Em editorial, o jornal O Globo resolveu condenar Lula por abandonar os pobres, isso porque o presidente anunciou, no podcast da EBC, na última terça-feira (13), que o programa Minha Casa Minha Vida será expandido de maneira a atender setores de classe média. Essa medida é apresentada pela imprensa golpista como uma traição aos setores que mais precisam de moradia, mas não se pode ter dúvida alguma de que não se trata de defender os interesses destes setores. O medo da burguesia é que Lula amplie sua popularidade e seu governo conquiste o apoio da classe média.
O jornal porta-voz da burguesia buscou atacar a proposta de ampliar o limite de renda das famílias de R$ 8 mil para R$ 12 mil. O argumento apresentado foi que o programa MCMV sempre teve como objetivo combater o deficit habitacional, que teria passado de 5,6 milhões de domicílios em 2011 para 6,1 milhões em 2019, segundo estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). E que 80% do deficit habitacional se concentraria em famílias com rendimentos de até 3 salários-mínimos e que 60% delas ganham até R$ 1800.
Em primeiro lugar, não há qualquer preocupação real com as famílias que vivem em habitações precárias e/ou áreas de risco, bem como com àquelas que pagam aluguel. O golpe de estado, que foi promovido também pelo conjunto da imprensa tradicional, aprofundou ainda mais os problemas sociais do país como o desemprego, a miséria e a fome. Os governos golpistas de Michel Temer e Jair Bolsonaro destruíram quase que por completo os programas sociais, incluso o MCMV.
Outra questão que deveria ser considerada é sobre a perda de poder aquisitivo das famílias de classe média, bem como a inflação real do custo da construção civil para atacar o aumento do limite da faixa de renda do programa.
O jornal golpista defende que nem mesmo se os cofres públicos estivessem jorrando dinheiro tal política deveria ser colocada em prática, tendo em vista os problemas apresentados. Assim, Lula estaria fazendo politicagem barata da mesma forma que teria acontecido ao garantir subsídios para aquisição de carros populares. Tudo seria parte de um cálculo político do presidente.
Na realidade, não há nenhuma preocupação com a parcela mais pobre da população, mas sim o medo de que Lula conquiste o apoio da classe média, cuja maioria constitui base eleitoral de Bolsonaro. A classe média, como classe que flutua entre os trabalhadores e burguesia, ora pendendo para um lado, ora para outro, tende sempre a ser utilizada pela burguesia contra os trabalhadores e seus representantes, para mantê-los na linha e, até mesmo, derrubá-los por meio de golpes. Assim, é fundamental à burguesia que Lula permaneça sem o apoio da classe média.