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Identitarismo

Identitarismo, uma política da burocracia estatal

Folha de Pernambuco elogia Antonella Galindo, por romper “as barreiras de discriminação de gênero” ao ser eleita como vice-diretora da Faculdade de Direito do Recife (FDR).

Em 13 de fevereiro, Antonella Galindo, mulher trans, foi eleita para o cargo de vice-diretora da Faculdade de Direito do Recife (FDR). O jornal Folha de Pernambuco (FP) deu destaque ao ocorrido com uma reportagem na qual Antonella foi elogiada por romper “as barreiras de discriminação de gênero” em uma das instituições mais antigas do país.

O fato de que o identitarismo é uma ideologia pequeno-burguesa, sem implicações reais na vida da maioria da população, fica muito claro nas próprias palavras de Antonella. Vejamos então porque essa moda ideológica pequeno-burguesa está fadada a desaparecer sob a pressão das próprias contradições sociais e da luta política dos trabalhadores e seus aliados.  

“É um fato histórico minha presença nesse espaço. Estar onde estou é um fator importante de transformação. Lugar de mulher trans, assim como de qualquer mulher, é onde ela quiser.”

Apenas uma pequena-burguesia bem estabelecida seria capaz de pensar que as barreiras sociais podem ser rompidas com “muita força de vontade e de vencer na vida”. A vida da maioria das mulheres, ao contrário, está submetida à escravidão doméstica. A responsabilidade de cuidar da casa, dos filhos e do marido é o grande empecilho para que as mulheres não tenham sequer tempo para desenvolver suas capacidades intelectuais, profissionais e políticas. 

A política de cotas, que busca facilitar que mais mulheres ocupem postos de poder, não leva em consideração essa raiz econômica – essa, sim, histórica – da subordinação feminina. Com isso, oculta que a classe social é a questão política decisiva. Como resumiu Ascânio Rubi para este Diário: “Mulheres da burguesia na política fazem avançar a pauta da burguesia e de seus interesses de classe”.

No caso de Antonella, a confusão é ainda maior. Quando transacionou de gênero, Galindo fazia parte do quadro docente da FDR há 16 anos. Como alguém que sequer experimentou a condição social da mulher, ao ocupar um cargo de prestígio na burocracia, pode ser um “fator de transformação” para as mulheres em geral? Mesmo para os padrões da política burguesa, o embuste é caricato.

Para o feminismo tradicional, a mulher é uma “construção” cultural, desvinculada dos meios materiais de sobrevivência. Mas para a chamada ideologia de gênero, ser mulher é um estado etéreo que pode ser modificado pela vontade soberana do indivíduo. 

Os jovens são os que mais sofrem as consequências desse devaneio. Em uma fase que se caracteriza por constantes mudanças e indefinições, a pressão do movimento LGBTQIA+ para que adolescentes tomem bloqueadores de hormônios e realizem cirurgias mutiladoras pode comprometer a saúde dessas pessoas pelo resto de suas vidas.

Mas o culto ao próprio ego é uma das marcas da política identitária. Segundo Antonella, o lugar social que cada indivíduo ocupa deve-se a ele mesmo:

“Não há problema que pessoas trans sejam cabeleireiras ou profissionais do sexo, mas elas também podem ser advogadas, médicas, professoras, empresárias, servidoras públicas, militares, artistas e engenheiras”.

Para o identitarismo, o que importa é que os indivíduos, com suas supostas qualidades inatas e excepcionais, sejam reconhecidos e recompensados. A prostituição seria um talento que pessoas trans pobres utilizam para viver. Mas também pode haver aquelas que prefiram ser profissionais da violência e, no exército, se dediquem a orquestrar golpes de Estado. Pensemos “fora da caixa” (sic) e tudo pode acontecer.

Para os trabalhadores, assim como para a maioria da população brasileira, essa concepção política é absolutamente nefasta. Ela impede o avanço da consciência de que a exploração da força de trabalho é a base do capitalismo e que somente a organização da classe operária em partidos políticos é capaz de superar essa relação de produção que escraviza a maior parte da humanidade.

Se para os trabalhadores o identitarismo é pernicioso, encaixa-se como uma luva na burocracia estatal. Por que a conservadora FDR ficaria de fora dessa moda? A chapa de Antonella recebeu quase o dobro de votos da chapa concorrente, que era encabeçada por um dos tabeliães mais bem sucedidos de Recife. Como disse a nova vice-diretora da FDR:

“Boa parte de nossas propostas de campanha foram originadas da própria comunidade e, notadamente, o objetivo de nos tornarmos uma faculdade mais inclusiva e democrática será um dos pontos centrais de nossa condução das questões da casa”.

É muito provável que a comunidade acadêmica que elegeu Antonella esteja de acordo com a construção de banheiros “neutros” nas dependências da FDR. No entanto, dificilmente estarão dispostos a combater a violência da polícia militar contra os pobres e o aumento vertiginoso da população carcerária. 

Como podemos falar a sério em medidas “inclusivas e democráticas” sem tocar nessas questões? Hoje, são mais de 900 mil pessoas encarceradas, boa parte delas sem julgamento definitivo. O Poder Judiciário, o Ministério Público, a Defensoria Pública e as polícias são as principais burocracias responsáveis por essa situação. Os profissionais que ocupam postos de prestígio nelas todas saem das fileiras de cursos como o da FDR.

Antonella e FDR estão em sintonia. Tanto é assim que o convite para participar da chapa que sairia vitoriosa se deu em razão de sua transição de gênero. Apesar de enfatizar suas qualificações acadêmicas e administrativas, ela mesmo reconheceu essa conexão ao afirmar que “isso (a transição) seria um fator que reforçava a vontade dele (Torquato de Castro, candidato a diretor) de me ter como sua companheira de chapa”.

Para operar transformações sociais, o feminismo tradicional apela para a educação enquanto o movimento LGBTIA+ se apoia na indústria farmacêutica. Ambos pedem repressão policial para os que discordam de suas políticas. Os dois movimentos também são impulsionados pela imprensa monopolista e pela burocracia estatal. São motivos suficientes para que a classe operária e suas organizações políticas os combatam com firmeza.

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