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Antônio Carlos Silva

Professor de Matemática. Fundador do PCO, integra a sua Executiva Nacional. Atuou na fundação do Coletivo de Negros João Cândido. Liderou a criação e coordenação dos Comitês de Luta contra o golpe e pela liberdade de Lula. Secretário Sindical Nacional do PCO, coordena a Corrente Sindical Nacional Causa Operária, da CUT.

Coluna

Luz verde ou luz amarela para o governo Lula?

Enquanto alguns dirigentes históricos do PT apontam para o risco da situação, há quem anuncie que tudo está maravilhoso e vai ficar ainda melhor

De forma sincronizada, institutos de opinião – empresas capitalistas vinculadas aos monopólios direitistas da imprensa burguesa – divulgaram, nesta semana, pesquisas sobre a avaliação do governo Lula.

Embora sem maiores sobressaltos, eles apontam um pequeno crescimento das avaliações negativas em relação ao começo do governo.

No Datafolha, o presidente fecha 2023 com 38% de aprovação contra 30% que consideram seu governo ruim ou péssimo; mesmo percentual dos que o consideram regular.

No IPEC (ex-Ibope), os números são semelhantes (gráfico ao lado) e também se assinala uma nova queda na aprovação do governo de três pontos percentuais desde a primeira pesquisa, feita em março passado.

Em ambas, se destaca que haveria uma queda na expectativa em relação ao governo. Segundo o Datafolha, há uma “avaliação crescente e majoritária de que Lula fez menos do que o esperado neste primeiro ano“. Isso é o que teriam afirmado 57% dos entrevistados (contra 51%, em março último), enquanto os que acham que ele superou expectativas caiu de 18% para 16% do esperado.

Na contramão dessa suposta avaliação estatística – que não merece muito crédito -, na mesma semana, a companheira Gleisi Hofmann, presidenta nacional do PT, em participação virtual na reunião da Direção Nacional da CUT, esbanjou otimismo sobre o governo, declarando que “estamos fazendo um governo de reconstrução do Brasil e do Estado brasileiro. O que foi feito nesses últimos 11 meses é sem precedentes na história de um governo. A reestruturação de todos os programas e projetos que foram feitos nos governos Lula e Dilma, todos estão de pé de novo”, e previu que “a vida vai ser boa em 2024”.

Isso quando a situação do governo Lula se mostra bastante difícil, como fica cada dia mais evidente. Confirmam essa avaliação importantes e experientes dirigentes do PT, inclusive que presidiram o Partido, como José Dirceu e José Genoino, duramente atingidos pelo golpe de Estado.

Genoino caracterizou o atual cenário político brasileiro como um período de desarranjo institucional que remonta ao golpe de 2016. Dirceu, por sua vez, criticou o PT por abandonar sua militância e afirmou que os problemas do atual governo levariam a direita a “dar um tranco” no petismo.

São alertas importantes que precisam ser ouvidos por Lula, pelo PT e por toda a esquerda.

O governo é muito frágil. Não tem base no Congresso, é constantemente atacado pela imprensa burguesa, se apoia em acordos que não possibilitam grandes mudanças e está de mãos atadas diante das instituições políticas, dominadas pela direita golpista, o que coloca Lula sob permanente risco. Se houver uma crise mais profunda, principalmente econômica, o governo ficaria ameaçado, sem condições de se impor frente a uma ofensiva da direita. 

Na economia, a situação do governo é ruim, como fica evidente no irrisório crescimento de 0,1% do PIB, que revela uma situação de estagnação econômica. Ao mesmo tempo, segue a sabotagem dos banqueiros e seus capachos, que mantêm as mais altas taxas de juros reais do mundo, que foi reconhecida pela própria presidente do PT, que assinalou que “o inimigo hoje ainda é o Banco Central com juros altos”.

Aumentam as pressões contra o necessário aumento dos gastos públicos em favor da maioria da população e dos investimentos, algo que fica escancarado na discussão do orçamento para 2024.  O governo, pressionado, estabeleceu um plano de taxações que afeta principalmente o povo. Quando tenta estancar minimamente a sangria de recursos públicos para os tubarões capitalistas, como no caso do veto da desoneração da folha de pagamento de 17 setores que mais demitiram do que empregaram nos últimos anos, é duramente atacado não só pelo centrão e toda a direita, que prometeu derrubar o veto, como também pelos “mui amigos” pelegos das centrais sindicais biônicas e pró-patronais, como a Força Sindical, UGT e CSB, que ganharam espaço na imprensa capitalista para apoiar – uma vez mais – os patrões que querem manter a mamata e deixar que a conta da crise seja paga pelos trabalhadores.

Lula não conseguirá implementar a política pela qual foi eleito se mantiver as restrições impostas pela burguesia nos investimentos públicos. Isso tende a fazer aumentar o seu desgaste e a frustração da população.

Soma-se a isso as inúmeras loucuras da ala identitária no interior do governo que ajudaram a diminuir sua aprovação ao impulsionar uma política impopular oriunda do imperialismo. Sem contar no fato de que a direita está colocando ainda mais pessoas de sua confiança em postos-chave, como o STF e a PGR, por meio da indicação do pressionado e chantageado governo.

Ao contrário da política internacional, Lula não tem força para tomar decisões na política nacional.

Agora, porém, com o conflito na Palestina e a pressão gigantesca do sionismo, a pressão sobre a política externa do governo também cresceu, o que pode levar Lula a ceder em determinados pontos para a direita.

Para sair dessa situação de vulnerabilidade, Lula deve contar com a força da mobilização do povo. Ela, no entanto, não está presente na situação política atualmente. Lula precisa mobilizar a base popular e organizada que o elegeu para evitar um desastre.

O presidente e os companheiros do PT que sofreram e lutaram contra o golpe e que não querem que ele (ou algo semelhante) se repita, deviam estar mais atentos aos sinais perigosos que estão “piscando” e não adotar a política capituladora que retardou e tornou inviável uma vitória contra a direita no período anterior.

Aprender das derrotas é uma questão decisiva para quem quer ver avançar a luta do povo trabalhador.

* A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião deste Diário

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