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Deturpação

O “centralismo democrático” dos oportunistas e o de Lênin

O método de organização não se estabeleceu para criar "mecanismos de controle direto" da direção do partido revolucionário, mas para desenvolver uma disciplina férrea

No último dia 2, o youtuber Jones Manoel publicou um vídeo em seu canal, de título “Direção e base: como é construído o centralismo-democrático”. Como indica o título, o objetivo é apresentar ao público o que é este método consagrado de organização do partido revolucionário, ou pelo menos, a peculiar visão do ex-PCB sobre o tema.

Para isso, Jones Manoel recorre não aos comunistas com experiência reconhecida na organização partidária, caso de Marx, Engels e Lênin, mas a Louis Althusser, um acadêmico do Partido Comunista Francês de meados do século XX muito apreciado nos meios universitários. Falando abstratamente de Lênin, o youtuber diz que o dirigente russo “sempre imaginou um centralismo democrático que tivesse mecanismos de controle direto e de avaliação direta das bases sobre as direções, e as direções tivessem que prestar contas, de maneira permanente para as bases, salvaguardando a segurança e a continuidade da organização [o partido]”. Não poderia estar mais enganado.

O centralismo democrático defendido pelos marxistas deve-se a uma obviedade que escapa a Jones Manoel: “sem uma disciplina rigorosíssima, verdadeiramente férrea”, “os bolcheviques não se teriam mantido no poder, não digo dois anos e meio, mas nem sequer dois meses e meio”, conforme a avaliação de Lênin no clássico “Esquerdismo, Doença Infantil do Comunismo”.

Ainda no âmbito da primeira Internacional, Karl Marx polemiza com os anarquistas (contrários ao trabalho centralizado) defendendo a necessidade de uma estrutura política que não fosse organizada a partir do sonho de uma sociedade futura ideal, mas das necessidades do proletariado em sua luta contra a burguesia. Como atestado décadas depois pelos bolcheviques e descrito por Lênin, o centralismo rígido é o princípio fundamental para a classe trabalhadora lutar e se emancipar.

Para isso, a vanguarda proletária (o partido revolucionário) precisa construir uma disciplina de ferro, o que não se desenvolverá através de fórmulas prontas e menos ainda de “mecanismos de controle” da direção partidária, mas da própria luta, das experiências e igualmente importante, do convencimento dos militantes que a compõem. Eis o lado “democrático” do termo. O centralismo democrático pressupõe então a construção dessa organização de disciplina praticamente análoga à que se verifica nas forças armadas, porém, construída a partir do trabalho sob a convicção ideológica daqueles que desempenharão as tarefas.

Ante a impossibilidade de convencer adeptos pelo medo de sanções ao estilo das ditaduras que imperam no meio militar e nos ambientes de trabalho, resta ao partido revolucionário construir essa disciplina por meio do convencimento da militância. É a convicção dos militantes do partido que os levará a encarar os desafios políticos, que vão se tornando cada vez mais espinhosos conforme a luta de classes evolui, razão pela qual, a convicção ideológica no desempenho das atividades precisa ser verdadeiramente sólida.

Finalmente, todo comunista minimamente experimentado no trabalho militante sabe que não faltam pressões na sociedade contra a atividade revolucionária. Enfrentá-las demanda um elevado grau de firmeza ideológica e crença no que está sendo feito.

Nesse método de organização, portanto, a parte democrática não tem como objetivo garantir que cada indivíduo exponha suas qualidades individuais, menos ainda serve para proteger militantes da base dos militantes da direção, e com isso, abrir as portas para a criação de cizânias entre os distintos grupos dentro do partido com o suposto elo frágil (“base”, como ele diz), protegido. O objetivo é que as pessoas se convençam, assimilem a política e o programa, e com isso, o partido evolua a partir da solidez de seus quadros, fortalecendo-se para realizar a tarefa revolucionária.

Da opção equivocada de Jones Manoel, de basear sua tese em um intelectual e não um dirigente revolucionário, origina-se toda uma cadeia de confusão. Isto implica na concepção errônea do centralismo democrático, reduzido a quase um expediente burocrático. Longe disso, é o método de organização que se consagrou na tradição marxista, por permitir ao partido constituir-se em uma verdadeira unidade de combate pela libertação da classe trabalhadora. O erro de Jones Manoel, contudo, não é gratuito, mas resultado da luta política que o mesmo trava no Partido Comunista Brasileiro. Como um bom simpatizante do stalinismo, o  youtuber simplesmente cria uma concepção personalíssima do que realmente é o centralismo democrático, para atender aos seus próprios interesses, pouco se importando com a confusão que espalhará. Deixaria o mestre bigodudo feliz, se o visse.

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