O grupo Resistência, do PSOL, publicou em seu sítio Esquerda Online, no começo de agosto, um artigo intitulado “Para entender as três principais polêmicas do Congresso do PSOL”. A matéria polemiza com outro artigo, “Algumas palavras sobre as polêmicas do PSOL”, publicado na Revista Movimento, do Movimento Esquerda Socialista (MES).
Em seu 8º congresso, o PSOL se apresenta como um partido bastante dividido, ou melhor, ainda mais dividido, pois esse partido mais se assemelha a uma agremiação de tendências que se abrigam sob uma sigla comum.
Já dissemos neste diário que a polarização política faz com que todos os movimentos que se pretendem ao centro, estejam na esquerda ou na direita, acabem sendo atraídos para um dos polos e se esfacelem. O PSDB, na direita, é um exemplo muito claro de um partido que está perdendo seus políticos para o bolsonarismo.
Do lado de cá, na esquerda, vemos o PSOL sendo chacoalhado pelos acontecimentos políticos. Durante 2021, quando se preparava o lançamento da candidatura de Lula para presidente, o PSOL fez o que pôde para inviabilizar o petista. No entanto, a campanha foi ganhando força na base trabalhadora e produziu uma força de atração irresistível que fez com que a direção do partido, mais oportunista e pensando em cargos, aderisse no apagar das luzes à campanha presidencial, e com isso entrasse em choque com outros setores da base e produzisse assim um grande racha.
Em linhas gerais, podemos dizer que o PSOL opõe duas alas: uma que quer independência do PT, e que alega que não se deve pensar apenas em cargos, mas que se alinhou com a Lava-jato; e outra ala mais ‘pragmática’, que defende algo como “o importante é derrotar a extrema-direita”.
O Esquerda Online, que concorda que ‘polêmica’ e ‘confusão’ estão presentes na discussão sobre o balanço do PSOL, acredita que “o partido deu um salto positivo na sua inserção nos movimentos sociais e populares, com a presença forte do MTST e a atuação de destaque na Frente Povo Sem Medo. Nas plenárias, dois temas têm sido apresentados como acordos: a importância de apoiar Lula no primeiro turno para derrotar Bolsonaro e de fazer campanha para Guilherme Boulos em São Paulo. Decisões que se deram no marco da luta contra o golpe, da campanha Lula Livre e da rejeição às posições lava-jatistas (uma crítica ao MES?)”.
O racha fica muito aparente quando lemos que “esses dois temas foram votados no PSOL contra uma expressiva minoria de 42% (…). No percurso do debate interno do partido em 2022, [quando] houve forte polêmica por parte do Movimento Esquerda Socialista e do “campo de oposição” contra o bloco que votou e garantiu ambas as posições, o PSOL de Todas as Lutas. A tese minoritária foi a de que o PSOL deveria lançar um candidato a presidente para demarcar posição, já que o governo Bolsonaro havia derretido e a vitória do Lula era certa”.
O enfoque errado
O debate que o Esquerda Online abre com o MES, na verdade, gira em torno da “necessidade de se derrotar o bolsonarismo”. Em outras palavras, em vez de focar sua política na conquista da classe trabalhadora para a esquerda, ou de buscar que os trabalhadores se conscientizem no embate político, fazendo sua experiência elegendo um candidato do operariado, essa tendência abraça a tese do espantalho.
Para o EO: “Afinal, o destino do PSOL está totalmente relacionado ao destino da classe trabalhadora. E sim, o resultado de uma eleição pode fazer grande diferença: estaríamos mais perto ou mais longe de uma derrota histórica com o Bolsonaro eleito novamente?”. Em seguida, aproveita para criticar de demagogia o MES, que acusa outras alas de só pensarem em cargos: “A suposta ideia de que a tese 3, do PSOL de Todas as Lutas em São Paulo, ao levantar este balanço nas plenárias estaria “na vala comum da partidocracia que só pensa em eleições” além de errada no conteúdo, também é uma contradição com a ideia seguinte, de valorização do papel da campanha presidencial da Luciana Genro. Quando se trata da Luciana Genro tudo muda e não é eleitoralismo?”.
Mais críticas
Os ataques do artigo contra o MES seguem, afirmando que “A segunda polêmica e confusão está no debate sobre como enfrentar a extrema direita, com quais táticas. A necessidade de colocar o combate à extrema direita como a primeira tarefa do PSOL se tornou uma visão comum durante as plenárias em 2023. No entanto, o MES e o “campo de oposição” continuam a rejeitar a tática de Frente Única da esquerda no movimento social. Portanto, romperam com a principal unidade que se formou durante o governo Bolsonaro, o operativo de frentes que reunia a Frente Povo Sem Medo e a Brasil Popular, os principais partidos e movimentos sociais da esquerda brasileira e tentaram emplacar uma articulação paralela (Povo na Rua) que não demonstrou qualquer capacidade de mobilização”.
Como vemos, uma ala que está mais propensa a se unir ao PT acusa a outra de dividir o partido e de não ter capacidade de mobilização.
As coisas não parecem andar muito bem dentro do PSOL. Com a polêmica publicada no Esquerda Online, tem-se a impressão de que estão batendo cabeça, e por isso pedem: “Que os debates nas próximas plenárias possam ser mais generosos com aqueles e aquelas que chegaram agora e ficam horas sentados ouvindo uma plenária com enorme dificuldade de compreender diferenças e polêmicas”.
Por ser um partido pequeno-burguês, o PSOL foi incapaz de dar um apoio incondicional (sem esperar nada em troca) ao governo Lula. Por isso não consegue uma posição independente. Por outro lado, os seus setores mais direitistas puxam o partido em direção a posições golpistas, o que entra em choque com as pretensões dos setores oportunistas, majoritariamente na direção.
O importante dessas divergências dentro do PSOL é demonstrar o valor de se ter uma política clara e independente e que corresponda aos interesses da classe trabalhadora, pois a tendência da situação política e ficar cada vez mais polarizada, não deixando lugar para oportunistas ou golpistas.