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História

Guerra do Yon Kippur: Último ato do nacionalismo árabe

Guerra do Yon Kippur foi um quase bem-sucedido ataque de Egito e Síria. Estratégia e fator surpresa foram superados pelo poderio bélico de Israel

Hélio Rocha

A Guerra do Yon Kippur, em 1973, representou a última tentativa nacional árabe, até o momento, de expulsar o Estado de Israel da região do Oriente Médio. Desde então, a luta se travou somente em insurgências populares, como as Intifadas Palestinas de 1987 e 2000. Por um lado, representou a quarta vitória consecutiva dos israelenses sobre coalizões de países árabes, demonstrando a superioridade material do Estado sionista, protegido pela Europa e pelos Estados Unidos e contando com a complascência do stalinismo na União Sovética. Por outro, representou sentimento de vingança por parte dos povos árabes, após as fragorosas derrotas nos conflitos anteriores. Foi, ao fim, parcialmente vitoriosa pela parte egípcia, já que o país reconquistou a península do Sinai, perdida para Israel em 1967.

Em contenda mais equilibrada e surpreendente contra os israelenses, Egito e Síria promoveram um ataque avassalador, sendo o Sinai recuperado pelos egípcios após o conflito. Entretanto, também foi o ponto final da coalizão pan-arabista iniciada pelo presidente egípcio Gamal Abdel-Nasser, já que depois o protagonismo entre as nações árabes seria das monarquias do petróleo. Esta, de orientação ultra-conservadora, fez nascer diversos núcleos fundamentalistas religiosos que passaram a travar conflitos de guerrilha e por vezes atos terroristas contra o Ocidente, como Al-Qaeda, Estado Islâmico, Talibã, além dos próprios Hezbollah e Hamas, agora protagonistas do conflito Israel-Palestina. Aquela, representava o progresso material das nações árabes, algumas se aproximando de um projeto revolucionário socialista, como o próprio Nasser, que chegou a se apresentar como principal aliado do bloco soviético na região. 

Hoje, deste projeto político internacional, resta o Governo sírio, de Bashar Al-Assad, desdentado e dependente da Rússia desde a sucessão de golpes e guerras-civis pró-imperialistas que arrasaram a região com a Primavera Árabe, de 2011. Após atravessar tenebrosa guerra-civil, com a ascensão do Estado Islâmico, que chegou a conquistar dois terços do território do país, Assad aliou-se ao presidente russo Vladimir Putin e passou pelo pior momento da história síria contemporânea. Entretanto, somada à queda brutal do presidente Muammar Ghaddafi na Líbia, a devastação da Síria foi o último suspiro de um projeto que iniciou-se com Nasser, passou por Hafiki Hariri no Líbano e Sadam Houssein no Iraque, além dos líderes já citados.

A queda do projeto pan-arabista em sua principal nação, que já vinha em curso com a derrota na Guerra dos Seis Dias, quando Israel fez um ataque supostamente preventivo contra Egito, Síria e Jordânia e promoveu ampla destruição em seus arsenais, ameaçou ser revertida no dia 6 de outubro de 1973. Nasser já tinha morrido, em 1970, e fora sucedido por Anwar Al-Sadat, um presidente não-árabe, de origem núbia, povo negro do sul do Nilo. Aproveitando-se do Dia do Perdão, ou Yon Kippur, dia santo e de reclusão entre os judeus, Sadat atacou Israel na província do Sinai. Foi apoiado pelo presidente sírio Hafez Al-Assad, pai do atual governante.  

O movimento de ataque foi chamado Operação Badr, que significa “Lua cheia” em árabe. Isso porque ele utilizava a maré de sizígia, fenômeno gravitacional exercito entre a Lua e a Terra, para transpor os obstáculos bélicos instalados por israelenses ao longo do canal de Suez, que dividia o Egito e a península do Sinai. O exército de Sadat recorreu a possantes bombas de succção e usou as águas do canal como agente de erosão hídrica, destruindo as fundações da até então intranponível barreira fortificada erguida por Israel. Tinham 50 metros de altura, feitas com areia do deserto, guarnecendo toda a margem norte do canal contra as forças árabes.

Os egípcios abriram passagens ao longo de 160 quilômetros de fortificações, que constituíam a chamada linha de Bar-Lev, alcançando o lado desprotegido de casamatas israelenses e, por consequência, obrigando os soldados a se render. Concomitantemente, o exército da Síria atacou posições estratégicas de Israel nas colinas do Golã. Com tantos revezes, Israel foi obrigado a retroceder, mas reorganizou suas forças e seu inventário, contratacando e impondo derrotas sucessivas para Egito e Síria tanto na infantaria, por terra, quanto na conquista do espaço aéreo e nas batalhas navais. O teatro do Mediterâneo foi fundamental para a vitória israelense, com os sistemas de defesa do Estado judaico impondo-se ante os navios vizinhos. As batalhas de Latakia, contra a Síria, e Baltim, contra o Egito, terminaram com ampla vitória sionista e profundas perdas materiais para os árabes. Somadas às mais de 8 mil baixas totais das forças aliadas, contra 2,5 mil de Israel, sacramentaram a vitória dos judeus.

As consequências da Guerra foram principalmente três. Uma, internacional, com a explosão dos preços do petróleo, que pela primeira vez atentou o mundo para o valor fundamental dos combustíveis, e daquela matéria-prima, no sistema capitalista. Foi a chamada “crise do petróleo”. Outra, foi a afirmação definitiva de Israel como força soberana no Oriente Médio, após as vitórias na Guerra Árabe-Israelense de 1948, que os judeus chamam de Guerra de Independência (se é que é possível o invasor conquistar independência), na crise do Canal de Suez, de 1956, e na Guerra dos Seis Dias, de 1967. Com isso, todos os principais países árabes foram obrigados a negociar o reconhecimento do Estado de Israel, abrindo mão das resistências nacionais ao sionismo e deixando orfã a representação deste anseio popular. Esse fato seria a causa primordial do surgimento dos grupos fundamentalistas islâmicos. Por fim, também como consequência dessa última, o acordo para o retorno do Sinai à soberania egípcia. 

Sadat se aproximaria dos Estados Unidos, na contramão dos líderes árabes antecessores, que ameaçavam integrar o bloco socialista. Ganharia o Prêmio Nobel da Paz, que costuma funcionar como um prêmio de chancela a serviços prestados ao imperialismo, em 1978. A Síria de Hafez e depois Bashar Al-Assad seguiria resistênte, junto a Líbia e Iraque, restando atualmente como último país do nacionalismo árabe, cercado por Israel e uma dezena de Estados arrasados, fantoches ou monarquias islâmicas.

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