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Luxemburgo

Para ganhar dos europeus, é preciso jogar como brasileiro

Ao contrário dos acusadores que o chamam de “ultrapassado”, Luxemburgo mostra que, na realidade, é um dos poucos treinadores do mundo que entende, de fato, sobre futebol

Wanderlei Luxemburgo

O atual técnico do Corinthians, Vanderlei Luxemburgo, tem disparado constantemente contra a infiltração europeia no futebol brasileiro. Em coletiva de imprensa na última sexta-feira (5), o professor apontou que seu plano é “resgatar a essência do futebol brasileiro”.

“Eu olho como alguém que sempre modernizou o futebol. O Brasil foi campeão do mundo em cima das nossas características, da nossa essência. O europeu tinha medo da gente. A partir do momento que queremos jogar como na Europa, ficamos iguais a eles e perdemos a diferença que nos fazia ganhar”, apontou.

As características do futebol brasileiro são os dribles e a habilidade no geral. Os europeus, para fazerem frente ao futebol nacional, além da violência, tiveram de se fortalecer em tática e alta intensidade — deixando de lado a questão empírica, do drible. No futebol nacional, atualmente, busca-se implementar esses conceitos. Os clubes nacionais imitam os esquemas táticos europeus, a forma de jogar e deixam de lado a essência que levou o futebol brasileiro ao topo do mundo.

Na Europa, por exemplo, é comum os ataques a jogadores considerados “individualistas”, dribladores, que, além de serem atacados pela imprensa, muitas vezes são oprimidos de jogarem à sua maneira pelos técnicos europeus. Pela quantidade de jovens brasileiros que vão à Europa, tendo em vista que o Brasil é o país que mais exporta jogadores e mais produz craques, essa censura que sofrem no velho continente acaba prejudicando o futebol nacional de maneira geral, emperrando seu desenvolvimento.

“Gosto que existe a modernidade, mas que não prostitui o atleta brasileiro”, denunciou Luxemburgo na coletiva. “A modernidade reside aonde? Na base? Só se preocupar com a tática, esquecendo que o jogador é empírico”, continuou. “O que mudou no futebol? A terminologia? Marcação-pressão, time reativo, sei todos os nomes. Mas temos uma essência. Qual diferença tática? Nenhuma. O que mudou foi a estrutura. A modernidade é ter um atleta mais bem preparado em campo”, disse.

Em outros termos, o futebol ficou mais intenso, mais corre-corre, principalmente pelo melhoramento das condições físicas do atleta. Isso, mesmo sendo positivo de maneira geral, ocasiona problemas essenciais na filosofia sobre o esporte bretão. 

O corre-corre dos atletas modernos, diferente do jogo cadenciado e vistoso de antigamente, faz com que o treinamento dos jogadores seja muito mais focado no físico do que no bê-a-bá do futebol. O próprio Luxemburgo, em entrevista à Jovem Pan, no ano passado, criticou que meninos da base, ao invés de treinarem os fundamentos, ficam “malhando bíceps”.

Os capitalistas, através da especulação imobiliária nas grandes cidades, também ocasionaram uma redução dos campos de futebol nos centros urbanos mais importantes, dificultando o desenvolvimento da juventude, a base do futebol nacional. Os campos de terra batida, que se viam em décadas passadas e eram essenciais para a formação do jogador brasileiro, quase já não existem mais. O jovem brasileiro, que aprendia a dominar a bola, chutar e passar em condições menos favoráveis — o que elevava a qualidade do atleta —, agora precisa entrar na escolinha de algum clube para treinar em um campo perfeito e fazer musculatura. Na Jovem Pan, Luxemburgo, reforçando o que Nilton Santos, “a enciclopédia do futebol”, destacou em sua autobiografia (Minha bola, minha vida) afirmou que a formação dos jovens jogadores deveria ocorrer no terrão, para adaptar os jogadores às adversidades dos diferentes campos e melhorar suas habilidades.

A junção dos fatores faz com que a qualidade geral do jogador profissional tenha diminuído. No entanto, o Brasil continua a única superpotência do futebol mundial justamente porque ainda existem as condições do passado que o fizeram chegar a este nível: nas favelas, nos interiores, etc.

Ainda, ressaltando o argumento de Luxemburgo na coletiva de semana passada, vale destacar que a suposta modernidade tática trazida pela Europa é falsa. O futebol europeu, na verdade, é um futebol burocrático e as “inovações” são esquemas já desenvolvidos no passado, mas com outros nomes. A inovação seria, portanto, um problema de “terminologia”. Luxemburgo denunciou isso também em um evento da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) em setembro do ano passado. Durante o Brasil Futebol Expo 2022, Luxa “traduziu” alguns termos do “futebol moderno”.

Confira:

  • Fechar o corredor central do campo = Fechar o meio campo/congestionar
  • Perde e pressiona = Não deixar jogar
  • Reativo = Marcar no seu campo
  • Pró-ativo = Jogar com a bola no campo do adversário
  • Transição ofensiva = Contra-ataque/ir com o time para o campo adversário com a bola
  • Marcar em bloco baixo = Marcar no seu campo
  • Marcar em bloco alto = Marcação pressão/ marcação adiantada
  • Bloco médio = Marcação na intermediária
  • Extremos desequilibrantes = Pontas dribladores
  • Superioridade numérica = 3 contra 2/ 4 contra 3/ 2 contra 1
  • Amplitude = Abrir os pontas
  • Profundidade = Receber a bola nas costas/vazio
  • Atacar marcando = Diminuir espaço
  • Criar linha de passe = Encostar e aparecer para o jogo
  • Jogo apoiado = Aproxima/ triangulações/ vem jogar, c*!
  • Troca de corredor = Virada de jogo
  • Sair da zona de pressão = Tira a bola daí/ dá um chutão, c*!
  • Circulação da bola = Posse de bola/ fica com a bola!
  • Marcar em bloco = Fechar a casinha/ compactação
  • Dobra em marcação = Dois contra um na marcação
  • Jogo posicional = Não desarrumar taticamente
  • Jogo funcional = Liberdade tática/ mudança de direção
  • Linha sustentada = Manter a linha
  • Jogo nas entrelinhas = Quebrar a linha com drible ou passe em movimentação
  • Pressão pós-perda = Pressionar o adversário na perda de bola/ perdeu, pressiona
  • Temporização = Levar o adversário para o seu campo sem dar combate para compactação da equipe
  • Pressionar = Encurtar/ diminuir o espaço, c*!
  • Terço final = Chegar à linha de fundo
  • Box-to-box = Atacar e defender com a mesma intensidade de área a área
  • Lateral construtor = Lateral meia

A tradução do professor confirmam que os novos termos não passam de uma baboseira repetida pela imprensa e os “especialistas”.

Ainda, em entrevista à Jovem Pan no ano passado, Luxemburgo reforçou que o verdadeiro futebol moderno foi criado no Brasil, como afirmaram verdadeiros especialistas da área, como Nelson Rodrigues e João Saldanha. Nas seleções brasileiras que trouxeram o tricampeonato mundial (1958, 1962 e 1970) estão os fundamentos do “futebol moderno”. O que era Tostão senão um “falso 9” durante a Copa de 1970? Toda a ideia de se desapegar do futebol numérico (conservador, que mantém as posições inicias) foi criado por essas seleções. Por exemplo, Nilton Santos foi o primeiro lateral a atacar; Zagallo era um ala que, ao mesmo tempo, defendia e atacava; a Seleção de 1970 jogava sem centro-avante fixo; e assim por diante.

Enfim, ao contrário dos acusadores que o chamam de “ultrapassado”, Luxemburgo mostra que, na realidade, é um dos poucos treinadores do mundo que entende, de fato, sobre futebol.

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