Nayara Arce da Silva é esposa de Magno Souza, que foi o primeiro índio a se candidatar ao Governo do Mato Grosso do Sul, em 2022, pelo Partido da Causa Operária (PCO). Pessoa muito humilde, assim como todos os indígenas da retomada Iwu Vera, em Dourados, ela diz se sentir “revoltada e com dor no coração” por ver seu marido preso há duas semanas, aquele que sustenta a família de dois filhos e quatro irmãs menores de idade.
Ela participou da manifestação nesse sábado (22) pela liberdade de Magno e de outros oito índios, que estão na Penitenciária Estadual de Dourados há duas semanas, após serem presos pela PM, acusados de portar arma de fogo, ameaçar um outro índio, invadir propriedade privada e causar dano ao patrimônio.
Magno foi considerado pela PM como o “líder” dos indígenas presos, embora todos os índios que a reportagem ouviu digam que ele sequer estava no local do suposto crime quando este teria ocorrido. Conforme denunciam as famílias dos presos, eles estão passando frio e fome no presídio.
A PM, que prendeu os nove índios guarani caiouá e terena, voltou a reprimir a comunidade no sábado, ao atacar a manifestação pacífica com balas de borracha e bombas de gás lacrimogêneo. Crianças e mulheres passaram mal por inalarem o gás e um homem foi atingido no rosto por uma bala de borracha.
A seguir, a entrevista realizada pelo DCO com Nayara, durante a manifestação:
Como você se sente com seu marido preso há duas semanas?
Eu não me sinto bem. Tenho que aguentar muita coisa. Estou revoltada. Muitas pessoas falam para eu sair da retomada, mas não tenho dinheiro para ir para outro lugar. Então ficarei na retomada com minha família e minha comunidade.
O Magno é quem sustenta a sua família?
Sim, ele sustentava. Pedia doações, porque ultimamente estava trabalhando na roça. Agora que ele foi preso nós estamos vivendo de doações. Até que recebo ajuda do governo, mas são apenas dois pacotes de arroz e uma cesta básica. Isso não é suficiente para todos os que vivem junto comigo.
Você tem quantos filhos?
Um de sete anos e outro de cinco anos. Também tenho um irmão pequeno de 12 anos, uma irmão de 14, uma de 16 e outra de 18 anos. Todos vivem junto comigo.
E o Magno sustentava todos vocês?
Sim, porque era o único que trabalhava.
E qual a situação dele no presídio neste momento?
Pelo que fiquei sabendo, ele agora foi separado dos outros presos e está sozinho. A polícia ficou com raiva dele.
A polícia está tentando se vingar dele?
Está, porque esses que estão presos são a linha de frente, são eles que levam tiro de bala de borracha, gás de pimenta etc. O Magno já foi atingido três vezes por bala de borracha, uma vez na barriga, uma no braço e outra no pescoço. A polícia tem ódio deles, não quer vê-los na luta. Eu me sinto revoltada e com dor no coração de ter que cuidar sozinha dos meus dois filhos e das minhas quatro irmãs. Ainda bem que algumas pessoas nos ajudam.
