O Banco Central, sob o controle total dos banqueiros e rentistas nacionais e estrangeiros, decidiu nessa quarta-feira (3), sob a batuta do seu presidente Campos Neto, seguir com a política monetária contracionista contra o povo e a soberania nacional. A taxa básica de juros (SELIC – sistema especial de liquidação e de custódia) manteve-se em 13,75% na decisão de ontem do Comitê de Política Monetária (COPOM) do Banco Central do Brasil (BCB, BACEN ou BC) em resposta à atual pressão do governo Lula. Apesar da decisão se dizer “técnica” carrega uma série de elementos políticos e econômicos em disputa na atual conjuntura política com o governo Lula.
Campos Neto precisou mostrar que não se intimidou com as pressões do presidente Lula e ainda procurou manter a atual taxa de juros como forma de mostrar que o Banco Central tem total independência do governo. Essa decisão procura passar uma imagem de que não disputa um braço de ferro com o governo e ainda sinaliza para o “mercado” que irá manter a mesma política que os banqueiros e rentistas sempre preconizaram, principalmente com o advento do Plano Real. A política econômica desta maneira não é ditada pelos interesses do governo, mas sim, dos bilionários donos da dívida pública, isto é, os principais detentores dos títulos públicos federais.
Com os governos de direita como FHC, Temer e Bolsonaro não havia nenhuma contrariedade na aplicação da política econômica, lastreada pela política monetária de altíssimas taxas de juros comandada pelo BC. No atual momento; que reflete o acirramento da luta de classes no Brasil, um governo com inclinações nacionalistas encontra um enorme obstáculo para que se construa uma política econômica, no mínimo, relativamente autônoma para o crescimento econômico.
O Banco Central tronou-se ao longo das últimas décadas a mais poderosa instituição tecnocrática do país e com o governo Bolsonaro alcançou sua independência institucional. Essa independência blindou quaisquer presidentes do BC que possam sentar na cadeira da presidência dessa poderosa instituição e agir em conformidade com os interesses dos ávidos capitalistas que orbitam em torno do imperialismo em conluio com a burguesia nacional. Os presidentes do Banco Central historicamente, quase sempre na sua totalidade defenderam os interesses do mercado financeiro internacional e nacional a despeito das demandas populares. Com o Plano Real esses presidentes passaram a estabelecer uma relação direta e mais promíscua com o mercado financeiro nacional em consonância com o imperialismo. A porta giratória entre a cadeira da presidência do BC, instituições multilaterais internacionais como FMI e outras; além do setor bancário, conselhos de empresas, consultorias e demais agências ligadas ao mercado financeiro passou a ser mais explícita e considerada “natural” propagada pelos meios de comunicação de massa ou a grande imprensa capitalista.
Grande parte dos presidentes do Banco Central desde a ditadura pertenciam à classe dominante nacional e outros; membros de uma elite tecnocrática estratégica escolhidas a “dedo” por serem de “confiança”; testados pelos filtros habituais da burguesia e do imperialismo. Esses “homens bons” passaram a ser sócios de corretoras, consultorias e até mesmo bancos ao longo das últimas décadas no Brasil. Campos Neto remete ao diplomata golpista de Jango na ditadura Roberto Campos e segue a saga da família em termos de servilismo ao mercado financeiro e o imperialismo. Esses indivíduos adotam em governos populares uma postura autônoma as decisões do presidente da República, principalmente em tempos de independência legal e institucional do governo. São autarquias pertencentes ao Estado brasileiro, mas que na prática conduzem a política monetária em favor dos interesses dos ambiciosos capitalistas banqueiros e rentistas.
A taxa básica de juros no Brasil, ainda no governo Lula, bateu o recorde da maior do mundo atualmente. Isso faz com que a dívida pública cresça ainda mais, de forma explosiva, e ainda, trava o crescimento econômico e um eventual projeto de desenvolvimento nacional. A apresentação do novo arcabouço fiscal pela equipe econômica do presidente Lula coloca um problema a partir de 2024, já que depende muito do crescimento das receitas do país para que consiga diluir minimamente os estragos causados pelo Teto de Gastos do golpe de Estado de 2016. As receitas dependem em grande medida do crescimento econômico e com essa taxa básica de juros administrada pelo Banco Central a capacidade da economia de crescer diminui bastante.