A invasão de uma turba bolsonarista contra os prédios dos três poderes (dia 8/1), longe de ter sido um ataque à “democracia” em abstrato, foi, acima de tudo, uma demonstração de força da direita e um alerta para o governo Lula.
Histeria do “terrorismo” e “golpe”
É preciso compreender o que ocorre para deixar para trás a histeria incentivada pela direita, sobre “terrorismo” e as propostas reacionárias de resolver a questão simplesmente por meio da repressão.
Não houve uma tentativa de golpe. Isso não pode ser concretizado apenas com alguns milhares de manifestantes ocupando a sede do governo. Para que um golpe dê certo, é preciso apoio das forças armadas. E as Forças Armadas não queriam dar um golpe imediato. No entanto, elas são precisamente as forças ocultas por trás desse acontecimento. A ala de extrema-direita do Exército, bolsonarista, coordenou a invasão. Foi um aviso ao governo Lula.
Ficou evidente que as forças militares e policiais encarregadas de tomar conta de Brasília colaboraram com a invasão. É sabido que toda a Polícia Militar está aparelhada pelo bolsonarismo, algo natural para uma organização intrinsecamente fascista. O mesmo vale para as demais forças de segurança do Estado, e também as privadas. O Exército, por sua vez, além da ala de extrema-direita em sua cúpula, tem um baixo oficialato de maioria bolsonarista, bem como os soldados rasos.
A ameaça golpista é grave. Mesmo que não a curto prazo. É notório que estes setores não toleram o novo governo.
É preciso uma faxina
A catastrófica reação de setores do governo, como dos ministérios da Justiça, Flávio Dino (PSB), e da Defesa, José Múcio (PTB), revelaram uma perigosa fragilidade do Executivo. O próprio presidente se viu forçado a reconhecer que o palácio do Planalto está infestado de bolsonaristas, diante do que é preciso realizar uma faxina, antes que “os vermes” dominem a situação.
É preciso agir energicamente e rápido. Mas a repressão que foi promovida nos primeiro dias mostrou o governo batendo cabeça e seguindo a iniciativa antidemocrática de setores ultra reacionários e golpistas como o STF.
É um erro absurdo pensar que Alexandre de Moraes e o aparato repressivo do Estado vão afastar o perigo bolsonarista. Tudo o que estão fazendo não passa de jogo de cena.
O Congresso, o Judiciário, a imprensa, a direita tradicional e a famigerada frente ampla serão absolutamente incapazes de mexer uma palha para deter um eventual golpe militar e outras medidas de ataque e desestabilização contra o governo Lula.
Vai ser nas ruas
A única força capaz de conter a sanha golpista é a classe trabalhadora e as suas organizações de luta.
Lula foi eleito pelos trabalhadores do campo e da cidade com amplo apoio entre os sindicatos e organizações dos explorados. São eles que podem e devem defender seu governo contra os ataques da direita.
Após o ocorrido, militantes da esquerda saíram às ruas de várias cidades do País e estão preparando novas manifestações. É evidente que, no entanto, falta ao movimento uma perspectiva própria, independente, que não seja a de apoiar a política repressiva típica da direita.
Os partidos de esquerda (PT, PCO, PCdoB, PSOL etc.), a CUT, os sindicatos, MST, CMP etc., com Lula à frente, devem convocar toda a militância a trabalhar para a realização de um amplo congresso das organizações do movimento popular.
Um encontro que seja o mais democrático e participativo dos últimos anos, para impulsionar uma grande mobilização não só de defesa do governo Lula contra os ataques da direita, mas também de defesa das reivindicações populares, contra os golpistas.
É preciso reorganizar o movimento popular e operário, realizar assembleias nos bairros, municipais e estaduais, reativar os comitês de Luta, preparando o congresso nacional do movimento popular.
É hora de ir aos bairros populares, aos sindicatos, às fábricas e demais locais de trabalho, às escolas e universidades, aos acampamentos e assentamentos no campo, às favelas e cortiços para agitar e organizar o povo para essa luta.
É hora de levantar reivindicações que mobilizem o povo trabalhador como a revogação de todas “reformas” do regime golpista (revogação), reestatização da Eletrobrás e todas as empresas privatizadas; Petrobrás 100% estatal sob controle dos trabalhadores e nacionalização do petróleo para garantir recursos para a Saúde, Educação, Moradia etc., aumento real do salário mínimo e 100% de reajustes de todos os salários, redução da jornada de trabalho, não ao pagamento da dívida pública.