A escolha de Geraldo Alckmin, consagrado inimigo do povo, para a vice-presidência de Lula foi um mal agouro para a esquerda. A composição da equipe ministerial de Lula, mais ainda. Afinal, para vencer as eleições de 2022, a população precisou combater justamente quem agora faz parte dos ministérios do novo governo, uma “aliança” que, até o momento, só resultou em prejuízos para este.
Em primeiro lugar, um governo de esquerda, principalmente o governo de Lula, o principal representante dos trabalhadores no Brasil, que admite a presença de elementos direitistas em suas instituições, ensina uma péssima lição ao povo: pode-se confiar em seus inimigos. Por que Alckmin atacaria os interesses da classe operária se está governando ao lado de Lula?
Entretanto, a realidade é que elementos como Alckmin, Tebet, Juscelino Filho e outros sabotam o governo de dentro, impedindo que Lula governe para os trabalhadores, com políticas mais progressistas. Nesse sentido, são verdadeiros Cavalos de Troia que, na primeira oportunidade, abandonarão sua fachada democrática para servir aos interesses da burguesia de maneira escancarada.
Não é à toa que o União Brasil, que faz parte de alguns ministérios e órgãos do executivo, ainda não declarou se, na Câmara dos Deputados e no Senado Federal, será oposição ou aliado do governo, uma prova de que serão, de fato, oposição. Trata-se de uma contradição: os ministros de um governo devem estar lá para trabalhar em prol do sucesso deste e das políticas que tal poder, chefiado pelo único representante eleito do Executivo, o presidente, quer praticar. Se um partido que compõe a equipe ministerial de Lula se opõe às suas políticas no legislativo, qual é o seu papel enquanto aliado o governo? Nenhum.
O governo Dilma da época do golpe de 2016 é o melhor exemplo disso. Seus ministros da Justiça e do Gabinete de Segurança Institucional, bem como o Advogado-Geral da União e o diretor da Polícia Federal, quando não tentaram impedir o golpe, foram peças primordiais para que a presidenta eleita fosse derrubada do poder. Dando lugar ao governo golpista de Temer que destruiu a economia nacional e resultou, posteriormente, no bolsonarismo.
Fica claro que não se pode ter confiança alguma nos ministros direitistas de Lula, e eles próprios já deixam isso claro. Simone Tebet (MDB), por exemplo, candidata do imperialismo nas eleições de 2022 que se infiltrou no governo Lula por capital político e, agora, ministra do Planejamento, fez tudo o que podia para diminuir e dificultar o acesso ao novo Bolsa Família. Já Alexandre Silveira (PSD), ministro de Minas e Energia, está sabotando as indicações de Lula à Petrobrás, empresa primordial para o desenvolvimento do Brasil.
Consequentemente, Lula fica preso à política direitista desses setores. É como se estivesse negociando um resgate de um refém – nesse caso, o Estado brasileiro -, algo que necessita de uma série de concessões para impedir maiores revoltas por parte dos criminosos que apontam uma arma para a cabeça do governo. Finalmente, é muito mais fácil aprovar e anunciar um aumento significativo no salário mínimo quando os ministérios trabalham para que esse aumento se efetive, algo quase que impraticável na atual situação do governo.
O pior, porém, é que, enquanto o governo precisa combater as forças golpistas dentro de seus próprios quartéis, vai ficando cada vez mais desmoralizado frente ao povo. Afinal de contas, a mudança de governo não significou o fim da crise e, portanto, o povo ainda passa fome, ainda precisa de ajuda do Estado para sobreviver ou, no mínimo, ter uma vida digna. Quanto mais Lula demora para atender a essas reivindicações, aumenta a tendência de afastamento dos trabalhadores quanto ao governo.
O problema é que – e a invasão do dia 08 de janeiro deixa isso claro -, no atual momento da situação política, é essencial que o governo tenha moral com o povo, pois se trata da única força política capaz de enfrentar a ofensiva da direita golpista que, até agora, atacou duramente Lula por meio da imprensa burguesa, do legislativo e de suas instituições como um todo. Vejamos o caso do Banco Central: a política criminosa de juros de Campos Neto só pode ser resolvida pela mobilização, já que ele não vai ceder sem a mobilização e qualquer tipo de concessão colocaria o governo ainda mais à direita do povo.
Para tal, Lula precisa mobilizar o povo, algo que, por sua vez, só será feito de maneira efetiva no momento em que o governo resolver as reivindicações e os problemas dos trabalhadores. Logo chega-se à única conclusão possível no que diz respeito à solução da atual crise: é preciso expulsar os ministros sabotadores do governo e colocar em seus lugares verdadeiros representantes da classe operária.
Com isso, e, principalmente, apoiado na mobilização popular, Lula terá as condições política e materiais de levar adiante um governo progressista, apesar da pressão reacionária da burguesia nacional e do imperialismo. Assim, terá em suas mãos o poder de reverter os principais estragos feitos pelo golpe de Estado no Brasil, como as reformas e as privatizações criminosas da direita.