Em recente relatório apresentado pela Comissão da Pastoral da Terra foram registrados em 2022 o total de 2.018 ocorrências de conflitos no campo, envolvendo 909.450 pessoas e 80.165.951 hectares de terras em disputa. Marcado pelo forte agronegócio, o estado do Mato Grosso do Sul possui 32 (40,5%) municípios com conflitos de terra no país.
O DCO há tempos vem denunciando a real situação dos índios brasileiros. As questões centrais giram em torno da fome e da violência, ambas responsáveis por inúmeras vítimas e sem soluções eficazes no horizonte. O fato é que a “atenção excessiva” sobre o povo Ianomami não reverberou em ações amplas que abarquem, conjuntamente, estes dois flagelos sociais aos quais estão submetidas as várias etnias do povo indígena em nosso país.
Na aba do relatório da CPT sobre os assassinatos é possível identificar 47 no total, dos quais 17(36%) foram de indígenas entre 14 e 60 anos. Desse subtotal, seis mortes ocorreram no estado do Mato Grosso do Sul, especialmente no município de Amambaí. Uma das vítimas desse extermínio tinha apenas 16 anos. Mas, como compensação, a prefeitura de Amambaí já está anunciando a semana dos povos indígenas, ou melhor, dos povos indígenas que escaparam! A receita é a mesma eleitoreira, um clássico da direita: jogos, atendimentos de saúde e apresentações de grupos.
É necessário manter em pauta esta questão, pois as investidas de assassinos a serviço do agronegócio não cessam e, cada vez mais, atingem crianças e adolescentes indígenas. É de amplo conhecimento o tiro ao alvo praticado por capangas do agro ao passarem com caminhonetes por um assentamento indígena. Mas, isto parece não incomodar as autoridades, que nada de emergencial e eficaz propõem para a resolução da situação.
Cabe destacar que o estado do Mato Grosso do Sul é governado pelo PSDB, mesmo partido do prefeito da cidade de Amambaí, onde mataram mais índios em 2022. Este partido sempre se apresenta como uma opção higiênica e moderada nas eleições. A verdade é que são tão ou mais violentos e negligentes do que o governo Bolsonaro. Agem com crueldade, inclusive, apoiando conflitos artificiais causados por invasões de empresas, grileiros e empresários do agro a terras que já são, reconhecidamente, dos índios.
A quem os índios devem recorrer? Para responder esta questão, precisamos, inicialmente, reconhecer que as instituições estão a serviço do Estado burguês e nada de efetivo promoverão. Povos vulneráveis como os indígenas recebem a maior parte da atenção em formato de caridade, estudos científicos, plataforma sazonal de políticos oportunistas, fonte de captação de recursos por ONG, manchete midiática. Outro ponto é que, a resolução do problema passa pela dissolução do latifúndio. Este tipo de enfrentamento precisa ser construindo com um governo sólido, apoiado pela classe trabalhadora e as nações indígenas. E, infelizmente, estas condições não estão postas. Mas, precisam ser criadas.
O governo Bolsonaro foi café pequeno diante da situação de abandono dos índios. O PSDB imprime rastro de negligência, violência e desprezo, que, aliás, são os três braços que dão um abraço secular nessa gente. Os índios precisam resistir, mas não o farão sozinhos e sem políticas abrangentes e fortes em fazer cumprir a justiça social. Não são apenas povos originários. São brasileiros!