No dia 5 de setembro, o apresentador Gregório Duvivier concedeu entrevista ao canal da Revista Fórum. O programa aconteceu logo depois que Duvivier defendeu, em seu programa na HBO, Greg News, a campanha pela “mulher negra no STF”.
Para se defender das acusações de que a campanha era guiada por interesses de organizações financiadas pelo imperialismo e com o objetivo de desgastar o governo Lula, Duvivier acabou expressando o que pensa sobre o golpe de 2016.
Ao se referir às reações da esquerda contra a campanha da “mulher negra pra o STF”, Duvivier afirma que “ouvir a população é muito mais importante do que de cara acreditar e julgar que é um movimento orquestrado. Tem gente no PT que acha até hoje que Dilma caiu só pelos acertos dela. Caiu porque ela era honesta demais, porque ela era brava e valente demais. Mas é chato e é duro perceber que não, que o PT cometeu erros, sim, e que caiu também pelos seus erros”. Tem gente até hoje dizendo que de fato a Dilma era tão honesta e tão séria que a CIA se juntou ao PSOL e ao Soros para tirá-la”.
Logicamente, para tentar embelezar a sua avaliação, Duvivier diz que concorda que Dilma é uma pessoa “honestíssima” e que a pedalada foi uma “sacanagem” e que “tudo foi um grande plano para derrubá-la”. Mas se “não tivesse colocado Joaquim Levy e não tivesse feito o jogo da classe dominante ela não teria caído”.
Duvivier precisa decidir se tudo foi um grande plano para derrubá-la, ou seja, uma conspiração golpista, ou não. Se ele acredita que foi um grande plano, por que ironiza dizendo que a “CIA se juntou ao PSOL e a Soros para derruba-la”?
Essa incoerência revela apenas que Duvivier acredita que a queda de Dilma foi legítima, ainda que parcialmente legítima. O povo ficou insatisfeito pelas coisas ruins que ela fez e ela acabou caindo.
Segundo essa genial análise de Gregório Duvivier, Dilma foi derrubada merecidamente. No fundo, a ideia de Duvivier é como a da pessoa que justifica um estupro porque a mulher deu razão ao usar uma saia curta. A culpa também é da vítima! É chato e é duro perceber que é assim, Duvivier.
Dilma teria sido derrubada pelas coisas que ela fez de errado. Mas se fosse assim, se a presidenta fez tantas coisas do agrado da burguesia, por que a burguesia a derrubou?
Duvivier mostra-se um golpista impenitente. Até o criador do termo “petralha”, Reinaldo Azevedo, grande propagandista do golpe de 2016, teve que botar uma máscara para disfarçar; Duvivier, não.
O apresentador quer dar uma lição de moral no governo do PT, como quem diz: “se não se comportar direito como em 2016, vai acabar sendo derrubado”. Se comportar direito, em 2016, era, como diz Duvivier e os golpistas da época, “ouvir o clamor das ruas”. Para o atual governo, se comportar bem é, por exemplo, escolher uma mulher negra para o STF.
Dilma realmente cometeu um erro ao colocar Joaquim Levy e cometeu outros erros mais ou menos graves do que esse. As sinalizações que o PT fez para a direita eram tentativas erradas e desesperadas de tentar manter um apoio que a burguesia já não estava disposta a dar. Não havia mais margem de acordo com ninguém.
Mas, segundo Gregório Duvivier, Dilma caiu porque o povo ficou insatisfeito. Assim, apagamos a existência da operação Lava Jato, da participação do FBI, o monopólio da imprensa caluniando e mentindo sobre o PT. Segundo, Gregório, isso tudo seria apenas teoria da conspiração, não uma conspiração de verdade. Dilma só caiu mesmo porque escolheu Levy, que operação golpista que nada!
Duvivier é um apologista do golpe de Estado de 2016, certamente um pouco envergonhado, depois de tudo o que aconteceu desde então. O governo do PT não caiu graças a uma conspiração internacional, mas porque o povo quis assim, pois não gostou da escolha de Levy. No fim, se foi o povo, não ouve um golpe, houve vontade popular.
É interessante que essa ideia estúpida apareça justamente quando uma campanha orquestrada e financiada pelo imperialismo apareça, com o mesmo ar de progressista, para desgastar o governo Lula.
Diferentemente do que diz Duvivier, a campanha pela mulher negra no STF não é pressão de movimentos sociais, é pressão estrangeira sobre o governo nacional. A defesa de reivindicações do povo é legítima, mas esse não é o caso aqui. Nem a pauta é do povo, nem as organizações que a levam adiante são populares.
Não tinha povo na rua para pedir que Dilma caísse, eram desclassificados de classe média alta e da burguesia guiados pela campanha feita pela Rede Globo e restante da imprensa golpista. Quem estava na rua era já o embrião dos bolsonaristas de hoje, que pediam intervenção militar, prisão da esquerda e outras bizarrices.