O PSTU publicou na página da organização internacional, à qual é ligado, a Liga Internacional dos Trabalhadores – Quarta Internacional (LITQI), uma matéria em que mapeia a relação dos partidos da esquerda pequeno-burguesa com o governo Lula, procurando polemizar com todos esses e mostrar qual seria, do ponto de vista do PSTU, a posição correta a se assumir.
Para o PSTU, existem quatro diferentes posições que os partidos da esquerda podem assumir com relação ao governo: o da “esquerda governista” ou “governista com críticas”, que eles colocam na mesma categoria e encaixam o PT e PC do B; a outra seria a da independência política, que eles afirmam ser uma forma de capitulação – nesta categoria encaixam o PCB-RR (racha recente do PCB liderado por Jones Manoel e Ivan Pinheiro) e a ala “esquerda” do PSOL, incluindo aí os recém-saídos do partido do solzinho, a CST; a terceira posição seria a da ala majoritária do PCB e de toda a UP, a de não ter nenhuma política definida com relação ao governo, o que também é um capitulação e por fim, tem a posição que o PSTU reinvindica como a sua: a oposição à esquerda e “luta contra a ultradireita”, o que seria para eles a posição revolucionária.
Exceto pelos partidos que estão inclusos na categoria de “governista”, todos os outros são partidos que procuram sabotar o governo Lula, seja de forma dissimulada ou de forma abertamente golpista, como é o caso do próprio PSTU. Os morenistas do PSTU afirmam que o governo Lula seria “um governo burguês; ou seja, que administra o capitalismo, a serviço dos interesses da burguesia brasileira e internacional”, mas que se apresenta para uma parte da classe trabalhadora como um “governo popular ou até de esquerda”.
O articulista não chega a colocar nesses termos, mas, ao dividir a burguesia em dois blocos: o bloco bolsonarista e o bloco lulista, eles procuram defender a ideia de que o PT seria um partido de direita ou de que o governo seria um governo de direita, uma análise tão incorreta quanto mal-intencionada. Conforme colocado nesse trecho: “[a posição correta seria] construir uma alternativa dos trabalhadores, com independência dos dois blocos burgueses, seja o de Lula ou o de Bolsonaro, é fundamental para o avanço das lutas por nossos direitos, contra a ultradireita e pelo socialismo”.
O PSTU afirma, de forma mentirosa, que eles defenderiam as medidas mais populares propostas pelo governo e que favorecessem a classe trabalhadora, o que nunca se viu na prática. Principalmente no que diz respeito à oposição do governo Lula contra o imperialismo no campo internacional, o PSTU sempre se coloca ao lado dos governos imperialistas. Isso sem falar no fato de que procuram distorcer e pintar tudo o que faz o governo como medidas tão ruins quanto ou até piores do que o que ocorria no período de Temer ou de Bolsonaro, um exemplo disso é a posição deles com relação ao arcabouço fiscal – uma medida que não é nenhuma maravilha, mas que representa apenas uma tentativa do governo de ter algum orçamento para agir sem ser sufocado pelo congresso, o que foi inviabilizado pelo próprio congresso.
Nas críticas que faz a todos os partidos da esquerda pequeno-burguesa, o que transparece no texto é que qualquer crítica que esses agrupamentos possam fazer ao governo é pouco. Para eles, o fato de um partido não querer se colocar abertamente contra o governo seria uma capitulação diante de um suposto bloco da burguesia.
Por exemplo, ao tratar da questão da UP, o articulista diz “(…) a UP consegue escrever jornais inteiros sem sequer citar o nome Lula. Sem contar que participou da Equipe de Transição do governo, está no Conselho de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável (chamado de Conselhão) e há vários militantes seus alocados em gabinetes de parlamentares petistas”. Ou seja, qualquer associação com o PT já é tratada como uma espécie de crime político.
Isso se torna ainda mais sério nas críticas dos morenistas ao PSOL. Sobre o MES, uma ala que é extremamente crítica ao próprio governo Lula, eles dizem “O problema é que, para o MES, isso [independência política] não significa a defesa da política de nenhum apoio ao governo. Defendem, na verdade, ‘apoiar as coisas boas do governo e criticar as coisas ruins’.”
É preciso, por fim, chamar a atenção para a principal falsificação do PSTU em todo esse texto, que é a afirmação de que “Se o governo Lula for atacado por uma ameaça golpista autoritária, também não teremos dúvida de nos colocarmos contra isto”. No entanto, isso já aconteceu no passado com o governo Dilma e o PSTU foi a linha de frente de ataque contra o governo vindo da esquerda, saíram às ruas junto com a direita, com materiais dizendo “fora todos!”, onde estava destacada a foto de Dilma, ao lado de Lula, Temer e outras figuras.
O amálgama que o PSTU faz, ao colocar o PT em posição de equivalência aos partidos da direita, é um erro crasso de análise. Ao não levar em conta o caráter de classe do governo petista – um governo burguês e pequeno-burguês, mas que se apoia sobre um amplo setor da classe operário – acaba favorecendo a posição da burguesia e do imperialismo, que têm a intenção de derrubar o governo se possível.
O PSTU também convida a CUT e a UNE a se rebelarem e a romperem com o governo, o que é impossível, mas que se acontecesse, seria a receita para a derrubada imediata do governo pelo imperialismo. Nesse sentido, o PSTU assume uma política de frente com os golpistas, procurando sabotar e enfraquecer o governo a cada dia.
Aqui não é uma questão de “defender” ou de “apoiar incondicionalmente” o governo Lula, mas de chamar a atenção para o fato de que é um governo eleito com amplo apoio das massas e contra os golpistas da direita, tendo a possibilidade de ser influenciado a levar adiante uma política que favoreça a classe operária. Além disso, a política do PSTU é tudo o que a burguesia e a direita querem: um racha dentro da esquerda que apoia o governo para vê-lo enfraquecido e poder realizar uma investida golpista contra ele. É preciso denunciar isso amplamente.