A situação dos índios brasileiros é de penúria extrema, impossível de ser representada em sua totalidade pelos recentes fatos sobre a desnutrição e mortes dos Ianomâmi. Com a pandemia da COVID-19, os flagelos sociais recaíram sobre os povos indígenas com peso dobrado, dada a história de perseguição, morte, roubo, isolamento e desassistência que traça a memória e a vida dessa gente.
As inúmeras matérias e produções cinematográficas não contemplam o problema do alcoolismo, suicídio, extermínios bancados por fazendeiros, grileiros e policiais a serviço do latifúndio, a desestruturação do modo de vida de tribos isoladas com os danos causados pelo garimpo ilegal, crianças e idosos indígenas com dedos corroídos pela infestação de bicho-de-pé, a violência e a fome.
Em primeiro lugar, o problema que assola os Ianomâmis não é a desnutrição. É a fome. E esta ultima é perene em várias tribos Brasil afora. Há fatos que remontam à década de 80. A permanência da fome deve-se à ausência de política como reforma agrária, demarcação de terras, acesso ao alimento de qualidade, iniciativas governamentais que envolvem regulações de mercado, garantia da posse da terra pelo trabalhador/morador e consequente capacidade de seu uso, direito à alimentação, todas essas que atacam frontalmente os interessas das burguesias locais e internacionais. Neste sentido, ações focalizadas nas consequências (desnutrição) e não nas causas são paliativos.
Um segundo ponto é não deixarmos reduzir a situação dos índios a este fato. Questões sobre a posse de terra, garimpo ilegal, roubo de madeira e tráfico de drogas já exterminaram inúmeros indígenas. Em 2022, três índios Guajajaras foram assassinados em menos de duas semanas no Maranhão. As denúncias são de 48 assassinatos em menos de 20 anos, dos quais 47 foram neste estado.
As denúncias feitas pelo companheiro Magno Souza, da etnia Guarani-Caiouá, candidato a governador pelo PCO no estado do Mato Grosso do Sul, relatam visceralmente o cotidiano de tribos que “atrapalham” os interesses do grande capital.
Na reportagem, que pode ser acessada por meio deste link, Magno apresenta um conjunto de situações que descrevem sua vida e das famílias da comunidade. Falta de acesso à água potável, moradia inadequada, falta de diversidade de alimentos, ausência de condições de trabalhar a terra para extrair maior produção para consumo e venda e violência constante são alguns apontados pelo companheiro.
A situação dos índios brasileiros precisa de medidas completas para impactar positivamente na mudança das condições objetivas de vida. Do contrário, a comoção continuará temporária e focada nas consequências e não nas causas do problema.