Por quê estou vendo anúncios no DCO?

Análise Política da Semana

Lula e o imperialismo

Neste sábado, 18 de fevereiro, Rui Costa Pimenta tratou principalmente da viagem de Lula aos Estados Unidos e a repercussão que teve na esquerda

Análise Política

A tradicional Análise da Semana, com Rui Costa Pimenta, foi ao ar um pouco mais cedo neste sábado por conta do Carnaval.

De início, Rui salientou um fato da maior gravidade que passou “sem ser notado” pela grande imprensa capitalista, que foi a sabotagem aos gasodutos Nord Stream foi feita pela OTAN e pelos Estados Unidos. É importante essa denúncia porque, ao contrário do que muitos podem querer acreditar, a política internacional é um jogo de ações encobertas e sabotagem. Além de mostrar a ação extremamente truculenta do imperialismo que usou desse expediente para forçar os países europeus a utilizarem o gás norte-americano.

Se os americanos têm a capacidade e a ousadia de sabotar uma atividade financeira tão importante de seus parceiros da OTAN, que são parcerias estratégicas internacionais, podemos imaginar o que são capazes de fazer com países como o Brasil e países latino-americanos de um modo geral.

Viagem de Lula

O tema central da Análise foi a viagem do presidente Lula aos Estados Unidos. Muitos setores da esquerda espalharam a ideia, sem fundamento, de que o presidente tenha se submetido completamente ao imperialismo. Como se fosse um servo diante de seu senhor, uma completa rendição.

Os fatos trataram de desmentir essa versão. No meio da semana, Victoria Nuland, a subsecretária de Estado dos EUA, mentora e articuladora do golpe de Estado na Ucrânia, de 2014, e que articulou a guerra que está acontecendo entre esse país e a Rússia, veio a público e disse que os países da América do Sul deveriam ter uma posição definida de apoio aos ucranianos. Em suas palavras, “deveriam calçar os sapatos da Ucrânia”, o que significa sentir o seu sofrimento. Mas, essa situação é culpa dela mesma e de seu país.

Essa declaração joga por terra as acusações sem fundamento que fizeram contra Lula. A revista Veja publicou uma matéria onde o ministro das Relações Exteriores de Lula (Mauro Vieira) teria dito que em relação à Ucrânia o Brasil teria saído de cima do muro. No entanto, o mesmo ministro acaba de declarar que o País não vai vender munições para a Ucrânia, que não queremos nos envolver na guerra e que a política brasileira é a busca da paz.

Rui comentou uma matéria publicada na The Grayzone na qual o ex-primeiro-ministro de Israel, Naftali Bennet diz que os EUA sabotaram todas as tentativas de negociar um acordo de paz entre Rússia e Ucrânia. Essa declaração confirma aquilo que todos já sabiam, de que a política norte-americana não é uma política de paz, ou de neutralidade, mas a guerra. Conforme já foi explicado mais de uma vez, o que está acontecendo na Ucrânia é uma guerra por procuração entre os EUA/OTAN e a Rússia. Quando Lula se coloca a favor da paz na Ucrânia e procura articular um grupo de países para conseguir terminar guerra, está indo totalmente na contramão da política imperialista. Segundo Rui, não é a mesma política do PCO, que defende que em uma luta entre a Rússia e os EUA é preciso ficar do lado dos russos. Mas, mesmo assim, é uma política independente do imperialismo.

Ecologia

Alguns grupos tentaram destacar as declarações conjuntas de que os países defendem a ecologia, o meio ambiente, são a favor da democracia etc. No entanto, essas declarações são meramente protocolares. Não é, como tentaram dizer, a adesão do presidente brasileiro aos Estados Unidos.

É preciso que, em política, não se faça análises apressadas e infundadas, como as que estamos vendo. É preciso estabelecer com clareza as relações entre o governo do PT e o imperialismo de um modo geral. Assim é que poderemos acompanhar a posição do Brasil no cenário internacional.

Nacionalismo burguês

Rui Costa Pimenta aproveitou para descrever como funciona um governo do tipo nacionalista burguês.

Governos desse tipo, que em geral são fracos – pois são países atrasados –, e que pelo simples fato de possuírem na sua sociedade relações de produção capitalista, é dominado pelo capital de maior poder, que é o capital imperialista, quem em geral está presente como uma força econômica, política e social dentro desses países. No Brasil, por exemplo, grande parte da economia está nas mãos do capital financeiro internacional. Isso mostra que qualquer tipo de independência é uma questão relativa.

Para que uma economia seja completamente ‘livre’, teria que estabelecer uma ditadura do proletariado, como fizeram a URSS e Cuba, por exemplo, expropriar a burguesia e colocar o conjunto da economia, ou pelo menos os seus aspectos fundamentais: principais empresas, os bancos etc., sob o controle do Estado. Sem isso, um governo burguês, por mais nacionalista que seja, sempre terá que se equilibrar entre os interesses nacionais e os estrangeiros. É importante estabelecer o caráter científico do problema, caso contrário se teria a impressão de que a política seria apenas um ato de vontade.

Lula foi eleito para governar um Estado que é dominado pela burguesia, parte nacional e parte dominada pelo imperialismo. O Estado brasileiro não é exclusivo da burguesia brasileira, a internacional tem uma participação importante. Conforme se vê nas leis, nas decisões judiciais, ou eventualmente do próprio poder Executivo, que favorecem os grandes grupos internacionais. No Brasil, temos setores da economia que são intimamente ligados ao capital estrangeiro, principalmente os bancos.

Nos últimos trinta anos, podemos notar a influência estrangeira na nossa economia, como a privatização da Petrobrás, que vai totalmente contra os interesses nacionais brasileiros. Privatizaram toda a comunicação de telefonia, internet. O mesmo com a Vale do Rio Doce, a empresa que detém, provavelmente, as maiores jazidas minerais da Terra. A passagem criminosa do controle da Eletrobrás, recentemente, no governo Bolsonaro, para as mãos do grande capital. O que só traz prejuízo para a economia nacional.

Essa política lesiva foi aprovada pelos governos, pelo Congresso, referendadas pelo Judiciário. É uma espécie de política oficial do Estado brasileiro que é sócio dessas empresas – Petrobrás, Eletrobrás etc. –, o que demonstra a aliança entre a burguesia nacional e a imperialista.

Uma mostra da pressão que esses grupos internacionais exercem sobre a economia fica patente nas decisões do governo sobre o preço dos combustíveis, que são reajustados levando-se em consideração, também, os interesses dos ‘sócios’ estrangeiros. Tudo isso tem que se ter em mente para analisar a política externa do governo Lula.

Tudo isso é importante para se entender que sem uma revolução que antes exproprie esse grande capital estrangeiro, o Brasil nunca será de fato um país independente. Não importa quantas eleições a esquerda ganhe, pois quem controla a economia controla também a política.

Essa situação não é nova, e muito menos exclusiva, é assim com todos os países dominados pelo imperialismo. Os governos reformistas tentam se equilibrar nessa balança onde pesam os interesses nacionais e os estrangeiros. É um erro acreditar que um governo nacionalista burguês tenha uma ação tão poderosa que neutralize a política do capital imperialista. Isso, em geral, não acontece. Por mais que um governo possa ir longe em suas reformas.

Um exemplo, que é mais uma exceção do que uma regra, foi o governo Nasser, no Egito (1958-70). Ali, os governos que deram o golpe de Estado: 1) estabeleceram uma ditadura que tinha apoio popular; 2) o governo se apoiava na URSS para equilibras as forças como imperialismo. O que foi fundamental para realizar o projeto de engenharia no rio Nilo para desenvolver a agricultura no país e também para a geração de energia elétrica. A represa de Assuã foi completamente financiada pela URSS. Mesmo assim, não recebeu o devido apoio para combater e vencer Israel na Guerra dos Seis Dias. O que mostra que mesmo um nacionalismo burguês, por mais radical, terá dificuldades de ter uma política verdadeiramente independente.

Isso deve servir para balizarmos, ou entendermos a política do PT, que em muito se parece com aquela que Vargas estabeleceu durante o Estado Novo. Naquele momento o imperialismo estava dividido e o governo brasileiro ora se apoiava no imperialismo alemão, ora no norte-americano, e barganhava para conseguir a realização de seus objetivos. Assim conseguiu apoio para construir a primeira grande siderúrgica brasileira, a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), em troca de uma base em Natal, no Rio Grande do Norte.

O governo Lula tem agora uma situação de polarização internacional onde os Estados Unidos se encontram enfraquecido; há uma guerra iminente que pode afetar enormemente os países europeus e, de outro lado, a formação de um bloco de países atrasados, porém muito poderosos regionalmente, que são os países dos BRICS.

A importância desse bloco já se demonstra com a viagem marcada de Lula para a China para conversar com Xi Jinping, e o ministro da Economia vai viajar para a Índia. Além disso, o presidente já declarou que quer formar um bloco de países, que sejam capazes de negociar a situação na Ucrânia, que dificilmente prejudicará um dos membros dos BRICS, a Rússia.

Caso o Brasil consiga uma posição de mediador desse conflito, se fortalecerá internacionalmente porque conseguirá negociar nesse equilíbrio de interesses. Ora se aproximam dos russos e assim ‘seduzem’ os americanos para acordos benéficos ao país.

Ecologia

Muito se deu atenção, nessa reunião nos EUA, foi a questão da ecologia, do racismo, da democracia, da luta contra o fascismo internacional etc. É evidente que o governo Lula considera esses pontos fortes seus junto ao imperialismo, não se trata de estar cedendo, mas de notar que há um interesse imperialistas nesses assuntos e procura explorar esses aspectos em favor dos interesses da política econômica do governo. O que mais buscam os países nacionalistas é conseguir o máximo de espaço de manobra na política econômica.

Compreender essas questões faz com que consigamos entender o que o governo do PT está tentando fazer. Pois, embora não apoiemos essa política em seu conjunto, pois o PCO luta pela expropriação das propriedades do imperialismo no Brasil e por nossa completa independência no campo internacional. As diferenças com o governo Lula não estão no detalhe, é uma questão de concepção, jamais o PCO defenderia uma unidade com os EUA pela defesa da democracia. Ainda mais se considerarmos que ali se trata da se trata da sede do golpe de Estado no mundo, é um governo que apoia os nazistas na Ucrânia e em diversos países.

Apesar de não apoiar, em geral do governo Lula, temos de compreendê-lo de maneira precisa, o que permite a ele se faça críticas calcadas na realidade, para não se cair na tolice de dizer que a viagem aos EUA tenha sido um ato de rendição. Temos que criticar, mas apoiar toda as vezes em que entra em choque com o imperialismo, como no caso do conflito na Ucrânia. Pois não se trata de apoiar o governo Lula, mas o próprio programa do PCO.

Não se pode incorrer no erro de tributar a uma simples viagem diplomática, como tem feito boa parte da esquerda, um ato de servilismo, pois, antes da viagem, na reunião da Celac, o Brasil deixou claro que é contra a intervenção na Venezuela, contra o embargo econômico a Cuba, contra a pressão ao governo Ortega, na Nicarágua. Ou seja, para um governo ‘servil’, estamos vendo uma série de atritos.

Para classificar o governo Lula, não como um governo nacionalista burguês, mas submisso aos interesses imperialistas, teríamos de compará-lo a um governo Collor, FHC, Temer ou Bolsonaro. E teríamos que mudar a política em relação a esse governo, pois seria um governo inimigo da classe trabalhadora, o que seria um absurdo manifesto. Pois, apesar de ainda estar tendo dificuldades, é visivelmente um governo de reformas sociais e econômicas.

O aumento do salário-mínimo, por exemplo, apesar de muito limitado, é uma iniciativa do governo, não existe uma pressão direta das massas para que isso aconteça. Foi reestruturado o Bolsa Família, ampliou-se a faixa das pessoas que não vão pagar o imposto de renda. É um governo que levantou a questão da retomada do controle das refinarias e da Eletrobrás, criticou a independência do Banco Central. Portanto, é preciso considerar que se trata de um governo nacionalista.

O erro de caracterização de um governo foi o que levou boa parte da esquerda à lamentável tomada de posição de se juntar com o imperialismo pela derrubada do governo Dilma Rousseff, que, apesar de ser bem mais moderado que o governo Lula, ainda assim era um reformista. Enquanto o PCO lutava contra o golpe de Estado, ouvia de outros setores que se tratava de um governo servil ao imperialismo. E ainda usavam esse argumento para dizer que a burguesia não queria derrubar o governo Dilma pelo seu servilismo. A realidade tratou de demonstrar que não era nada disso, o governo foi derrubado pelo imperialismo.

A viagem interessa ao Brasil, pois demonstra que é capaz de ter boas relações com a principal economia do mundo, bem como favorece ao próprio governo Biden aparecer negociando com a segunda economia do continente, pois esse governo está passando por sérias dificuldades dentro e fora dos Estados Unidos. Reforça a posição de Biden junto à ala esquerda do Partido Democrata, dos sindicatos etc.

A visita aos EUA teve uma importância relativa. O que há de mais importante para acontecer, deverá vir agora, com as viagens à China, Índia e eventualmente nas questões relativas à Ucrânia. O Brasil também tirou uma resolução com outros países latino-americanos criticando a ocupação dos territórios palestinos pelos israelenses. Disseram que a posição (elogiada pela grande imprensa) é idêntica à dos Estados Unidos, mas todos sabemos que se estes o fazem é por puro cinismo, pois vetam quaisquer resoluções contra Israel no Conselho de Segurança da ONU.

Gostou do artigo? Faça uma doação!

Apoie um jornal vermelho, revolucionário e independente

Em tempos em que a burguesia tenta apagar as linhas que separam a direita da esquerda, os golpistas dos lutadores contra o golpe; em tempos em que a burguesia tenta substituir o vermelho pelo verde e amarelo nas ruas e infiltrar verdadeiros inimigos do povo dentro do movimento popular, o Diário Causa Operária se coloca na linha de frente do enfrentamento contra tudo isso. 

Diferentemente de outros portais , mesmo os progressistas, você não verá anúncios de empresas aqui. Não temos financiamento ou qualquer patrocínio dos grandes capitalistas. Isso porque entre nós e eles existe uma incompatibilidade absoluta — são os nossos inimigos. 

Estamos comprometidos incondicionalmente com a defesa dos interesses dos trabalhadores, do povo pobre e oprimido. Somos um jornal classista, aberto e gratuito, e queremos continuar assim. Se já houve um momento para contribuir com o DCO, este momento é agora. ; Qualquer contribuição, grande ou pequena, faz tremenda diferença. Apoie o DCO com doações a partir de R$ 20,00 . Obrigado.

Apoie um jornal vermelho, revolucionário e independente

Em tempos em que a burguesia tenta apagar as linhas que separam a direita da esquerda, os golpistas dos lutadores contra o golpe; em tempos em que a burguesia tenta substituir o vermelho pelo verde e amarelo nas ruas e infiltrar verdadeiros inimigos do povo dentro do movimento popular, o Diário Causa Operária se coloca na linha de frente do enfrentamento contra tudo isso. 

Diferentemente de outros portais , mesmo os progressistas, você não verá anúncios de empresas aqui. Não temos financiamento ou qualquer patrocínio dos grandes capitalistas. Isso porque entre nós e eles existe uma incompatibilidade absoluta — são os nossos inimigos. 

Estamos comprometidos incondicionalmente com a defesa dos interesses dos trabalhadores, do povo pobre e oprimido. Somos um jornal classista, aberto e gratuito, e queremos continuar assim. Se já houve um momento para contribuir com o DCO, este momento é agora. ; Qualquer contribuição, grande ou pequena, faz tremenda diferença. Apoie o DCO com doações a partir de R$ 20,00 . Obrigado.

Quero saber mais antes de contribuir

 

Apoie um jornal vermelho, revolucionário e independente

Em tempos em que a burguesia tenta apagar as linhas que separam a direita da esquerda, os golpistas dos lutadores contra o golpe; em tempos em que a burguesia tenta substituir o vermelho pelo verde e amarelo nas ruas e infiltrar verdadeiros inimigos do povo dentro do movimento popular, o Diário Causa Operária se coloca na linha de frente do enfrentamento contra tudo isso. 

Se já houve um momento para contribuir com o DCO, este momento é agora. ; Qualquer contribuição, grande ou pequena, faz tremenda diferença. Apoie o DCO com doações a partir de R$ 20,00 . Obrigado.