Após os atos bolsonaristas do dia 8 de janeiro que invadiram a sede do governo, uma grande parcela da esquerda adotou a política do “sem anistia”. A ideia seria a da punição de Bolsonaro e dos golpistas bolsonaristas, esquecendo dos golpistas 2016 que derrubaram a presidenta Dilma e hoje estão no movimento “sem anistia”. Um grupo que encabeça essa política é o PSOL, que publicou a nota “SEM ANISTIA: Série de ações do PSOL desde o início do ano busca responsabilizar golpistas” explicando tudo que foi feito até então em defesa dessa política. É um verdadeiro festival de propostas repressivas que passa longe de tocar na principal questão do dia 8 de janeiro, a alta cúpula dos militares.
A primeira medida do PSOL foi o pedido de prisão de Bolsonaro ao STF. É preciso destacar que o partido ainda não percebeu que o STF, até hoje, nunca passou nem perto de prender nenhum importante representante do bolsonarismo, seria muito impressionante se eles pulassem de punições dos peixes pequenos para punir a cabeça pública do movimento. Fora essa incompreensão do PSOL, é preciso deixar claro que essa é política teria um resultado terrível. Bolsonaro nos EUA é uma figura desmoralizada, é o melhor possível para a luta contra o bolsonarismo. Um Bolsonaro preso fortaleceria muito o movimento em sua defesa, pois se tornaria uma vítima do STF, algo que aumentou muito sua popularidade nos anos de 2021 e 2022 com a perseguição do STF aos bolsonaristas.
O PSOL também destaca que pediu uma CPI para investigar os atos, algo que será organizado pelo Congresso controlado pelos bolsonaristas. Aqui fica claro o grande erro desse partido, que quer lutar contra os golpistas por meio das instituições, ignorando que são justamente as instituições a base do golpe. Foi assim em 2016 e será assim de novo, caso os golpistas tenham sucesso. O Congresso, o STF, os militares e a imprensa todos são a base para o golpe de Estado contra Lula. Se houver possibilidade, esse bloco se unificará contra Lula e os trabalhadores, da mesma forma que fizeram em 2018 contra Haddad, alguém muito menos perigoso que Lula para a burguesia e o imperialismo.
Além disso, eles pedem o impeachment de Ibanêis: “A bancada do PSOL na Câmara Legislativa do Distrito Federal, composta por Fabio Félix e Max Maciel, ingressou com um pedido de impeachment do governador do DF, após a demonstração de sua incapacidade de deter os atos golpistas e terroristas na capital federal e garantir a segurança da população. A ação foi protocolada junto com o presidente nacional do partido, Juliano Medeiros.” Se fosse levar a sério, seria preciso pedir o impeachment de todos os governadores bolsonaristas. A política de derrubar esses governadores, principalmente Zema, Tarcísio e Claudio Castro é correta, mas ela não é possível pela via institucional, apenas pela mobilização popular.
Outra medida do PSOL foi o pedido de censura: “Mesmo fora do país, Jair Bolsonaro seguiu incitando as manifestações golpistas com postagens em suas redes sociais. Na mesma semana, após a invasão terrorista na Praça dos Três Poderes em Brasília, Bolsonaro publicou em suas redes um vídeo com uma série de fake news questionando a legitimidade das eleições. Pouco tempo depois, o vídeo foi deletado, mas o recado a seus seguidores já estava dado. Após isso, a bancada do PSOL pediu a suspensão das redes sociais de Bolsonaro.” Aqui, o PSOL adentra a política reacionária do fim da liberdade de expressão. Eles acreditam que o Estado só irá reprimir os bolsonaristas, quando é evidente que a repressão maior se dará contra os trabalhadores e a esquerda. A crença cega nas instituições faz o PSOL cometer esse erro.
O PSOL defende a ação contra o comandante do Exército na época dos atos: “A deputada federal Luciene Cavalcante (PSOL) acionou o Ministério Público Federal para que o general Júlio César de Arruda, então comandante do Exército, seja investigado pelo crime de prevaricação. O comandante não se empenhou na desmobilização do acampamento bolsonarista montado em frente ao quartel-general do Distrito Federal. O Exército, além de não desmobilizar o acampamento, ainda fez um cordão de isolamento para postergar a prisão de golpistas envolvidos na depredação. Em 21 de janeiro, o presidente Lula exonerou o general do comando do Exército.”
Aqui se mostra a incompreensão do problema geral, não adianta punir um ou outro general, todas as Forças Armadas estão dominadas por golpistas. O PSOL ignora a seriedade da situação, acredita que com uma pequena reforma das Forças Armadas o governo Lula estará seguro. A realidade é que é preciso derrubar por completo a atual cúpula das FAs e reformá-las por completo, de forma que não sirvam como uma tropa que garante o golpe de Estado contra líderes nacionalistas. Esse é um problema de primeira importância em toda a América Latina e é ignorado pelo PSOL, que acredita que com pequenas medidas será possível segurar a sanha golpista dos generais. Vale lembrar que são os mesmos generais que apoiaram a derrubada da presidenta Dilma e a prisão de Lula.
E, por fim, a medida mais absurda do PSOL foi um ato com parlamentares dos EUA: “Ato inédito com parlamentares do Brasil e dos EUA: A bancada do PSOL se uniu a outros quase 70 parlamentares dos dois países em uma manifestação inédita condenando os atos autoritários e golpistas da extrema-direita que atacam as democracias dos dois países. Todos os parlamentares federais do PSOL assinaram o manifesto conjunto. Outro grande erro do partido. Se o PSOL não consegue enxergar que os generais são os verdadeiros golpistas, que só podem ser derrubados pela mobilização popular, que dirá enxergar quem está acima dos generais. Todo o golpismo das FAs só existe a mando dos EUA ou pelo menos com sua conivência.
Além do Congresso, das Forças Armadas, do STF, da imprensa burguesa e dos generais, o último e mais poderoso elemento é justamente o imperialismo dos EUA. Portanto, recorrer aos EUA para punir golpistas é equivalente a recorrer à raposa para cuidar do galinheiro, é um absurdo. O PSOL se mostra como um gato de papel, não chega a ser um tigre, por não ter tamanho. Nenhum discurso agressivo consegue ferir os menores bolsonaristas com sua política ultra institucional. O PSOL é uma das mais perfeitas definições do que Engels descreveu como cretinismo parlamentar.
Quando, durante a Revolução de 1848, o parlamento de Frankfurt estava prestes a tomar um golpe dos absolutistas reacionários, o pai do marxismo escreveu: “Desde o começo da sua carreira legislativa tinham-se imbuído, mais do que qualquer outra fracção da Assembleia, daquela doença incurável, o cretinismo parlamentar, uma perturbação que penetra as suas desafortunadas vítimas da convicção solene de que o mundo inteiro, a sua história e futuro, são governados e determinados por uma maioria de votos naquele particular órgão representativo que tem a honra de os contar entre os seus membros e que todas as coisas que se passam fora das paredes da sua câmara — guerras, revoluções, construções de estradas-de-ferro, colonização de novos continentes inteiros, descobertas de ouro na Califórnia, canais centro-americanos, exércitos russos e tudo o mais que possa ter alguma pequena pretensão a influenciar os destinos da humanidade — não é nada comparado com os incomensuráveis acontecimentos que dependem da questão importante, seja ela qual for, que nesse preciso momento ocupa a atenção da sua ilustre Casa.”