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Crítica x sectarismo

Guimarães se opõe, mas criticar não é o mesmo que atacar

É fato que existe uma esquerda que critica o governo Lula apenas como um meio de se afastar da luta e oportunamente pedir sua saída. Mas a crítica consciente é necessária.

Matéria de Eduardo Guimarães “Lula precisa de mais apoio da esquerda”, publicada no Brasil 247, nestes 6 de março, diz que Fevereiro foi marcado por fogo amigo contra Lula. Se o comportamento da esquerda se repetir, a situação vai se complicar.

Na verdade, precisamos clarificar o que seja o tal ‘fogo amigo’, a crítica nunca deve ser vedada, a questão é se estas visam auxiliar a política do governo a caminhar para a esquerda, ou se estão aí apenas como oposição sectária.

As declarações de Fernando Haddad sobre o preço dos combustíveis, por exemplo, podem facilmente indispor a população contra o governo. Criticar a postura do ministro é uma maneira de forçar a política em prol dos interesses da população, não de meia dúzia de acionistas parasitas. Por outro lado, apontar que Haddad seja um agente do capital estrangeiro apenas como forma de romper com o governo, como têm feito determinados setores, apenas se fomentará um clima como o encontrado contra Dilma no golpe de 2016.

Guimarães reproduz um trecho de matéria da BBC, de 2018, para tentar demonstrar “o que acontece quando a esquerda resolve atacar a esquerda – o que, para ela, é como respirar”:

(…) No dia 6 de junho de 2013, o MPL (Movimento Passe Livre) [formado por PT, PSOL e outros partidos de esquerda] se mobilizava contra o aumento das tarifas de ônibus, metrô e trens em São Paulo”. O preço das passagens já era abusivo e o aumento das passagens aumentou a oposição popular contra o governador Geraldo Alckmin.

“Fizeram ainda outros dois atos cada vez maiores. No dia 11 de junho, ônibus e agências bancárias foram depredadas por personagens novos, os black blocs. No dia 13, houve enfrentamento, e a Polícia Militar disparou bombas de gás e balas de borracha, deixando manifestantes e jornalistas feridos (…)”. Os black blocs foram usados extensamente pela direita, para mostrar que se tratava de um protesto de vândalos; e também pela esquerda pequeno-burguesa, pacifista, que não admite que as pessoas possam, sim, se rebelar contra o Estado sem serem necessariamente infiltrados no movimento utilizados para indispor a política contra os manifestantes. Apesar de haver os infiltrados, como de costume.

A Polícia nunca precisou de motivos para espancar a população, balas de borracha, gás lacrimogênio, bombas de efeito moral, tudo isso faz parte do cardápio que a burguesia gosta de servir para a classe trabalhadora.

Índices ‘científicos’

De acordo com o texto de Eduardo Guimarães “não poderia dar em outra: pesquisa Datafolha divulgada em 29 de junho de 2013 mostrou que a popularidade da então presidente Dilma Rousseff desmoronara. A avaliação positiva do governo dela caiu 27 pontos em três semanas daquele mês. Ora, a primeira coisa que a esquerda precisa fazer é desconfiar dos índices do Datafolha, a ficha corrida dessa empresa é interminável.

A burguesia sabe que os índices de popularidade têm efeito sobre esquerda pequeno-burguesa, por isso os manipula sem dó ou piedade. Chegaram a divulgar que a popularidade de Dilma Rousseff teria a caído abaixo de 10%, sendo que o PT, nunca teve menos de 30% de votos, mesmo durante as intensas campanhas de ódio combinadas da burguesia e da imprensa contra esse partido.

O que Guimarães deveria se perguntar, é o porquê de os índices ‘científicos’ de popularidade do Datafolha apontarem para a presidenta da República. As tarifas de transporte público são atribuições dos estados e dos municípios. Não é estranho? Ou será que começava na própria imprensa, a mesma que é responsável por pesquisas de opinião, a manipulação para jogar a população contra Dilma?

É preciso lembrar que o MBL (Movimento Brasil Livre) começou a questionar o PT, que governava a cidade de São Paulo, para que abaixasse o preço da passagem dos ônibus. O que mostra o quanto os oportunistas podem se aproveitar de medidas antipopulares, como essa de Haddad quando foi prefeito.

O MBL foi inflado pela direita, esse grupo, que surgiu do ‘nada’, tinha dinheiro para alugar trios elétricos e fazer atos na Avenida Paulista. Seus integrantes logo receberam grande visibilidade na grande imprensa e muitos se candidataram e se elegeram nessa onda.

Por outro lado, a esquerda pequeno-burguesa se acovardou e aderiu às palavras de ordem como “abaixa a bandeira”, despolitizou as manifestações e foi engolida pela direita. Nós vimos esse fenômeno se repetir em 2021, quando setores do Psol e PCdoB tentaram, sem sucesso, impedir que militantes do Bloco Vermelho levantassem suas bandeiras ou ostentassem faixas com Lula presidente. Isso mostra que existe muito em comum entre o MBL e determinados grupos da esquerda.

Eleições de 2014

Na sequência, Guimarães diz que Dilma começou seu segundo governo fragilizada. Mas começou a ser derrotada antes de assumir. Ele deve se lembrar que novamente grupos financiados inclusive pela CIA, como o MBL e o Não Vai Ter Copa – que pariu Guilherme Boulos –, fizeram todo um trabalho de sabotagem contra Dilma.

O senhor Guilherme Boulos, por exemplo, durante a crise que o governo Dilma sofria, utilizava sua coluna na Folha de São Paulo (olha a Folha aí de novo) para criticar sua política cambial. Esse é um exemplo clássico de como a crítica pode ser usada para ‘a coisa se complicar’. Mas, isso era feito exatamente com esse propósito, não foi fogo amigo.

Um dos fatores que levou o governo Dilma à ruína foi justamente seu movimento em direção à reconciliação com a direita, em vez de buscar apoio da classe trabalhadora. A indicação de Joaquim Levy (Fazenda) e Kátia Abreu (Agricultura) serviram apenas para abrir mais um flanco para setores oportunistas de esquerda e de direita bombardearem o governo. Por outro lado, era dever da esquerda consciente fazer a crítica, alertar e pressionar para que governo viesse para o lado dos trabalhadores, a única força capaz de evitar o golpe.

De acordo com Guimarães “a escolha de Alckmin, porém, levantou uma onda de ataques a essa estratégia que culminou com a difusão de vídeos por setorese da esquerda com ataques pretéritos do tucano ao seu agora companheiro de chapa. Esses vídeos foram utilizados por Bolsonaro, mas desde quando ele precisa da esquerda para conseguir vídeos. Estava na cara que Alckmin seria usado contra Lula. Falta de aviso não foi. E, é preciso dizer, uma péssima escolha que contou com a colaboração e aplauso de boa parte da imprensa independente.

No entanto, é lícito criticar Alckmin e pedir um vice do movimento operário, ou trabalhador do campo. O que se vê, no entanto, são diversos setores da esquerda se referindo ao governo como ‘Lula-Alckmin’, uma clara sinalização de que estão apenas esperando o momento para agirem como em 2016, quando se puseram ao lado do imperialismo e pediram a saída de Dilma Rousseff.

Existem, sim, esquerdistas chamando Lula de capacho do imperialismo, apesar da recusa de se enviar munição para a Ucrânia, ou da assinatura de uma declaração contra o governo da Nicarágua. Os ataques gratuitos podem fazer a situação se complicar. O risco de a extrema-direita retomar o poder é real. E já vimos como ela governa. É verdade, por isso a crítica se faz mais necessária. Se o governo Lula fizer como Dilma, não buscar o apoio das massas, e se não combater os eventuais direitistas dentro do próprio governo, será uma presa fácil dos oportunistas de todos os matizes políticos.

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