No final do mês de julho, o Movimento Revolucionário de Trabalhadores (MRT) publicou em seu jornal digital, Esquerda Diário, uma matéria acusando o governo Lula de realizar um corte de R$ 1,5 milhões destinado a diversos fins sociais. No artigo, o MRT reconheceu que o bloqueio aconteceu em função do “Teto de gastos” aprovado no governo de Michel Temer. Mesmo assim, afirmou que o governo Lula estaria dando continuidade à política econômica de Paulo Guedes, em outras palavras, o presidente petista seria equivalente a Jair Bolsonaro na presidência.
Agora com a aprovação do “Arcabouço Fiscal”, que garante um incremento nos gastos acima da inflação mesmo diante de um cenário de descumprimento da meta fiscal, o MRT voltou a atacar o governo por meio de seu Blog com publicação intitulada “Ataque Nacional/Lula sanciona Arcabouço Fiscal, o novo teto que limita investimentos públicos a favor dos banqueiros”. Além disso, assim como fez a imprensa da burguesia, evidentemente com abordagem diferente, atacou os vetos colocados pelo presidente Lula no que se refere à penalização com redução de investimentos em mesma proporção ao descumprimento da meta fiscal, bem como, à exclusão de despesas orçamentárias e de seguridade social.
Como já destacamos aqui neste Diário, qualquer organização que se propõe a defender verdadeiramente os interesses da população oprimida deve se opor a entregar dinheiro para os bancos, finalmente uma organização marxista deve defender um controle popular sobre o sistema financeiro. Não se trata aqui de defender uma política que merecidamente deve ser criticada, evidentemente não como um ataque do governo Lula contra população, mas por ser insuficiente para promover uma mudança significativa na situação de miséria que se encontra o povo brasileiro.
Não é possível compreender o cálculo político do MRT ao tratar o governo Lula como se fosse o equivalente ao governo de Bolsonaro que confiscou a previdência social dos trabalhadores, que vendeu a Eletrobrás a preço de banana e que colocou os banqueiros no controle do Banco Central. Tampouco é possível compreender qual o sentido de caracterizar o governo Lula como representante do neoliberalismo ainda que mereça críticas por ter Geraldo Alckmin como vice-presidente. O MRT teria que explicar o porquê dar burguesia dar um golpe na presidente Dilma para destruir os direitos trabalhistas e garantir o “Teto de gastos” se tais governos são equivalentes, também teria que explicar o porquê de o Supremo Tribunal Federal impedir Lula de participar e vencer as eleições de 2018.
Para o MRT, a reversão das reformas e privatizações realizadas nos governos de Michel Temer e de Jair Bolsonaro dependeria exclusivamente do presidente Lula, não seria necessário convencer um parlamento abarrotado de golpistas, bastaria meter o pé na porta e falar grosso que estaria tudo resolvido. Não há qualquer seriedade no tratamento dos problemas que o presidente Lula enfrenta, de um lado um parlamento que busca inviabilizar o governo, de outro o Banco Central sabotando a economia, tem ainda as Forças Armadas que já deram uma demonstração do são capazes e o Judiciário que age cada vez mais fora lei, além de toda imprensa que já deu iniciou sua campanha golpista.
Não se pode ter a ilusão de que um partido revolucionário teria mais sucesso no lugar do PT, uma organização com tais características nem mesmo chegaria ao governo. Se trata de uma concepção fantasiosa acreditar nessa possibilidade, uma infantilidade absurda. Neste momento, o papel de uma esquerda que se diz revolucionária é apontar os equívocos do governo Lula por meio de uma política combativa, buscando mobilizar para as pautas que realmente podem transformar a realidade como é o caso da luta contra a independência do Banco Central. É preciso impor uma derrota definitiva ao golpe de 2016.
Os ataques ao presidente Lula, além de semearem confusão no interior dos movimentos populares, favorecem somente a direita golpista que mais cedo ou mais tarde buscarão golpear seu governo. Se essa situação se concretiza, teremos um presidente ainda pior do que foi Michel Temer, um possível governo Alckmin promoveria um cenário verdadeiramente de terra arrasada no Brasil. Por isso, uma esquerda revolucionária precisa ter uma política consequente, não pode permitir que os erros do passado se repitam diante dos resultados produzidos pelo regime golpista ainda vigente.