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Esquerda filoimperialista

Jones Manoel está contra os golpes nacionalistas na África

Seguindo a lógica de suas posições anteriores, Jones Manoel está mais uma vez ao lado do imperialismo.

O youtuber, agora ex-PCB, Jones Manoel, se aventurou a analisar a série de golpes de Estado que, nas últimas semanas, ocorreram no continente africano, sobretudo nos países do Sahel, uma região que enfrenta há décadas e décadas a opressão do imperialismo. O resultado da análise é, podemos dizer, desastroso.

No vídeo intitulado “Golpismo militar na África”, publicado no seu canal do Youtube, Jones Manoel vomita, em parcos 20 minutos de exposição, uma quantidade verdadeiramente aberrante de ideias confusas, absurdas e que, em última análise, confirmam aquilo que este Diário aponta há tempos: Jones Manoel não passa de um representante da esquerda filo-imperialista.

“Não existe anti-imperialismo russo e chinês”, afirma o inteligentíssimo Jones Manoel.

Todos os recentes golpes de Estado, especialmente os que tiveram lugar no Mali, Chade, Guiné, Burkina Fasso e Níger, tiveram um importante traço em comum, que se sobressaiu frente a outros: os golpes implicaram uma aproximação em favor especialmente da Rússia.

Jones Manoel trata então de prevenir quem veja nisso qualquer elemento, sintoma ou atributo anti-imperialista. Para o youtuber, “Não existe um anti-imperialismo russo e chinês, porque nem a Rússia, nem a China se propõe à criação de um modelo alternativo ao capitalismo neoliberal como está vigente no mundo.”

O “influencer”, malandramente, afirma que não quer entrar no debate sobre se Rússia ou China constituem ou não países imperialistas, já que, segundo ele, isso “não é central para reflexão da gente”. No entanto, é justamente a questão do imperialismo que está colocada no centro de todo o problema envolvendo os movimentos nos países africanos. Jones Manoel tenta jogar abertamente a questão do imperialismo por uma janela, para, logo na sequência, introduzi-la sorrateiramente por outra. 

Para ele, China e Rússia seriam “competidores na ordem imperialista mundial” e sua aproximação com os mencionados países africanos não significaria nada além do que uma “renegociação dos termos da dependência”. Ou seja, o youtuber não quer se comprometer com a afirmação de que Rússia e China seriam imperialistas, mas, na prática – e é isso o que decorre de sua tese absurda -, é o que ele pensa. Para Manoel, Níger trocou – ou vai acabar trocando – a França pela Rússia na “relação de dependência”.

Possivelmente, afirma ele, “os termos da relação trarão alguma vantagem para a nação africana, mas o que é preciso destacar é que a dependência continua”. Traduzindo os malabarismos de quinta categoria do “analista”, o que temos, na prática, é a identificação da Rússia como um país imperialista, um país que manteria as relações de dependência em que se encontram os países africanos em questão. 

País de capitalismo atrasado, cuja economia gira em torno fundamentalmente da exportação de matérias-primas, um país que nem de longe possui as condições para dominar outros países e seus mercados e fontes de matérias-primas, a Rússia e China definitivamente não são países imperialistas. Traçar um sinal de igual entre EUA, Inglaterra, França etc., de um lado, e Rússia e China, de outro, é uma tentativa de mascarar a ação do primeiro grupo, o grupo dos países verdadeiramente imperialistas.

“Retórica anticolonial”

Referindo-se em particular a Ibrahim Traoré, principal dirigente dos militares nacionalistas que desfecharam o golpe recente em Burkina Fasso e atual presidente do país, Jones Manoel afirma que o que existe de fato na situação não é uma ação anticolonial, mas uma “retórica anticolonial”. Traoré, segundo o “webcomunista”, “emula a estética de Thomas Sankara”, e seria natural reivindicar no momento atual elementos do “anticolonialismo histórico”.

Traduzindo: o golpe em Burkina Fasso, assim como os demais golpes nos outros países, não questionam o imperialismo. Há tão somente “retórica”, palavras jogadas ao vento, uma imitação da “estética” (Jones Manoel se refere, provavelmente, à vestimenta dos militares rebeldes) dos movimentos anti-imperialistas.

No Níger, por exemplo, os militares derrubaram um governo capacho do imperialismo francês e anunciaram a suspensão de todos os acordos de cooperação militar com a França, rejeitando qualquer tipo de intervenção militar estrangeira no país. Foi também anunciado um decreto que determina a retirada dos embaixadores da França, dos Estados Unidos, do Togo e da Nigéria. A França e os países imperialistas, por outro lado, se movimentam neste exato momento e o risco de uma intervenção militar estrangeira é real.

Mas, para Jones Manoel, toda essa crise não é mais que retórica e emulação estética. O grande objetivo de Jones Manoel é jogar areia nos olhos do espectador. Ele se esforça para ofuscar o sentido real dos golpes nesses países. Todos esses golpes foram dirigidos por setores nacionalistas e se endereçaram contra o imperialismo. Trata-se efetivamente da objetividade das coisas. Ao fim e ao cabo, os golpes constituíram uma derrota para o imperialismo de conjunto, uma vez que perderam posições políticas em cada um desses países. Certamente que as direções nacionalistas que lideraram as movimentações contra o imperialismo apresentam problemas e inconsistências programáticas. No entanto, o movimento que colocaram em marcha se choca com o imperialismo, tenham ou não consciência disso.

“Projeto anticolonial de esquerda e…”

Os absurdos não param por aí. Jones Manoel ainda utiliza uma última cartada para obscurecer o caráter anti-imperialista dos movimentos golpistas na África. Ele nos oferece uma verdadeira revelação revolucionária. 

Por meio de Jones Manoel, ficamos sabendo que existem projetos anticoloniais de esquerda e… de direita. Sim, de direita! O “comunista” de Youtube nos dá exemplos. Nos seus termos, a Revolução Iraniana de 1979, por exemplo, desenvolveu um projeto anticolonial que não é de esquerda nem é socialista. Igualmente o Iraque de Saddam Hussein e a Rússia de Vladimir Putin também possuiriam traços anticoloniais, mas nem por isso poderiam ser identificados como de esquerda, e muito menos socialistas. São “projetos anticoloniais de direita”.

Qual a função dessa classificação bizarra? Trata-se de um artifício grotesco justamente para criar a justificativa para não apoiar os “projetos anticoloniais de direita”. O antimarxista Jones Manoel analisa a política com a régua da ideologia, daquilo que cada um fala de si mesmo. Esse conceito verdadeiramente idiota é uma folha de parreira por trás da qual determinados grupos de esquerda, inclusive alguns que se reivindicam revolucionários, procuram esconder seu apoio ao imperialismo ou sua oposição, que às vezes assume a forma de “neutralidade”, a movimentos que confrontam na prática o imperialismo. O que Jones Manoel quer afirmar é que nem todo “projeto” ou movimento anticolonial deve ser apoiado. Que o apoio dependeria, no final das contas, da direção do movimento. Se se está diante de um movimento anticolonial liderado por uma direção política com ideologia reacionária, como, por exemplo, o Talibã no Afeganistão, então os comunistas e revolucionários do mundo não deveriam apoiar tal movimento. O importante, para Manoel, é a ideologia professada pela direção, e não o sentido real, objetivo, do movimento anticolonial. Jones Manoel confere primazia à forma em detrimento do conteúdo. O fato de o movimento se confrontar com o imperialismo é considerado por ele como de segunda importância. Tem-se aqui uma posição decisiva, que conduz necessariamente a um apoio ao imperialismo.

“Calma, prudência, vamos observar o que acontece”

E o que Jones Manoel propõe, após fazer todas as considerações acima resumidas? Simplesmente nada. Ele declara que é hora de ter paciência, prudência; não é hora de declarar apoio a tais movimentos que parecem se voltar contra o imperialismo; é preciso esperar, porque a coisa ainda não está clara; afinal, esses movimentos ainda podem se demonstrar como “projetos anticoloniais de direita”. 

Jones Manoel, pela enésima vez, prova que não é mais do que um diletante. À crise na África, uma crise com evidentes potenciais revolucionários, ele responde com: “vamos observar o que acontece”. Mas temos que dizer que a atitude de mero espectador não é senão uma forma envergonhada de esconder sua oposição aos movimentos nacionalistas que questionam a dominação imperialista nos países do Sahel. Seguindo a lógica de suas posições anteriores, Jones Manoel está mais uma vez ao lado do imperialismo.

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