perspectiva para os palestinos, que se apoiariam na solidariedade do mundo árabe, infinitamente maior do que os sionistas que ocupam aquelas terras ilegalmente.
Além disso, é preciso chamar a atenção para a desonestidade e canalhice de alguém que afirma que os ataques perpetrados pelo Hamas são “algo terrível”. Aqui se vê novamente a esquerda colocando-se totalmente a reboque das mentiras exportadas pelos serviços de inteligência do exército israelense, que inventaram a história dos “ataques terroristas” do Hamas.
Recentemente, o Hamas libertou duas reféns israelenses que foram capturadas durante sua incursão no dia 7 de outubro. As duas mulheres, já de idade avançada, relataram para a imprensa o tratamento que receberam dos supostos “terroristas” do Hamas: elas não foram agredidas, foram alimentadas com a mesma comida que era dada para os militantes do grupo, tinham atendimento médico periódico, incluindo atenção de mulheres que compreendiam as particularidades da saúde e higiene femininas, além de terem sido mantidas em locais higienizados e confortáveis – na medida do possível – durante todo esse período.
Esse relato incontestável, que incomodou profundamente a imprensa capitalista mentirosa, é uma prova de que toda a tentativa de retratar os militantes do Hamas como um bando de psicopatas que realizaram algo que Safatle classifica como “terrível” é uma mentira descarada utilizada pelo imperialismo para justificar o genocídio dos palestinos.
Diante disso, é vergonhoso ver alguém associado à esquerda nacional, propagandeado a ideia de que os membros do Hamas teriam feito coisas terríveis em território israelense no dia 7 de outubro. Uma afirmação que não tem comprovação nenhuma na realidade e que é apenas a repetição da propaganda da imprensa imperialista mentirosa.
Outra coisa que chama atenção é que Safatle, ao longo de seu texto, não demonstra considerar “terrível” os ataques do governo israelense – armado até os dentes pelo imperialismo – contra os civis palestinos. São quase 6 mil mortos desde o começo do conflito e mais da metade deles são mulheres e crianças. Os bombardeios contra hospitais, mesquitas, igrejas, escolas, prédios residenciais, além do cerco ao território da Faixa de Gaza, impedindo a entrada de luz, água, comida e suprimentos para o povo palestino, não são passíveis da condenação moral do psolista.
A única preocupação de Safatle é em demonstrar que “todas as tentativas de aniquilar militarmente o Hamas só aumentaram sua força, pois tais ações militares criaram o quadro narrativo ideal para que ele aparecesse, aos olhos de grande parte dos palestinos, como representante legítimo da resistência à ocupação”. No entanto, não se trata de um problema de “quadro narrativo”, seja lá o que isso signifique para o professor doutor. Trata-se de uma situação real em que a única possibilidade de reação dos palestinos é através da força, a qual deve ser apoiada pela esquerda e por todas aquelas pessoas que se consideram de luta ao redor do planeta.
Por fim, é preciso desmantelar a ideia de que a ofensiva bem sucedida do dia 7 de outubro tenha sido realizada apenas pelo Hamas, embora este seja o grupo com posição mais importante na situação atual. Há vários outros grupos envolvidos no conflito, como o grupo Jihad Islâmica, o Fatah e a Frente Popular para a Libertação da Palestina. Trata-se, na realidade, de uma iniciativa armada que diz respeito a todas as principais forças políticas do povo palestino. É uma luta apoiada pela maioria dos palestinos.
A incapacidade de Safatle de se colocar ao lado da luta dos palestinos, procurando simplesmente especular sobre as possíveis soluções inúteis que a “comunidade internacional” poderia dar ao problema é um demonstrativo de que setores da esquerda pequeno-burguesa não estão interessados em se colocar frontalmente contra o massacre criminoso realizado pelo imperialismo e pelos sionistas. Colocam-se, dessa forma, como cúmplices de todos os crimes de Netanyahu e de Israel, embora não estejam dispostos a apoiá-los de forma aberta.