O correspondente internacional e colunista de O Globo, Guga Chacra inovou em sua coluna publicada no jornal golpista no último dia 10. Intitulada “Terroristas de Hamas não representam a Palestina”, Chacra defende a excêntrica tese de que “o grupo terrorista Hamas é uma ditadura ultrarradical religiosa na Faixa de Gaza”, e que “quem representa oficialmente os palestinos é a Autoridade Palestina, dominada pelo Fatah, que é inimigo do Hamas”. Ora, antes de mais nada, o que existe de Estado palestino é regido por uma república parlamentarista, onde o partido predominante é o Hamas, com 74 cadeiras das 128 existentes no Conselho Legislativo da Palestina, ou seja, mais de 57,8% do parlamento palestino é de um partido que, segundo Chacra, “não representa os palestinos”.
É possível ver também um forte componente esquerdista em outro argumento apresentado pelo jornalista, segundo o qual, o Hamas é uma “ditadura religiosa”. É comum vermos algumas posições ultra-esquerdistas em relação a determinados conflitos, onde a questão nacional é colocada em segundo plano diante da afinidade ideológica com os grupos em luta.
Nessas ocasiões, o golpe retórico se dá por meio de expedientes como o já famigerado “nem-nem”, onde se nega apoio aos dois grupos em conflito, em favor de um terceiro elemento que não está na disputa de maneira concreta, o que acaba sendo favorável ao setor opressor da disputa em análise. É o que tenta fazer Chacra.
O que os militantes, simpatizantes e representados pelo Hamas acreditam, é preciso dizer, não tem importância alguma perto do que estão fazendo. Mesmo que digam defender um regime orientado pela mais estrita observância das regras muçulmanas, para concretizar sua política, precisarão se enfrentar com o enclave imperialista de Israel e ao agir – como estão agindo – de maneira consequente, criarão condições para impulsionar a libertação do martirizado povo palestino e o fim da opressão brutal enfrentada pela população, vítima constante da política genocida do Estado nazista de Israel.
Guga Chacra diz “já condenei uma série de vezes a ocupação israelense dos territórios palestinos e também a violência de colonos na Cisjordânia. Assim como condeno os atentados terroristas do Hamas”, porém, pelas suas colocações, fica evidente que a suposta condenação a Israel é, na melhor das hipóteses, a de um diletante, pouco ou nada preocupado com a sorte dos palestinos. Se estivesse de fato, estaria apoiando quem está liderando a reação palestina à opressão que diz repudiar, não o grupo político passivo diante da barbárie israelense contra os palestinos.
Há uma contradição em termos na posição de quem se diz “defensor da causa palestina”, mas opõe-se a quem efetivamente luta por ela. Isso porque não é o Fatah ou qualquer outra organização que está levando adiante a luta pela libertação dos palestinos, mas efetivamente o Hamas.
O global prossegue defendendo que alguém “pode ser um defensor da causa palestina, e eu sou, sem apoiar terroristas como os do Hamas”. Trata-se de uma chantagem óbvia direcionada aos setores mais confusos da esquerda, para serem como o cínico jornalista global, tal como ele pede: tudo, menos “defensores da causa palestina”.
Nesse ponto, chegamos ao objetivo da coluna: chantagear o esquerdista pequeno-burguês leitor de O Globo de modo a isolá-lo das amplas massas em todo o planeta, que vão às ruas das principais cidades do mundo, para manifestar seu apoio à luta organizada pelo Hamas e contra Israel. Como assumir a defesa do nazista Estado de Israel ainda é um tabu demasiadamente pesado para a esquerda, o jeito foi apelar para Guga Chacra e o resultado foi um apoio velado à passividade diante da opressão israelense muito mal-disfarçado.