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Secretário sindical do PT

“Não é para ficar chorando, é para fazer o enfrentamento”

Em entrevista exclusiva a este Diário, Paulo Cayres denunciou os inimigos do governo Lula e da classe trabalhadora

Por Victor Assis

 

Durante a III Conferência Nacional dos Comitês de Luta, ocorrida entre os dias 9 e 11 de junho em São Paulo, conversamos com o companheiro Paulo Cayres, militante histórico da categoria dos metalúrgicos. Paulão, como é chamada pelos pares, não fugiu de nenhum tema e soltou o verbo: “tem que polarizar mesmo”.

Em um corredor bastante movimentado da Quadra dos Bancários, Paulão nos falou com franqueza sobre suas expectativas do governo Lula e sobre as dificuldades que este vem enfrentando. No momento mais emocionante da entrevista, o companheiro nos confessou ter sofrido um acidente vascular cerebral (AVC) poucos dias atrás, salvando-se por pouco de uma fatalidade: “se eu permaneci vivo depois de um problemaço que foi esse, é para continuar fazendo a luta em defesa da classe trabalhadora”.

Paulo Cayres integra a direção da Conferência Nacional dos Metalúrgicos (CNM) e é secretário sindical do Partido dos Trabalhadores (PT). Ele se diz socialista e comunista e uma pessoa com boas relações com o presidente da República.

A Conferência dos Comitês

“Nada mais importante do que essa III Conferência de Luta”. Foi assim que Paulão caracterizou o evento organizado pelos comitês. A Conferência, segundo o dirigente petista, foi “bem necessária para um governo que começa com esse grau de disputa”.

A disputa a que Paulo Cayres se refere é a guerra cada vez mais explícita entre Lula, que quer levar adiante um programa progressista e nacionalista, e o conjunto da direita nacional, a mesma que deu o golpe de 2016 e que foi responsável pela vitória eleitoral de Jair Bolsonaro em 2018.

Paulão também aproveitou a oportunidade para parabenizar “os companheiros e companheiras do Partido da Causa Operária (PCO)”, entidade que mais se destacou na convocação e na organização da Conferência. “Me sinto muito honrado de estar aqui hoje, neste espaço, junto a um Partido que está em luta constante, não para de lutar. Podemos ter divergências, mas é um Partido que está lutando, sempre apontando para esse caminho”.

Industrializar o País

De acordo com Paulo Cayres, os metalúrgicos já vêm tentando intervir no plano de industrialização do País há mais de dez anos. “A nossa ideia agora é fazer um plano de indústria de Estado, não de governo˜. Para Paulão, uma das primeiras iniciativas importantes do governo Lula em relação à indústria teria sido o seu programa de construção de carros populares: “em um primeiro momento, o que o presidente Lula está falando já está se materializando, que é a realização desse modelo novo de rebaixar as taxas dos carros. E você já começou a vender carro, você já começou a destravar a venda dos veículos, já começou a produzir mais, você já começou a gerar empregos”.

Apesar do otimismo com a medida, o metalúrgico destaca: “só que isso é apenas emergencial. E não é só isso o que os metalúrgicos querem”.

Entre as propostas da categoria, está um modelo de indústria para carros elétricos. “Nós acabamos de inaugurar uma empresa aqui no Brasil para ônibus elétricos”, destacou Paulo Cayres. “Nós estamos avançando, inclusive do ponto de vista energético e elétrico. Nós já estamos mais avançados do que um dos países que é o primeiro polo tecnológico do mundo, que é a Alemanha. Então, nós estamos no caminho certo”.

A cada tanto, durante a entrevista, o sorriso de Paulão e seu olhar esperançoso, voltado para o futuro do País, dava lugar a um semblante sério e indignado, que lembrava com amargura o que aconteceu nos últimos anos: “não fosse o boicote do genocida de quatro anos… É um atraso, um atraso, não ter discutido nada da indústria, deixar as indústrias fecharem”. “Não foi só a Ford, nem a General Motors: várias empresas nossas e a própria Toyota também fecharam”.

Banco Central

Perguntar sobre a taxa de juros do Banco Central a Paulo Cayres é uma das formas de tornar o seu semblante sério: “é uma cagada”, disse ele, indo direto ao ponto.

A taxa de juros de 13,75% imposta por Roberto Campos Neto, é a mais alta do mundo, sob o pretexto mentiroso de combater a inflação. Na verdade, mesmo que a inflação estivesse alta, não teria justificativa: “a inflação que está sendo gerada hoje não é inflação de demanda. Você utiliza a taxa de juros para coibir a inflação, quando há inflação de demanda”.

O petista não pensou duas vezes antes de denunciar a política de Campos Neto como uma sabotagem: “é uma cagada. Mas não é simplesmente uma cagada. Isso que ele está fazendo é de caso pensado, é uma política. Ele foi colocado lá para boicotar esse governo ou qualquer outro que viesse. É para isso que ele está lá. E a prova disso é que a inflação vem decrescendo”.

Diante da sabotagem de Campos Neto, Paulo Cayres não vê outra solução que não seja pedir sua saída: “ele tinha que ser demitido por incompetência, porque ele está boicotando o país. Aliás, na minha opinião, quando você boicota o seu país, você tem que ser preso. É isso que ele tinha que merecer”. Para o metalúrgico, será uma combinação entre a pressão sobre o Congresso Nacional e os resultados econômicos do governo Lula que permitirão aos brasileiros se livrarem “desse lixo”. “Aí nós vamos conseguir o tão sonhado plano de reindustrialização de Estado que nenhum governo que aparecer aí, como aparecem os genocidas, possa parar o nosso crescimento”.

As empresas nacionais

Ao ouvir Paulo Cayres falando, nota-se de maneira muito clara a diferença entre o primeiro mandato de Lula e o mandato atual. Isso não apenas no que o governo pretende fazer, mas também na consciência das massas de que aquele governo deve ser pressionado para atender aos seus interesses. Representando uma das categorias mais importantes do País, Paulão declarou: “o presidente Lula, na primeira reunião que ele teve com as centrais, o que é característico de um governo democrático chamar o movimento sindical para dialogar, se colocou à disposição para ser cobrado”.

Segundo Paulão, há um compromisso de Lula com a retomada do controle da Eletrobrás. “Você não consegue revogar tudo, mas você consegue recomprar”. “Nós temos 41% de ações e só 10% de voto. Isso é um absurdo”. É isso que nós já estamos trabalhando. Inclusive, é uma ideia e uma proposta que eu levei ao presidente através da conversa com os sindicatos dos trabalhadores eletricitários. Então, além do presidente Lula, o sindicato está se movimentando”. Com a Petrobrás, o mesmo processo de mobilização estaria ocorrendo: “o pessoal da FUP, sindicalistas da FUP, estão se movimentando o tempo todo para fazer isso e vem dando resultados”.

“Não podemos esquecer os Correios”, assinalou Paulão. “Nós temos que lembrar de todas essas empresas que estão sendo atacadas. E há uma unidade agora. Para mim, o central é ter foco na reconstrução daquilo que nos foi roubado, os direitos que nos foram tirados, e ter foco e na unidade de toda a esquerda. Não dá para perder tempo com perfumaria, com mimimi”.

O impasse do governo

Apesar dos inúmeros projetos para o País, Paulão destacou a situação bastante difícil de Lula no regime político. “Enquanto você não tiver musculatura pra ter uma bancada de esquerda, uma maioria, você vai comer na mão do Lira. O centrão já percebeu isso, e o que é que você vai fazer? Tem que jogar o jogo. Você pode estar certo, pode estar certíssimo, mas se ele tiver dez votos e você só tiver um, você perdeu, mesmo estando certo”.

Muito preocupado com a sabotagem da direita ao governo, Cayres lembra que “nós ganhamos as eleições por 1%” e que “essa diferença pode virar contra nós”.

Contrariando as alas mais direitistas do Partido dos Trabalhadores, que defende uma adaptação à chantagem do Congresso Nacional, Paulão defende que Lula se prepare para um enfrentamento. “Eu falo muito isso para o presidente. Graças a Deus, eu tenho uma relação muito boa com ele. Eu digo: meu querido, é o seguinte, o que a gente prometeu, você não pode prometer e não entregar, por causa desse lixo aí do Banco Central… Você prometeu entregar uma política melhor, fazer o crescimento e ele não deixa. Então, minimamente, você tem que expor ele todos os dias. Você tem que denunciar ele”.

Paulão ainda polemizou com aqueles que receiam um enfrentamento: “Como é que se fala que não pode polarizar? Ele vai fazer o que? Vai concordar com esse cara? Tem que polarizar mesmo… Vamos permitir o ataque aos nossos direitos ou o assassinato das mulheres, assassinato dos negros, dos jovens, dos LGBT? Nós não vamos polarizar com a morte com a nossa política de vida, de melhorar a indústria?”

Quem vai levar adiante esse enfrentamento não é a “frente ampla”, mas sim o conjunto dos setores que estão verdadeiramente ligados à luta dos trabalhadores: “a esquerda tem que ir se juntando, é preciso chamar todos os partidos de esquerda para se somarem. Mas não pode dar muito espaço: o enfrentamento tem que ser permanente, porque esses caras são genocidas, estão todos os dias com as fake news deles. 

“Eu aprendi isso desde criança. A propaganda é a alma do negócio, não tem jeito. Eu cheguei a sugerir para o presidente Lula. Espero que ele faça porque o genocida fazia uma live e atingiu muita gente. Ele vai atingir muito mais. Vai ser muito melhor. Ele mesmo tem que falar. Para mim, o melhor comunicador do presidente Lula é ele mesmo. Ele consegue fazer as coisas, entendeu?”

E foi nesse momento, discutindo que a luta contra a direita precisa ser uma luta de “tudo ou nada”, que Paulão nos revelou o problema de saúde que tivera dias atrás. “Eu, sinceramente, estou muito empolgado, com muita vontade de lutar, até porque eu vou fazer uma revelação pessoal. No dia 18 agora, eu tive um AVC, quase perdi minha vida. Mas Deus gosta muito de mim porque eu sou socialista, comunista. Eu não sou ateu, acredito em Deus e estou aqui com mais vontade de lutar ainda. Se eu permaneci vivo depois de um problemaço que foi esse, é para continuar fazendo a luta em defesa da classe trabalhadora, entendeu?”

No mesmo dia em que Paulão nos concedeu a entrevista, o Partido Novo havia entrado com um recurso para tentar impedir que o Partido dos Trabalhadores obtenha uma concessão de rádio e televisão. “Falar que esses caras iriam querer bloquear uma televisão do Partido dos Trabalhadores é até redundante, porque é isso que eles são, bloqueadores, né? Eles querem travar a comunicação”.

“Só pra te contar uma história, nós temos uma televisão, a TVT. Nós a criamos, no governo Lula, mas já estávamos desde a fundação do Partido dos Trabalhadores, mais de 30 anos, tentando fundar essa televisão. Só conseguimos no governo do presidente Lula. Aí passou o governo, veio o golpe, e a primeira coisa que eles quiseram acabar foi a TVT”.

Quando tocamos na questão da imprensa, a conversa esquentou. O dirigente petista se mostrou profundamente incomodado com a atuação do Partido da Imprensa Golpista (PIG). E não seria para menos: o PIG foi um elemento fundamental no golpe de 2016 e é hoje um dos maiores obstáculos para o governo.

“Eles querem o patrimônio da comunicação só pra eles, né? E não é apenas o Partido Novo não. Também não é só a Rede Globo, é a Record e todos esses canais de televisão mentirosos que ficam falando coisas”.

Após criticar duramente a Rede Globo, Paulão se manteve firme e chamou todos para a luta: “não é pra ficar chorando, não é pra ficar no muro de lamentação, é pra fazer o enfrentamento, porque eles fazem o papel deles, querem nos atacar e querer nos tirar os nossos direitos. Eles fazem isso magistralmente bem. Então nós temos que ir pra cima e ir para o cacete, com esses caras, não tem conversa”. 

“Condenaram o presidente Lula sem provas, sem crime e babando o ovo desse Moro desgraçado. Temos sempre que falar: Mouro é mentiroso, canalha. Temos que falar isso sempre, pra que nós nunca nos esqueçamos”.

“Vamos criar a nossa TV agora. Se a nossa TV fizer besteira, é uma concessão, chega lá e tira. Eu, por exemplo, se fosse eu na época do governo presidente Lula, eu não renovava a concessão da Rede Globo, não renovava só pelo crime de ter apoiado a ditadura. Quem apoiou a ditadura, apoiou a morte de todo mundo, inclusive do Wladimir Pomar que acaba de falecer agora e vários guerreiros nossos que foram assassinados. Não tem que renovar com quem contribuiu com os assassinatos da ditadura militar no nosso País. Isso que eu faria. E não sou ditador, não. Ditador é quem apoia a ditadura.

Emendando nas críticas à imprensa golpista, Paulo Cayres revelou todo o ódio que os trabalhadores têm da Operação Lava Jato, hoje metida em novos escândalos. “Numa rádio CBN, eu falei perguntado sobre essa Lava Jato. Aí, logo no começo falei: para cada preso, independentemente se ele é culpado ou não, são três mil empregos que vão para o saco. Isso foi uma estratégia muito bem montada pelos americanos e todo mundo dizia que isso aí era teoria de conspiração. Não, não é. É conspiração mesmo, porque eles lá fora, principalmente os americanos, destroem os países com bomba, com guerra, e as nossas construtoras iam lá e reconstruíam esses países com a tecnologia que não tem no mundo, a nossa engenharia”.

A corrupção real, nos disse Paulão, “é essa aí do Banco Central, essa taxa e os juros que o banco cobra”. A Lava Jato serviu somente para “destruir a Petrobrás˜.

“Está mais do que provado. A Lava Jato usou o Moro, o juiz canalha. Aí ele usou áudios forjados contra Dilma, contra o Lula e contra o juiz do TRF-4, que não queria não deixar o Tacla Duran depor. Por que eles têm medo? Vocês não são tão honestos? Então, essa Lava Jato conduzida por bandido não pode prender corrupto, não pode ir a lugar nenhum. Ela foi pensada nesse sentido e aí destruiu Suape, destruiu o Rio de Janeiro, o setor naval foi o mais prejudicado. Então agora nós vamos continuar combatendo a corrupção, mas do jeito certo, não com canalhice como eles fizeram”.

“A Lava Jato foi um projeto de destruição do nosso País. E preparando o que? A retirada de uma presidenta e depois a retirada do presidente Lula para colocar um fascista que foi o Bolsonaro. Não quer dizer que seria ele, poderia ser outro, mas o projeto era nos derrotar. Não, eles não toleram a gente. E é isso que eu tento sempre dizer para a esquerda: não se iluda com esses caras. Esse povo da direita, da extrema-direita são lixo, eles são anti-nós, então nós temos que ser anti-eles. É o mínimo. Tudo bem, a musculatura nossa talvez não seja igual, mas se a gente não ser contra, se a gente se curvar, nunca vamos chegar lá, nunca seremos capazes de mudar essa realidade. E no meu entendimento, depois dessa eleição, do jeito que ela foi e nós ganhamos, é possível, sim, mudar. É só acreditar. Se eu estou vivo aqui hoje, é possível”.

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