O Ministro da Agricultura, Carlos Fávaro (PSD-MT), foi licenciado do cargo para retornar ao Senado. Sua missão era votar a favor da nomeação de Flávio Dino para o STF. Cumprir essa missão foi fácil para Fávaro. Afinal, ficou claro que Dino era mesmo o queridinho da direita para ocupar a vaga na Corte.
Mas Fávaro aproveitou seus dias de senador para derrubar o veto do presidente Lula ao Marco Temporal.
No Senado, 53 dos 81 senadores votaram a favor de derrubar o veto de Lula; na Câmara, 327 dos 513 deputados foram favoráveis à derrubada.
Os “aliados” do governo Lula não pensam duas vezes para seguir a indicação do governo, desde que seja para aprovar uma política direitista, como é o caso da indicação de Dino. Quando é algo minimamente progressista, os “aliados” rapidamente se transformam em principais inimigos.
O voto de Fávaro, membro da bancada de latifundiários, não surpreende pelo teor. É óbvio que um elemento como ele iria aprovar o Marco Temporal contra os índios. O mais grave não é o direitismo de Fávaro.
O escandaloso é que o voto de Fávaro vai contra o veto de Lula ao Marco Temporal. Um ministro sai de dentro do próprio governo para votar abertamente contra o presidente da República que o colocou no cargo.
A atitude ostensiva de Fávaro revela algumas coisas importantes.
Em primeiro lugar, fica claro que Lula tem pouco controle sobre o próprio governo a ponto de um ministro não ter nenhum pudor em confrontar publicamente a decisão do presidente.
Em segundo lugar, a política de conciliação está colocando Lula cada vez mais como um refém da direita. Lula decidiu vetar o Marco Temporal, mas e daí? O “aliado” da direita é liberado para ir defender o governo no Senado e acaba votando contra o governo.
O correto seria Lula demitir Fávaro imediatamente, mas Lula fará isso? Terá condições políticas de enfrentar a direita?
A posição de Lula é complexa. O principal erro da esquerda seria acreditar que a política de conciliação com a direita irá resolver os problemas, que a habilidade de Lula em manobrar seria suficiente. A única saída para ajudar o governo a sair dessa encruzilhada política é uma mobilização que coloque a direita na parede. É preciso que Lula se apoie nas massas para enfrentar os direitistas que o chantageiam dentro e fora do governo.