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Ascânio Rubi

Ascânio Rubi é um trabalhador autodidata, que gosta de ler e de pensar. Os amigos me dizem que sou fisicamente parecido com certo “velho barbudo” de quem tomo emprestada a foto ao lado.

Dia Internacional da Mulher

Feminismo identitário omite problemas reais da mulher

Mulheres da burguesia na política fazem avançar a pauta da burguesia e de seus interesses de classe.

Ontem, 8 de março, foi celebrado o Dia Internacional da Mulher, data que simboliza a luta da mulher por sua emancipação. Na imprensa da burguesia, a discussão, quando não se ateve às últimas fofocas do misógino da vez ou às declarações infelizes de pastores na internet, caiu na leitura identitário-estatística do problema, que se esgota em matérias que mapeiam a quantidade de mulheres em posições de poder, sobretudo na política.

O diagnóstico aparentemente unânime na imprensa é que faltam políticas de inclusão de mulheres nesses postos. No caso da política, já existe obrigatoriedade de cota de candidatas por partido, embora ainda não haja como obrigar a população a eleger essas mulheres, pelo menos enquanto o eleitor votar diretamente na pessoa, não em lista. Nada impede, porém, que se crie algum tipo de regra que facilite a chegada da mulher, assim tomada em abstrato, aos cargos eletivos. Caso interesse à burguesia, o TSE pode criar mais alguma norma.

Na base dessa discussão, figura apenas a ideia da discriminação – do machismo, da chamada “violência de gênero” – como entrave a ser superado, e não está, por exemplo, a explicação do que leva poucas mulheres a participar ativamente da política. É provável que, no centro da questão, estejam seus problemas típicos, associados à maternidade e à dupla jornada de trabalho. É claro que não estamos falando aqui das mulheres de classes altas da sociedade, que, em geral, repassam as tarefas do lar, inclusive as da maternidade, a outras mulheres – empregadas domésticas, babás etc.

Do ponto de vista da equação do feminismo identitário, a patroa e a empregada viveriam o mesmo problema, qual seja, o da discriminação. Assim, a solução passaria pela reeducação da sociedade, que se materializa em propaganda e políticas de cotas. A Folha de São Paulo, por exemplo, cobra do governo Lula a paridade de gênero nos ministérios e nos cargos de alto escalão, mas o faz apenas para indispor o governo do PT, acusado de ter maioria masculina, com boa parte de sua militância. No governo de São Paulo, por exemplo, não se sabe se existe essa paridade porque a imprensa nada diz.

Se o problema é educativo, valeria gastar um minuto para lembrar que o Brasil já escolheu uma mulher para a presidência da República, que foi Dilma Rousseff, do PT – eleita, reeleita e golpeada pela mesma burguesia que cobra do Lula a paridade de gênero. O povo, por mais estruturalmente preconceituoso que possa ser, votou em Dilma duas vezes seguidas – e não havia propaganda identitária que induzisse alguém a dar seu voto a uma mulher apenas por ela ser uma mulher. Também não havia cota de mulheres no partido. Dilma, militante desde jovem, foi indicada por ser um quadro importante do seu partido – e foi eleita pelo povo. Sua deposição, esta sim, veio acompanhada de um sem-número de manifestações misóginas, que nunca foram objeto de reprovação na imprensa burguesa nem de cancelamento.

Foi, a propósito, Dilma Rousseff quem sancionou a Lei Complementar nº 150/ 2015, que regulamentou o trabalho de empregada doméstica, tornando obrigatório o seu registro em carteira e a garantia dos direitos trabalhistas. Na ocasião, a burguesia e a pequena burguesia entraram em pânico, o que mostra que “sororidade” só existe intraclasse. A Reforma Trabalhista de Michel Temer, no pós-golpe de 2016, viria mutilar vários direitos de todos os trabalhadores.  

Seria mesmo muito desejável que mais mulheres do campo progressista participassem genuinamente da política, ingressando em movimentos sociais e partidos de esquerda e que fizessem avançar a luta por seus direitos e emancipação. Mulheres da burguesia na política fazem avançar a pauta da burguesia e de seus interesses de classe.  Não há como pôr em segundo plano aquilo que está no centro da equação, ou seja, a classe social.

PS. O ministro Alexandre de Moraes, em homenagem ao Dia Internacional da Mulher, mandou soltar 149 mulheres presas por ocasião dos atos de depredação dos prédios do governo em 8 de janeiro, tidos como uma “tentativa de golpe de estado”. Nada como aproveitar um bom pretexto para ir soltando a turma do Bolsonaro. 

* A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião deste Diário

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