Preparação

Menos investimentos: sintoma da guerra contra a China

Antecipando-se a um conflito inevitável, capitalistas começam a sair do país asiático

Segundo o sítio Nikkei Asia, os investimentos estrangeiros diretos na China atingiram o menor nível em 18 anos: US$ 42,5 bilhões entre julho e dezembro de 2022 segundo o órgão (“Foreign investment in China slumps to 18-year low Foreign investment in China slumps to 18-year low”, 28/2/2023). “Isso constituiu”, continua a matéria, “um declínio de 73% no ano, a queda mais acentuada que remonta aos dados em 1999. O total de meio ano atingiu em média mais de US$ 160 bilhões entre o final de 2020 e o início de 2022.” (Idem).
Repercutindo a matéria, o sítio Poder 360 (“Investimento estrangeiro na China tem pior marca em 18 anos”, 28/2/2023) destaca a política de Covid zero adotada pelo governo chinês como um dos fatores responsáveis pela queda, porém lembra também o que foi identificado pelo Nikkei Asia como a principal fonte da queda: o conflito cada vez mais acentuado com o imperialismo.
“Dados da consultoria Rhodium Group também indicam uma queda no volume de novas empresas europeias entrando na China e uma retenção dos investimentos das que ficaram por preocupações com suspeitas de roubo de tecnologia e espionagem industrial”, diz a supracitada reportagem de Poder 360, que baseando-se em dados do Ministério do Comércio Exterior chinês, acrescenta:
“O IED [Investimento Estrangeiro Direto] efetivamente aplicado, que inclui lucros reinvestidos, teve queda de 35% no ano nos 3 últimos meses de 2022, para US$ 33,8 bilhões.” A matéria conclui informando que este foi o “pior desempenho desde 1996.”
Inegavelmente, trata-se de um novo capítulo na acirrada campanha do imperialismo contra a China, iniciada no governo Trump e exponencializada no governo Biden. Diversos informes proliferam-se na imprensa e nas redes sociais indicando que mesmo a guerra contra a Rússia na Ucrânia não mudou o alvo prioritário das potências imperialistas: a China.
A confirmação deste fato já veio de órgãos como a CNN (“CIA will focus on China with new mission center”, Alex Marquardt, 7/10/2021), do próprio diretor da Agência Central de Inteligência (CIA, na sigla em inglês), Willian Burns, que conforme a supracitada matéria, apontou o gigante asiático como “a mais importante ameaça geopolítica que enfrentamos no século 21”. Em outra ocasião, o FTWeekend Festival, ocorrido em Washington, no dia 7 de maio de 2022 e organizado pelo Financial Times, o diretor da CIA voltou à carga contra a China:
“Apesar do barulho nuclear de Vladimir Putin, Burns disse que os EUA continuam vendo a China, e não a Rússia, como seu principal adversário. ‘[Putin] demonstra de uma maneira muito perturbadora que poderes em declínio podem ser pelo menos tão perturbadores quanto os crescentes’, disse Burns. No entanto, a China ainda representava a maior ameaça”, escreveu o órgão do imperialismo britânico a partir de declarações de Burns (“What the CIA thinks: William Burns on the new world disorder”, Edward Luce, 13/5/2022).
Com tanta campanha, o conflito militar entre o imperialismo e a China torna-se cada vez mais certo, sendo antes uma questão de quando. Com isso, a retirada dos dólares e euros do segundo maior Produto Interno Bruto (PIB, a soma de todas as riquezas produzidas por uma dada sociedade) do planeta e uma das economias de maior dinamismo dos últimos 30 anos, por mais contraditório que possa parecer em termos financeiros, é puramente lógico pensando-se nas condições políticas. Tal fenômeno, contudo, não se desenvolve por meios indolores.
Escolhido pelos monopólios norte-americanos para articular os EUA em seu enfrentamento com a China, o presidente Joe Biden colhe críticas de seus apoiadores. A revista Foreign Policy, influente órgão do chamado “Estado profundo” (“deep state”, em inglês), isto é, o núcleo principal da burocracia militar norte-americana controlada pelas petrolíferas e os bancos, tirou uma matéria lembrando que houve “um suspiro de alívio quando Joe Biden substituiu Donald Trump na Casa Branca há dois anos”(“Biden’s Foreign Policy Is a Mess”, Kori Schake, 10/2/2023). “Com as mãos de Biden (…)”, continuou Foreign Policy, “os Estados Unidos poderiam voltar a ser uma força estabilizadora no mundo”. A matéria, contudo, prossegue criticando a política externa do presidente democrata, que segundo o órgão “late, mas não morde.”
“Tanto em 2021 quanto em 2022, o Congresso considerou os orçamentos de defesa propostos pelo governo Biden tão deficientes que os dois partidos insistiram em mais financiamento para os militares, adicionando US$ 28 bilhões no primeiro orçamento e US$ 45 bilhões no segundo”, diz Foreign Policy (Idem).

Não há dúvida de que o atual mandatário era quem favorecia os interesses do setor mais poderoso da burguesia norte-americana, tendo por isso sido escolhido na disputa presidencial de 2020. A crise do imperialismo, contudo, é tamanha, que até seus articuladores de melhor e mais reconhecida capacidade demonstram-se incapazes de recuperar a força da ditadura global.
Se uma derrota para pastores no Afeganistão proporcionou tamanha crise, a capacidade política das potências imperialistas para enfrentar um colosso como a China é no mínimo questionável. Posto em uma situação desesperadora, contudo, restam poucas alternativas aos governos dos países desenvolvidos, exceto partir para o tudo ou nada contra o gigante asiático, um movimento que pode ao mesmo tempo produzir catástrofes de magnitude imprevisíveis, como também uma nova e poderosa onda revolucionária no planeta.

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