As últimas movimentações da burguesia comprovam que os principais capitalistas atuando no Brasil não querem nem Jair Bolsonaro e nem Lula. Por um lado, o atual governo vem sendo emparedado pelo Congresso e pelo Banco Central “independente”. Por outro, começa hoje um julgamento no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que pode tornar Bolsonaro inelegível por oito anos. Assim como vem fazendo nos últimos anos, o setor mais poderoso da burguesia procura esfriar a polarização e emplacar um candidato artificial, sem qualquer base popular.
Embora uma parte da esquerda aplauda a perseguição judicial a Bolsonaro, liderada por Alexandre de Moraes, é preciso deixar claro que o que está acontecendo não é iniciativa dela. Não existe nenhum movimento nas ruas contra o bolsonarismo, nem mesmo o PT está tomando alguma iniciativa importante nesse sentido. Quem está indo pra cima de Bolsonaro agora é a direita, sobretudo seus setores mais alinhados ao imperialismo, através do STF, do TSE, da Polícia Federal, do Ministério Público – enfim, todos eles órgãos do poder mais antidemocrático do regime político, o Judiciário. Aquele que nem pelo crivo das eleições burguesas passa.
É importante alertar ainda que por aqui pode ocorrer o mesmo que está ocorrendo nos Estados Unidos em relação a Donald Trump: a perseguição judicial só tem aumentado a popularidade do ex-presidente. Diversos setores da população acabam interpretando isso como sinal de que ele está em oposição aos que controlam o regime político no país. E o povo normalmente tem ódio a essa escória que parasita aqueles que trabalham. Em tempos de crise econômica, como a atual, esse ódio só cresce. O polo oposto mais natural são as organizações populares, a esquerda; no entanto, no Brasil e nos Estados Unidos, a maior parte da esquerda está ocupada defendendo esses regimes apodrecidos, deixando o campo de oposição ao regime livre para os aventureiros da extrema-direita.
Para complementar o exemplo, basta nos lembrarmos de toda a campanha da imprensa burguesa e do Judiciário contra Lula e o PT. Quase duas décadas de perseguição, que culminaram na prisão de Lula e seu impedimento de concorrer nas eleições de 2018. Quatro anos depois, o petista se elegeu com o apoio vital da militância da esquerda nas ruas. Então, quem pensa que a campanha liderada por Moraes contra Bolsonaro vai enterrar a extrema-direita está ignorando um caminhão de evidências que indicam exatamente o contrário.
Lula sozinho tem se esforçado, mas sofre oposição de dentro e de fora do seu governo. Fica evidente que a burguesia procura sufocar a política nacionalista de Lula, tornando seu governo ineficaz contra a crise social na qual o país está. Se isso funcionar, o governo vai, interrompido por um golpe ou nas eleições.
Assim como temos observado em muitos países, o imperialismo tem buscado impor governos estáveis e integralmente submissos aos seus interesses. Ou seja, precisa de figuras artificiais, sem qualquer base que direcione sua política. Mesmo sendo um direitista capacho dos Estados Unidos, a necessidade de Bolsonaro em atender demandas da sua base de extrema-direita criaram problemas políticos que o imperialismo quer se livrar. No Brasil, esse esforço não tem prosperado e a eleição de Bolsonaro em 2018 deixou isso exposto. Após seguidas derrotas dos candidatos tucanos ao governo federal, o presidente pós-golpe foi tão rejeitado pela população que não se elege nem pra síndico de prédio. Em 2018, Alckmin era o candidato preferencial da burguesia e teve menos de 5% dos votos.