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Arte e Progresso

Pelé nas artes plátiscas

Niguém mais do que Pelé foi responsável pela expressão "futebol arte"

Uma obra de arte é uma representação de uma estética de tal jeito que provoca e revela uma interação relacional com o público. Tem a característica de se ligar ao espectador de forma que o coloca como protagonista. O artista produz alguma coisa e convence o espectador de que é ele, espectador, que está ali naquela obra, se tornando parte dela, por isso atrai uns e repulsa a outros.

No caso do futebol, como obra de arte, Gilberto Freyre em seu livro “O Negro no Futebol Brasileiro” destacou a importância desse esporte para a história brasileira, já em 1947. Com a transformação da sociedade, que cada vez se tornava mais urbana, a pelota (como era conhecida a bola de futebol na época) se tornou um elo entre a cidade e a população.  A marginalização foi um elemento primitivo que foi arrastado para dentro da sociedade brasileira durante as transformações ocorridas durante seu desenvolvimento. 

Seleçao (1966), Aldemir Martins, óleo sobre tela. Foto (Reprodução)

O futebol teve uma importância graúda para o desenvolvimento da sociedade brasileira na década de 1930 e se avolumou mais com a Copa de 38, onde teve destaque o futebol brasileiro; a população brasileira teve no esporte sua grandeza representada mundo afora, pois um esporte trazido da Europa, de onde vinha a marginalização do brasileiro, e que, no Brasil, produziu atletas negros que superavam os europeus na habilidade com a pelota.

Caricatura do Pelé, de Alan Souto Maior, acrílica sobre cartão. Foto: (Reprodução)

Em 1958 surge o que foi chamado de rei Pelé, pois a já conhecida habilidade do brasileiro com a pelota foi agigantada com a habilidade do atleta Edson Arantes do Nascimento, tamanha a destreza do atleta aparente, muitas vezes durante o jogo, em confronto com os outros jogadores, principalmente se comparado com os europeus. Essa habilidade, assim como uma obra de arte, levou ao mundo a glória da população negra brasileira nos dribles de Pelé.

Os brasileiros se conectaram ao futebol levando o simbolismo da sua vitória na luta contra a opressão, através da superioridade dos atletas brasileiros. No âmago, quanto mais habilidade se demonstra com a pelota, mais artístico o futebol se torna, mais ele atrai. O futebol, dessa forma, é uma obra de arte nos pés de jogadores habilidosos. Quanto mais jogadas que poucos conseguem fazer, mais público, mais desejo, mais contentamento, mais elementos atingem em cheio o espectador, especulação. Pelé, nesse sentido, aumentou o grau artístico, com a inovação nas jogadas que mostrou.

Rubens Gerchman, 1997

Para Freyre, o que acontecia nos campos de futebol e nas arquibancadas era ao mesmo tempo regido e reitor dos rumos que a sociedade brasileira tomava. O público reage ao esporte como um espectador de uma obra de arte. Algo que se repete em intensidade também no âmbito cultural. Afinal, como disse o autor, o futebol ganhou uma importância especial em uma sociedade que deixava para trás os elementos primitivos e buscava se desenvolver, se superar.

Pelé, Aldemir Martins, 1966. Foto: Reprodução.

A importância do futebol para os brasileiros foi e é muito grande, porém sua representação nas artes nacionais é menor do que poderia se sugerir em grande parte por imposição da burguesia muito sensível à Europa. Não obstante, a identidade nacional brasileira se desenvolveu em paralelo à pelota. As mais variadas manifestações da cultura se anexaram ao futebol, muito notavelmente ou não tão visíveis. O futebol aparece na literatura, no cinema, na dramaturgia, na música, nas artes plásticas. Domina de maneira indireta pois a maneira de falar e de gesticular do brasileiro, neste século e meio quase, é fortemente influenciada pelos jogos.

Pelé, entre fronteiras simbólicas e concretas, extrapolou como ícone para vários artistas plásticos. Entre milhões de admiradores do jogador, o artista visual cearense Aldemir Martins (1922-2006), como em “Pelé” (1966), “Pelé era o jogador mais desenhado e pintado por Aldemir”, como aparece no Instagram do artista. “Aqui é um santuário de uma coisa que existe no mundo: todo mundo joga futebol. Aqui tem o homem que mitificou a camisa 10, um cidadão chamado Edson Arantes do Nascimento. Todo mundo queria ser jogador de futebol com a camisa 10. Mitificou essa imagem que é a bicicleta. Mitificou aquilo que eu considero um dos esportes mais brasileiros, que é o futebol”, diz o artista no registro.

Na mesma época também ganhava notoriedade o trabalho de Rubens Gerchman. O carioca exprimiu sua paixão pelo futebol como poucos, também produzindo intensamente as cenas de bola em seu quadro a partir dos anos 1960. Gostava de contrastar a tensão dos jogadores com a alegria da torcida. “Afinal, o futebol é uma paixão de som, luzes, sentimentos e cores, concentrados no espaço de 110 por 75 metros”, dizia o artista, falecido em 2008. Outro nome contemporâneo é o do paulista Cláudio Tozzi, que dá em seus quadros a representação dos movimentos das partidas.

Domingo, 3 de janeiro de 2016, Pelé 75 anos: uma seleção de 75 artistas que pintaram o Rei em obras de arte. Foto: Reprodução

No dia em que Pelé completou 75 anos foram expostas por 75 artistas as suas obras (imagem acima) do Rei Pelé, bastava esse tipo de manifestação para mostrar que o que Pelé desenvolveu com o futebol é a expressão da sua arte para o público, através de sua habilidade com a pelota nos campos. Os artistas eternizaram momentos do rei Pelé em suas obras, para além do público das arquibancadas dos estádios, para o público das galerias e das telas do mundo inteiro.

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