No Brasil, após a operação Dilúvio de Al Aqsa, no dia 7 de outubro, uma polêmica vem se abrindo no interior da esquerda e da luta em solidariedade e defesa do povo palestino. Entre as manifestações e especialmente nas redes sociais, é colocada a questão: apoiar o Hamas é apoiar o povo palestino, ou seria contraproducente declarar apoio aberto ao partido revolucionário palestino?
Em especial entre a esquerda autodeclarada revolucionária, o debate tem adotado contornos mais radicais e as tensões acompanham a polarização internacional, e seu desenvolvimento no Brasil, o qual ocorre de maneira mais lenta. Assim, o Partido da Causa Operária, partido mais engajado na questão, com materiais impressos, uma cobertura minuto a minuto e inúmeros materiais de imprensa de todo tipo, é acusado de antissemita por defender a resistência armada palestina, como se fosse um grupo de extrema-direita que não estaria interessado em defender o povo palestino, mas em sabotar essa luta. Os setores anti-Hamas buscam até mesmo expulsar o PCO das manifestações.
Não entrando na questão dos materiais como panfletos, cartazes e adesivos, na campanha de rua do Partido, a qual é incomparável dentre toda a esquerda, vejamos a cobertura dos meios digitais, mais facilmente verificáveis para o observador comum. Para tanto, este Diário pesquisou nos sítios da esquerda chamada revolucionária que polemiza com o PCO na questão do apoio ao Hamas. Dentre os partidos “radicais”, revolucionários”, contabilizamos o seguinte em número de artigos:
MRT – Esquerda Diário – o maior dentre tais organizações, 63 artigos;
PCB RR – sítio Em Defesa do Comunismo – 31 artigos;
PSTU, entre notas publicadas no sítio oficial e no jornal digital Opinião Socialista – somados, 30 artigos;
Esquerda Marxista (agora Organização Comunista Internacionalista) – 13 artigos;
UP – 3 artigos, mais 10 artigos no jornal digital A Verdade, totalizando 13 publicações;
PCB – 9 artigos, mais 2 no jornal digital O poder popular, totalizando 11 publicações.
Somados todos os grupos que acusam o PCO em todas as frentes como uma organização que não defende a Palestina de fato, têm 161 artigos, nos em torno de 30 dias de conflito aberto, desde o início da operação Dilúvio de Al Aqsa.
O Diário Causa Operária, sozinho, já conta com mais de 850 artigos publicados a respeito da questão palestina. Ou seja, o que tais organizações chamam de luta, comparativamente a um órgão da Causa Operária apenas, empalidece. Somados os artigos de todas as organizações juntas, segundo a nossa pesquisa, não chegam a 20% da produção deste Diário. Considerando uma margem de erro, chegam a uma produção de pouco mais dos 20%, os seis em conjunto.
Fica comprovado, com o breve exercício jornalístico e matemático, não é à toa a brutal diferença de tom entre a pequena-burguesia esquerdista “revolucionária” e aqueles que defendem a Palestina sem colocar barreiras, meias-palavras, ou adotar posições centristas, defensivas. A diferença de política coloca a campanha em uma escala diferente no próprio sentido qualitativo. Não é uma pequena cobertura, mas uma campanha, com convocação aos sete ventos para aglomerar o conjunto da esquerda, da militância e dos simpatizantes da causa palestina, para mobilizar a todos esses setores.
Enquanto o povo palestino sofre um genocídio, considerações abstratas sobre o caráter religioso de um ou outro grupo, a respeito da imprensa burguesa, da repercussão da campanha em defesa da Palestina nos veículos sionistas do imperialismo e outras bobagens nada mais são que uma tentativa de impedir o movimento de avançar, de frear o avanço da classe operária no Brasil.
A capitulação da esquerda pequeno-burguesa é fútil, no entanto. Em todo o planeta, a polarização cresce e no Brasil não é diferente. A defesa concreta da luta palestina, a oposição visceral ao imperialismo é inevitável, faz parte do processo histórico, é a tendência de toda a classe operária mundial. De uma forma ou de outra, a campanha irá até o final e, se pode dizer inclusive, está chegando ao ponto de se tornar incontível no País.
