O jornal burguês O Estado de S. Paulo vem se esforçando para cumprir seu papel de instrumento dos interesses imperialistas no país. Depois de atacar o “desenvolvimentismo” de Lula e sua política (moderada, é verdade) de estímulo à indústria nacional, entre outros ataques, o jornal da direita golpista agora enaltece o atual presidente chileno, Boric, para depreciar Lula.
Em editorial publicado neste domingo (23), o jornal dos Mesquita afirma que Boric representa um “aggiornamento” da esquerda, enquanto Lula expressaria a sua “obsolescenza”. “Aggiornamento” quer dizer atualização, renovação; “obsolescenza” seria o atraso, a perda da vida útil, aquilo que perdeu a validade. Trocando em miúdos: Boric é a nova esquerda, a esquerda atualizada e renovada, e Lula, a esquerda velha e atrasada.
É interessante ver como os monopólios da imprensa capitalista torcem e retorcem a realidade, criando um verdadeiro mundo da fantasia, para se adequar aos interesses que buscam defender. Isso porque a realidade expressa justamente o oposto do que diz o Estadão.
Boric não é o novo, mas o velho. A sua pouca idade e seus trejeitos de adolescente roqueiro não são capazes de esconder seu conteúdo político ultrapassado. Boric, hoje, é a representação da esquerda pró-imperialista no continente, isto é, daquela esquerda que se comporta e atua como um cão amestrado dos EUA. Boric ataca sistematicamente os governos de Cuba, Venezuela e Nicarágua, justamente os governos que possuem maiores contradições com o imperialismo na América Latina. Boric condena a “agressora” Rússia na Guerra Ucrânia e não diz uma palavra sobre a ação da OTAN e dos países imperialistas. Cão bom é aquele que segue fielmente as ordens do seu dono. Boric, definitivamente, é um bom cão.
Criado laboratório do imperialismo, Boric está aí para conter qualquer iniciativa independente e revolucionária das massas chilenas e para manter o caráter semicolonial do país. De novo isso não tem nada. É, na verdade, a representação do que há de mais velho e obsoleto no continente: a dominação imperialista.
Por outro lado, nunca a expressão “aggiornamento” foi tão adequada quanto para descrever o governo Lula atual. Diferentemente de seus dois mandatos anteriores, o governo Lula III já não desfruta da aquiescência integral do bloco imperialista mundial. As contradições de sua política com o imperialismo, como é possível ver claramente nas suas iniciativas internacionais e diplomáticas, tendem a crescer. Mantido preso por quase dois anos pelo golpe articulado pelos EUA e Cia. no país, Lula inevitavelmente aprendeu algumas lições e faz um governo mais à esquerda do que os seus governos anteriores. Ainda que longe de constituir uma direção consequentemente anti-imperialista, não resta dúvida de que o terceiro governo Lula, numa série de questões políticas fundamentais, tende a desenvolver uma política que se choca, em maior ou menor grau, com a política que o imperialismo gostaria que fosse aplicada no continente. Nesse sentido, é Lula, e não Boric, quem se renovou e se atualizou.
O Estadão termina seu texto de opinião com uma esperança: “ainda há tempo, se tiver vontade” de Lula se “atualizar”. Ou seja: a posição do jornal é de pressionar para que Lula abandone a sua política e adote as determinações pró-imperialista do mandatário chileno. Fica a pergunta, porém: e se Lula não se “renovar”? Vem golpe por aí?