Por quê estou vendo anúncios no DCO?

Exploração intensa

Qual a importância econômica do Gabão para a França?

Após quatro décadas de saque, a França esgotou as reservas de urânio do Gabão; há nove décadas, rouba o petróleo e o gás; 50% de seu manganês vem do Gabão

Na última quarta-feira (30), houve mais um golpe de Estado na África. Desta vez, no Gabão. Militares depuseram o presidente Ali Bongo logo após a divulgação do resultado das eleições presidenciais. O evento foi rechaçado imediatamente pela França e pelo conjunto dos países que dominam a ordem mundial, já dando forte indicativo de que Ali Bongo era um presidente lacaio do imperialismo, em especial do Francês.

Ali Bongo chegara ao poder no ano de 2009, logo após a morte de seu pai, Omar Bongo, quem havia sido presidente do país desde de 1967, tendo sido colocado no poder pelo imperialismo francês, sendo seu serviçal durante as três décadas que se seguiram.

Ao longo dos anos de sua dominação sobre o Gabão, a França teve de abdicar parte de sua rapina neocolonial para o imperialismo norte-americana, de forma que Ali Bongo fora, durante seu mandato, um agente do governo Barack Obama na África, conforme já relatado por esse Diário:

Ali Bongo, o “homem de Obama na África”

No entanto, isto não significou o fim do imperialismo francês no Gabão. Muito pelo contrário. A França segue espoliando o país africano, escravizando seu povo e saqueando seus recursos naturais.

Durante muitos anos, o Gabão foi conhecido como o país PUM, sigla que se refere às suas principais matérias-primas de exportação (Petróleo, Urânio e Manganês).

A França sempre fora a principal beneficiária dessas exportações.

Por quase quarenta anos,  de 1960 a 1999,  o imperialismo francês explorou e minerou o urânio gabonês até esgotar todo esse recurso natural. Os primeiros depósitos do metal foram descobertos em 1958, na cidade de Mounana, por geologistas da Comissão de Energia Atômica Francesa (CEA). No mesmo ano, foi formada a Companhia das Minas de Urânio de Franceville (terceira maior cidade do Gabão, e localizada a menos de 80 km de Mounana).

Em 1968, foi descoberta o que seria a principal mina gabonesa de urânio. Os depósitos foram encontrados na região de Oklo. Enquanto que no auge da rapina imperialista o país africano estava produzindo 28 mil toneladas de urânio, 14 mil delas advinham de Oklo.

Durante os anos de saque do urânio gabonês, a COMUF foi a principal subsidiária da exploração e mineração do metal. Enquanto o governo do país africano detinha apenas 25,8% da companhia, os restantes pertenciam à francesa Cogema (Companhia Geral de Materiais Nucleares). Esta, por sua vez, eventualmente tornou-se a Areva NC e, então, a Orano Cycle, todas empresas controladas pelo capital imperialista francês, seja privado ou estatal. Para aqueles que acompanharam as matérias publicadas neste Diário sobre o golpe no Níger, a Orano também é a principal saqueadora do urânio desse país.

Vê-se, portanto, que durante quatro décadas o imperialismo Francês roubou as minas de urânio gabonenses, de forma a esgotar todo esse recurso natural.

Mas o metal não foi a única matéria-prima saqueada pela França.

Outros minérios continuaram a ser roubados do povo. Dentre eles, o principal é o manganês. Mostrando que o imperialismo francês continua firme e forte em sua espoliação, 50% do manganês exportado pela França vem do país africano, no qual se localiza, atualmente, a maior mina produtora do minério no mundo. Essa mina é controlada pela mineradora e metalúrgica francesa Eramet.

A Eramet, junto da TotalEnergies, é uma das duas principais empresas do imperialismo francês atuando no Gabão.

A TotalEnergies (outrora Elf Aquitaine) é uma empresa de energia. No Gabão, sua principal exploração é o petróleo e o gás natural existente no país, sendo o país africano o quarto maior produtor na África Subsaariana (segundo informações do Banco Mundial). Conforme o sítio da TotalEnergies, a empresa é, igualmente, a principal revendedora dessas matérias primas, saqueando o país há mais de 90 anos.

Outrora serviu à França como a principal bomba de extração de riquezas do continente africano.

A empresa explora, diariamente, 17 mil barris de petróleo, uma grande quantidade, levando em consideração o tamanho do país e o de sua população, pouco mais de 2 milhões de pessoas (menos do que algumas capitais do Brasil).

Contudo, a Total não é a única petroleira francesa a atuar no Gabão. Há também a Maurel e Prom, e a Perenco, que vêm comprando campos de petróleo em estágio avançado de depleção, a fim de continuar o saque até não sobrar uma única gota de petróleo.

Até o fim do governo de Ali Bongo, serviçal do imperialismo (o francês incluso), 18% de toda a receita arrecadada com a exportação do petróleo gabonês ia parar nos bolsos do ex-presidente, o próprio Ali Bongo. Um claro caso de corrupção em benefício do imperialismo. O país, por sua vez, ficava com 25% desse total, enquanto que a França ficava com o restante (57%). Clássico exemplo de como funciona a rapina do imperialismo sobre os países oprimidos.

Mas não é só. A maior parte da exportação de madeira do Gabão vai para as mãos da França (cerca de 45%). E não é de hoje que o imperialismo francês lucra com o roubo de mais essa matéria prima. Vêm desde antes da independência formal do país.

O primeiro presidente eleito do Gabão foi Léon M’ba. Antes de ser presidente, ele fora nomeado vice presidente do governador francês do gabão (enquanto ainda era colônia), de forma que antes mesmo da independência ele ocupava uma posição central no Estado gabonês. Sua nomeação se dera por ser uma pessoa intimamente ligada à extração de madeira no país, um importante produto de exportação, sobre o qual a França possuía grandes interesses econômicos. Ele foi eleito em 1961, nas primeiras eleições presidências após a independência forma. Por óbvio, as eleições foram controladas pelo imperialismo francês. Fizeram parte do golpe dado pela França para que o processo de independência do Gabão fosse estritamente controlado, de forma a manter o país Africano econômica e politicamente dependente da França (apesar de sua independência formal).

Não é coincidência que antes da eleição de M’ba, o Gabão foi forçado a firmar 15 acordos de natureza econômica e política, de forma a manter o país dependente da França, conforme já relatado por este Diário.

Os acordos que mantiveram o Gabão submisso à França por décadas

M’ba fora presidente até 1967, sendo sucedido por Omar Bongo (seu vice), igualmente lacaio do imperialismo francês. Permaneceu no cargo até 2009, quando foi sucedido por seu filho, o ex-presidente deposto Ali Bongo.

Vê-se, portanto, a íntima ligação entre o imperialismo Francês e a economia do Gabão, ligação esta que vem desde a época colonial, passando pela independência formal, e permanecendo até os dias presentes.

Atualmente, os interesses econômicos franceses estão centrados na mineração, em especial do manganês; e na produção de petróleo e gás. Assim, de todas as 81 empresas francesas atuantes no Gabão, a Eramet e a TotalEnergies são as mais importantes.

Por outro lado, essas 81 empresas estão presentes em todos os principais setores da economia gabonesa (salvo o setor bancário).

Nesse sentido, outras importantes empresas francesas que operam no país, além da TotalEnergies e da Eramet são a Bourbon (também no ramo do petróleo); a Air France; a Eiffage e Colas (serviços públicos); a Air Liquide (gases industriais); a CMA CGM (remessa de produtos); a Meridiam (fundo de investimentos em infraestrutura) e a Havas e Canal (imprensa).

Diante disto, resta claro que o imperialismo francês continua profundamente dependente do saque de matérias primas do Gabão e de outros países africanos. Infelizmente, a França, através de quatro décadas de roubo, conseguiu esgotar as reservas gabonesas de urânio.

Felizmente, no entanto, há um novo turbilhão de movimentos nacionalistas se formando na África, o que fica demonstrado pelos recentes golpes de estado no continente. À primeira vista, o golpe no Gabão faz parte desse movimento. E, muito embora ainda não esteja claro qual rumo o novo governo tomará, é certo que, mesmo que continue a manter relações diplomáticas com a França, não será nos mesmos termos que o governo de Ali Bongo. Mesmo a menor modificação das relações econômicas entre ambos os países, tendo a prejudicar a estabilidade da economia francesa.

Assim, é fundamental o apoio a esse movimento de caráter nacionalista, quer ele se manifeste via uma revolução, quer por um golpe militar de características progressistas (sim, isto existe). Afinal, quanto mais esse movimento crescer, maior a desestabilização do imperialismo no continente africano e do enfraquecimento de sua ditadura mundial, de forma a acelerar a derrota final do imperialismo. Antes que esgote mais recursos naturais dos países oprimidos.

Gostou do artigo? Faça uma doação!

Apoie um jornal vermelho, revolucionário e independente

Em tempos em que a burguesia tenta apagar as linhas que separam a direita da esquerda, os golpistas dos lutadores contra o golpe; em tempos em que a burguesia tenta substituir o vermelho pelo verde e amarelo nas ruas e infiltrar verdadeiros inimigos do povo dentro do movimento popular, o Diário Causa Operária se coloca na linha de frente do enfrentamento contra tudo isso. 

Diferentemente de outros portais , mesmo os progressistas, você não verá anúncios de empresas aqui. Não temos financiamento ou qualquer patrocínio dos grandes capitalistas. Isso porque entre nós e eles existe uma incompatibilidade absoluta — são os nossos inimigos. 

Estamos comprometidos incondicionalmente com a defesa dos interesses dos trabalhadores, do povo pobre e oprimido. Somos um jornal classista, aberto e gratuito, e queremos continuar assim. Se já houve um momento para contribuir com o DCO, este momento é agora. ; Qualquer contribuição, grande ou pequena, faz tremenda diferença. Apoie o DCO com doações a partir de R$ 20,00 . Obrigado.

Apoie um jornal vermelho, revolucionário e independente

Em tempos em que a burguesia tenta apagar as linhas que separam a direita da esquerda, os golpistas dos lutadores contra o golpe; em tempos em que a burguesia tenta substituir o vermelho pelo verde e amarelo nas ruas e infiltrar verdadeiros inimigos do povo dentro do movimento popular, o Diário Causa Operária se coloca na linha de frente do enfrentamento contra tudo isso. 

Diferentemente de outros portais , mesmo os progressistas, você não verá anúncios de empresas aqui. Não temos financiamento ou qualquer patrocínio dos grandes capitalistas. Isso porque entre nós e eles existe uma incompatibilidade absoluta — são os nossos inimigos. 

Estamos comprometidos incondicionalmente com a defesa dos interesses dos trabalhadores, do povo pobre e oprimido. Somos um jornal classista, aberto e gratuito, e queremos continuar assim. Se já houve um momento para contribuir com o DCO, este momento é agora. ; Qualquer contribuição, grande ou pequena, faz tremenda diferença. Apoie o DCO com doações a partir de R$ 20,00 . Obrigado.

Quero saber mais antes de contribuir

 

Apoie um jornal vermelho, revolucionário e independente

Em tempos em que a burguesia tenta apagar as linhas que separam a direita da esquerda, os golpistas dos lutadores contra o golpe; em tempos em que a burguesia tenta substituir o vermelho pelo verde e amarelo nas ruas e infiltrar verdadeiros inimigos do povo dentro do movimento popular, o Diário Causa Operária se coloca na linha de frente do enfrentamento contra tudo isso. 

Se já houve um momento para contribuir com o DCO, este momento é agora. ; Qualquer contribuição, grande ou pequena, faz tremenda diferença. Apoie o DCO com doações a partir de R$ 20,00 . Obrigado.