A crise instaurada após a invasão dos prédios que sediam os Três Poderes apontou uma situação gravíssima para o governo Lula. A invasão em si não seria o motivo de uma grande crise — manifestações contra as sedes dos poderes são algo comum em toda a história do País. O que é grave, no entanto, é o fato de que o aparato de repressão do Estado — parte dele supostamente sob controle de elementos do governo Lula — permitiu deliberadamente que a invasão acontecesse. O objetivo da invasão? Desestabilizar o governo para inviabilizá-lo no futuro.
A conivência com os manifestantes pode ser vista em todas as forças policiais. A começar pela Polícia Militar, que é comandada pelo governo do Distrito Federal e se recusou a reprimir a manifestação. Houve policiais, inclusive, que chegaram a tirar fotos com os manifestantes. A Força Nacional de Segurança, essa sim é diretamente comandada pelo Ministério da Justiça do governo federal, mas não foi organizada para impedir a invasão. O Ministério da Justiça é chefiado por Flávio Dino (PSB), uma figura que não é, ao que se sabe, ligada ao bolsonarismo, mas que certamente foi enganado por “especialistas” do aparato de repressão que o convenceram de que a situação estava sob controle. O Gabinete de Segurança Nacional, por sua vez, que detém as informações mais importantes no que diz respeito a movimentações hostis ao governo também não agiu.
Em resumo: a cúpula das Forças Armadas queria que a invasão acontecesse. E que, portanto, o governo se desmoralizasse. Ninguém ocupava uma posição tão estratégica para organizar a invasão e sabotar o governo dessa forma. Figuras como Ibaneis Rocha, governador do Distrito Federal, ou José Múcio, ministro da Defesa, são meramente secundárias no plano. Os mandantes são os generais militares, os mesmos que estiveram por trás do golpe de 2016 e que abertamente ameaçaram o STF para que prendesse Lula em 2018.
Diante desse fato, a reação do governo é pífia. O escalado para agir neste caso foi o Ministério da Justiça, acompanhado pelo Supremo Tribunal Federal. Mas não há nada efetivo que esteja sendo feito. Flávio Dino, que já demonstrou sua incompetência, é incapaz de enfrentar os militares que estão incrustados no regime desde sempre. O mesmo vale para Alexandre de Moraes, que aparece como o “grande caçador de fascistas”.
As prisões, que podem até impressionar por sua quantidade, não são sinal de um enfrentamento real. Os presos serão julgados em seus estados, onde a maioria dos juízes e governadores apoia a ou é conivente com a desestabilização do governo. Figuras como Anderson Torres, bolsonarista que tem pedido de prisão expedido, já declarou que voltaria para o Brasil, em clara demonstração de que crê na impunidade.
A razão da inocuidade das ações é simples: não é possível incriminar os militares, que são o Quarto Poder no País, o único armado e dono de uma burocracia monumental. Medidas institucionais jamais chegarão aos verdadeiros responsáveis. A única maneira de fazer isso acontecer é mobilizando amplamente as massas para muar a correlação de forças e colocar de fato os militares contra a parede.