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Um problema de classe

O marxismo condena o “terrorismo”?

Direita que pressionar esquerda a condenar o Hamas

Publicada no Estado de S. Paulo, a coluna “Ao silenciar sobre o Hamas, parte da esquerda esquece o compromisso com a democracia” tenta mostrar que a esquerda que apoia o Hamas e a Palestina”, assinado por Marcelo Godoy, tenta mostrar certa incoerência na esquerda que ou apoia abertamente ou se recusa a condenar o Hamas.

Segundo o colunista: “A aparente antinomia que torna possível defender convincentemente as causas da Palestina e de Israel desaparece quando surge o terrorismo. Não só pelo imperativo da condenação à violência na política, mas em razão da característica do terror, que está além da discussão sobre opressores e oprimidos.”

Segundo a tese central de sua coluna, o chamado terrorismo iria contra os preceitos democráticos, não apenas pelo uso da violência política, mas por suas características próprias. E isso, segundo ele, vai além da discussão de opressores e oprimidos, ou seja, vai além do problema de classe.

A tese é de uma pobreza intelectual espetacular. Primeiro, a ideia de que a violência política seria a priori condenável só pode passar pela cabeça de uma pessoa que não sabe nada de política. A violência e a guerra pode ser um espetáculo repugnante, mas elas são parte da política. O que se deve avaliar são os interesses envolvidos nesse violência, o que a torna condenável ou não. O uso da violência na Revolução Francesa foi considerado, pela própria burguesia, como um fator necessário para extinguir a aristocracia que impunha ao país um regime ditatorial.

No final das contas, tudo vai depender dos interesses de classe.

A mesma coisa vale para o chamado terrorismo. Vejamos um exemplo histórico importante. Foi legítimo o uso do “terrorismo” pela resistência francesa contra a ocupação nazista? Hoje não deveria haver dúvida que a resposta é positiva.

Tanto para a violência quanto para o “terrorismo” o que deve ser analisado é sim o problema dos opressores e oprimidos. E é essa régua que deve ser usada no caso palestino.

Para reforçar sua tese, a tentativa de dar uma aulinha para a esquerda, o colunista recorre inclusive a Lênin:

“Ao silenciar sobre esse método, parte da esquerda no Brasil esqueceu até a lição de Lenin sobre os socialista-revolucionários: ‘Ao incluírem o terrorismo no seu programa e o defenderem como um meio de luta política, estão causando os mais terríveis e sérios danos ao movimento, destruindo os laços indissolúveis entre o trabalho socialista e a massa'”.

As citações isoladas, fora de contexto, são as melhores amigas dos ignorantes. Se Lênin explicava que os métodos dos SRs não estava correto, de maneira nenhum Lênin e os bolcheviques condenavam o chamado terrorismo pelos motivos apresentados pelo colunista, ou seja, a violência. Se Lênin criticava o método do terrorismo era tão somente porque, para ele, em determinada situação concreta, aquele método não era eficiente para o trabalho revolucionário.

Não era uma condenação absoluta, nem tampouco uma condenação da violência. Em outros casos Lênin se colocou favoravelmente à luta “terrorista”, como no caso do Levante da Páscoa na Irlanda. Lênin caracterizou a revolta como um “golpe decisivo contra o poder do imperialismo inglês”. O que eram os irlandeses senão “terroristas”?

O que o colunista que é colocar a esquerda, que em geral, está unificada para condenar veementemente as atrocidades genocidas de Israel, na defensiva. Difícil conseguir, a causa palestina é uma das mais tradicionais lutas da esquerda mundial e o povo no mundo todo, apesar da enorme campanha de mentiras da imprensa oficial do imperialismo, apoio o povo oprimido da palestina.

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