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Entrevista de Lula à CNN

Lula: “eu não estou governando para o mercado, mas para o povo”

Lula não pacificou e seguiu atacando a política de juros altos do Banco Central

Nesta quinta-feira, 15 de fevereiro, o presidente Lula concedeu uma entrevista à jornalista Daniela Lima da CNN. Nela, o presidente discutiu a questão do Banco Central, do salário mínimo, da guerra na Ucrânia e dos comandantes bolsonaristas dentro do Exército brasileiro.

O assunto que tomou o lugar de destaque na entrevista foi a política de juros altos do Banco Central, bem como da relação de Lula com o presidente da autarquia, Roberto Campos Neto.

Lula disse que não era seu papel, como presidente da República, brigar com Campos Neto – apesar de, de acordo com ele, tinha tal direito, pois o burocrata havia sido indicado por Jair Bolsonaro. No entanto, declarou que queria fosse cumprido o que determina a Lei das Estatais, ou seja, que o Banco Central garantisse uma inflação baixa, cuidasse do desemprego e do crescimento do país.

Com isso, o petista justificou a batalha que travou contra o presidente da estatal. Ainda que em tom moderado, tais declarações indicam que Lula rejeitou uma conciliação com o mercado. Afinal, ele deve lutar não só para abaixar a taxa de juros – que, segundo a pesquisa QUAEST, conta com o apoio de 75% da população –, mas para reverter a independência do Banco Central.

Lula comentou sobre a independência da autarquia: “Vamos ver qual vai ser a utilidade da independência do Banco Central para o país. Para mim, nunca foi uma coisa de princípios. Vai ser melhor? Vai melhorar a economia? Se não, nós temos que mudar”, disse o petista.

Tal declaração, apesar do tom muito moderado, deixa clara a política de Lula de não apaziguar as relações com o mercado financeiro e de insistir na briga contra a independência do Banco Central. Afinal, a imprensa tem tentado, diante da reação de apoio dos trabalhadores, jogar panos quentes na questão e fazer Lula mudar de assunto. O próprio Campos Neto recuou em discurso ao mercado financeiro, em que disse que gostaria de conversar com o governo Lula e que também não gosta dos juros altos – mas classificou como um “remédio amargo”.

Lula não abaixou o tom e manteve a ofensiva. O presidente chegou a declarar: “Não estou governando para o mercado, estou governando para o povo”. Além disso, ainda na entrevista à CNN, chegou a dizer que está à disposição de qualquer pessoa para dialogar, mas que não adiantaria conversar com Campos Neto apenas para que, logo em seguida, ele levasse adiante uma política econômica contrária à do governo no que concerne à inflação.

Ou seja, apesar de a imprensa tentar pôr panos quentes, Lula mantém a ofensiva no terreno do Banco Central. Para o petista, é essencial baixar a taxa de juros, bem como é preciso retirar a independência do BC. Trata-se, apesar do tom moderado, de uma linha política correta nesse sentido específico.

Além disso, o presidente chegou a ser perguntado diretamente sobre os “ruídos” entre seu governo e o mercado financeiro. Para a jornalista, defendendo a política da direita, Lula deveria buscar uma conciliação com os empresários, um tom comum.

No entanto, Lula respondeu dizendo que esses “ruídos” eram causados por aqueles que querem especular a qualquer custo. E que seu governo não iria priorizar ter uma boa relação com os empresários se o preço disso fosse vender o país. Nas palavras do petista, “há coisas que não se pode aceitar”, como a privatização da BR Distribuidora; segundo ele, é inadmissível uma empresa que exportava petróleo, agora exportar óleo cru, e o país ter de comprar a gasolina e o óleo diesel de fora apenas para favorecer os acionistas.

Para o presidente, nesse caso, é necessário investir na produção, na exploração e, principalmente, no refino, independentemente dos atritos que isso vá causar com os especuladores. Tais declarações deixam evidente a política de enfrentamento que Lula está levando adiante contra o neoliberalismo e contra o capital financeiro. E há um detalhe importante nesta ofensiva: ele a faz sem ter apoio no Congresso e enquanto sua base social não está mobilizada. Trata-se, portanto, de uma significativa guinada à esquerda.

Posicionamento internacional

Na entrevista, a jornalista da CNN também questionou Lula sobre seu posicionamento em relação à guerra na Ucrânia. Na resposta, o petista defendeu a criação de uma organização de nações não-alinhadas, como o Brasil e a China, para mediar o conflito.

Dentro dessa organização, não poderiam participar, para Lula, nem os Estados Unidos, nem os países europeus, visto que eles enviaram armas à Ucrânia e participam, indiretamente, na guerra ao lado deles.

Ou seja, Lula defendeu que os acordos de paz entre os dois países fossem mediados por essa organização independente, liderada, na prática, por Brasil e China. Trata-se, certamente, de uma posição muito moderada, tanto é que ele chegou a condenar o ataque russo à Ucrânia; ou seja, é uma ilusão com a paz. No entanto, não é uma política servil ao imperialismo em nenhum sentido do termo.

Salário Mínimo: é preciso um aumento significativo

Sobre o salário mínimo, Lula comentou que mudará a base de cálculo. Agora, além de ser reajustado de acordo com a inflação, o salário mínimo receberá, também, o incremento do PIB do ano. Apesar de ser positivo um aumento, é preciso pontuar que se trata de um reajuste muito pequeno; Lula anunciou apenas 18 reais acima do que Bolsonaro havia dado. É preciso impulsionar o salário mínimo a níveis muito mais altos.

De acordo com o DIEESE, o salário mínimo deveria ultrapassar os R$ 6.600. Na realidade, o correto, para um país como o Brasil, é que ele fosse ainda maior que o salário que DIEESE propõe, visto que a Constituição estabelece que ele deve dar conta de atender às necessidades mais elementares da população. Emergencialmente, levando em conta que o governo Lula é um governo preso à institucionalidade burguesa, poderia ser decretado um aumento para R$ 2.000, que já inflamaria sua base; no entanto, apenas 18 reais de aumento é demasiado insuficiente. 

Lula denuncia ataques da imprensa ao PT

No final da entrevista, o presidente não deixou de denunciar a campanha feita pelo imperialismo contra ele e contra Dilma durante o golpe de 2016, ao comentar a indicação da ex-presidente para o Banco do BRICS.

Lula classificou como “criminoso” o vazamento de sua conversa com Dilma, que impediu sua nomeação para ministro da Casa Civil. Além disso, comentou sobre seu cumprimento a Zé Dirceu: para o presidente, Zé Dirceu não deveria andar de cabeça baixa, pois foi vítima, junto do restante do PT, de uma intensa campanha de ataques. Lula citou as mais de 13 horas no Jornal Nacional e as 59 capas de jornais contra ele no período de 9 meses para ilustrar o tom da campanha contra o PT durante o golpe.

Com essa entrevista, Lula deixou evidente para todos o que apenas os mais cegos em matéria de análise política não são capazes de ver: a política que leva adiante, por mais moderada que seja, está em profunda contradição com o imperialismo, e se opõe a ele no sentido fundamental, tanto na questão econômica, quanto na questão internacional.

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