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Dourados (MS)

Índios presos sofrem com problemas de saúde e falta de remédios

Alguns têm mais de 60 anos e estão sem tomar remédios controlados há duas semanas

Eduardo Vasco, de Dourados (MS)

Júlio de Souza tem 77 anos. Ele foi detido pela Polícia Militar na manhã do dia 8 de abril, quando a PM entrou na retomada Nova Iwu Vera, realizada na noite do dia 6 pelos índios da retomada Iwu Vera em resposta à construção de um condomínio de luxo em território reivindicado por eles.

A ação da PM se deu após um indígena anônimo, embriagado, de uma outra aldeia da região, brigar em um bar da região e ir à delegacia se queixar. Contudo, ele não acusou ninguém de feri-lo. Conforme as denúncias dos indígenas, a PM utilizou o caso para retaliar os índios por realizarem a retomada.

Ao chegar à retomada, realizada por cerca de 20 índios, a PM encontrou apenas metade deles. Acreditando que poderiam conversar com o delegado na delegacia, eles entraram nas viaturas e acabaram sendo detidos quando chegaram à delegacia.

“Eu vim da minha casa para tomar um chimarrão com a gurizada e, quando cheguei aqui, a polícia me prendeu. Sem que eu tivesse tempo de tomar o chimarrão. Prenderam todos”, conta Júlio.

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Nesse momento, alguns índios voltaram à retomada e ainda viram a ação policial. Um jovem indígena tentou filmar a ação, mas um PM pegou seu celular e apagou o material para impedir seu registro e divulgação. Os policiais saíram em retirada rindo e debochando dos índios, segundo as denúncias, e ainda por cima ameaçaram atropelá-los. Algumas lideranças suspeitam que os agentes não são de Dourados, mas vieram de Campo Grande.

A polícia acusa os índios de terem atacado um “caseiro” da propriedade ocupada, que na verdade seria o indígena que havia ido à delegacia prestar queixa após a briga de bar. Entre as acusações, constam porte de armas, esbulho possessório, ameaças e danos à propriedade.

“Isso é mentira da polícia”, denuncia Júlio. “Quem estava armada era a polícia, nós não. O que podem ter feito é plantar alguma ‘prova’ no bolso da gurizada.” Ele reafirma que os policiais convenceram os índios de assinarem uns papéis na delegacia com o delegado e tudo daria certo. “Aí nós aceitamos a conversa deles e fomos para a delegacia.”

Pelos crimes que estão sendo acusados, os índios não poderiam estar sendo investigados em regime fechado, deveriam estar soltos. O filho de um dos presos, que não quis se identificar, com medo de represálias da polícia, também afirma que as acusações das autoridades são falaciosas. “Meu pai não é disso, ele é um cidadão de bem, assim como todos os que foram presos”, conta. Seu pai tem 58 anos e, na opinião do filho, está sendo perseguido junto com seus companheiros porque sua luta entra em conflito com os interesses da empresa de construção, a Corpal, que está erguendo o condomínio de luxo na área em disputa, e a polícia atende a esses interesses.

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Júlio conseguiu não ser preso por causa da idade avançada, mas imaginava que os outros nove indígenas também seriam soltos, porque não haviam feito nada de errado. “Eu soube que eles estão sofrendo muito lá dentro com esse tempo frio e estou muito preocupado. Eles estão sendo judiados, estão passando mal, e não pode ser assim. Os índios sempre são judiados, e não pode ser assim. Ninguém quer ser judiado. Eles precisam ser soltos.”

Como denunciou o DCO, os familiares dos presos ficaram sabendo que eles estão sendo obrigados a comer comida crua e passam frio, dormindo no chão gelado, sem colchão, sem cobertas e sem agasalhos. Nos últimos dias, levaram algumas roupas para os presos e os agentes da Penitenciária Estadual de Dourados, onde eles estão, não deixaram entrar algumas peças, como calças jeans. Só podem usar calça social branca.

Adelino de Souza, um dos presos, que tem 62 anos e é aposentado, está passando “muita fome”, diz Sandra, sua esposa. Eles têm quatro filhos (uma menina de 11 anos, um de oito e outro de seis) e um neto de oito anos. Possuem um casebre que não os protege do frio intenso que tem se abatido sobre Dourados nos últimos dias, rebaixando as temperaturas a menos de dez graus de madrugada, com sensação térmica de cerca de cinco graus.

“Passei mal, pensei que eu ia morrer”, conta Sandra, sobre sua situação nas duas últimas semanas. Febre e vômito são frequentes aqui, até porque não há saneamento e a comida é preparada com uma água amarronzada.

Adelino é filho de Seu Júlio. O irmão de Adelino, Rogério, também está preso. Ele tem por volta de 60 anos. Outro irmão, Adélio, de 55, está preso junto com eles. A filha de Adelino, Ana Carla, denuncia que seu pai foi preso com os documentos que são necessários para que a família continue recebendo auxílio do governo. Os documentos estão retidos na delegacia. Logo, eles podem deixar de receber o Bolsa Família. Ela tem dois filhos com seu esposo, Gabriele, de 15 anos, e Douglas, de 12. Ana é prima de Sanches, de 33, que também está preso.

Sandra afirma que seu marido “não pode ficar sem comer, porque fica fraco, abatido, até cair”. Ele tem pressão baixa, entre outros problemas de saúde. Outros presos também têm problemas de saúde e a comunidade está preocupada com sua situação. Enivaldo, por exemplo, que, ao contrário da maioria, é da etnia terena, toma remédio controlado para depressão e está sem há duas semanas, segundo sua esposa, Luciana.

Conforme informações obtidas pelo DCO, o Ministério dos Povos Indígenas, chefiado pela ministra Sonia Guajajara, está sabendo da prisão dos nove índios da Iwu Vera. Contudo, até o momento, nenhuma ação foi tomada. A Associação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), da qual Guajajara é a principal liderança, também se comprometeu a ajudar os índios de Dourados. Os indígenas estão angustiados e imploram ajuda das autoridades federais.

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