Uma questão que precisa ser esclarecida e discutida com profundidade diz respeito ao caráter do governo Lula. Setores da esquerda insistem em rotular o governo como pró-imperialista. Eles se especializaram em criticar o governo Lula na mesma linha de ataques que faz à direita. Mais ainda, esses mesmos setores buscam insinuar críticas ao PCO, sugerindo a ideia de que nós apoiamos um governo pró-imperialista. Nada mais falso ou grotesco. A desorientação da esquerda brasileira, dessa forma, não está limitada somente às questões de natureza interna, do país, mas se estende ao plano da política e das relações que dizem respeito aos grandes temas internacionais.
No plano da política interna, a questão do posicionamento do governo em relação ao Banco Central (Lula criticou abertamente a independência do BC); as privatizações, o teto de gastos e a lei de responsabilidade fiscal são elementos que indicam claramente que a postura do governo Lula não é de alinhamento, mas de confronto com o imperialismo.
De um ponto de vista geral faz-se necessário compreender que o governo Lula não está alinhado com a política do imperialismo, nem nas questões que dizem respeito à política interna e também externa. O que deve ser visto em primeiro lugar é a problemática da economia e do alinhamento internacional, no plano concreto, e desse ponto de vista o governo não pode ser caracterizado como pró-imperialista. Obviamente que em algumas outras questões de natureza geral, como a participação em organismos internacionais, pedido de ingresso na OCDE e outras situações, não há como se eximir, mas isso não é o determinante.
Sobre a política externa petista, um fato marcante foi a recusa do governo em enviar armas para a Ucrânia. Os europeus procuram apresentar a luta do povo ucraniano como a defesa da democracia, dos direitos dos povos, questões de natureza humanitária e outros apelos emotivos, supostamente contra a “ditadura” dos russos. A declaração de Lula onde ele diz que o presidente ucraniano (Zelensky) é tão culpado pela guerra quanto Putin é a prova cabal do não alinhamento ao discurso do imperialismo, que busca, de todas formas, criminalizar o governo russo pelo início do conflito armado. Isso por si só já seria o suficiente para entendermos que o governo Lula não tem compromissos de alinhamento mais direto com o imperialismo; ao contrário, pois do ponto de vista das recentes declarações do mandatário nacional, a política externa do governo é e provavelmente será de confronto com o imperialismo e não de alinhamento, como muitos setores da esquerda querem fazer crer.
Ora, para que haja esse compromisso e/ou alinhamento o governo teria que adotar uma política neoliberal. No entanto, não há qualquer elemento que indique ou acene nesse sentido, ao contrário. O que precisa ficar compreendido é que do ponto de vista geral, a politica econômica do governo é de tipo nacionalista e não de submissão aos ditames do imperialismo.
O problema central, portanto, diz respeito ao fato de que sob determinadas condições, como é o caso do governo Lula, que não é um governo operário e menos ainda revolucionário, o que precisa ser analisado são as questões fundamentais, determinantes, aquelas que verdadeiramente têm importância e repercutem do ponto de vista da política geral. Dessa forma, mesmo com todas as limitações intrínsecas a um governo composto por elementos pequeno-burgueses e até mesmo burgueses (setores da direita estão na composição do ministério Lula), o governo Lula 3 vem se colocando como independente do imperialismo internacional em questões fundamentais, tanto no que diz respeito aos grandes temas nacionais (privatizações, Banco Central, etc), como internacionais (Cuba, Venezuela, Ucrânia, etc).
Essa política de não alinhamento é, em um sentido geral, progressista e deve ser apoiada na perspectiva da sua ampliação. Daí a necessidade de impulsionar a mobilização da classe operária e dos setores populares para exigir do governo medidas ainda mais ousadas e profundas de enfrentamento ao imperialismo.