No caderno de Economia e Negócios do jornal O Estado de S. Paulo dessa terça-feira, 31 de janeiro, o que chamou a atenção já está escancarado no próprio título da matéria, onde os porta-vozes do mercado financeiro adotam sem pudor a versão falsificada sobre parte importante da economia do país; pra não dizer o “calcanhar de Aquiles” no centro da disputa mais importante da economia brasileira com articulações com o sistema financeiro internacional; isto é, a dívida pública.
Essa mesma dívida pública que hoje consome mais de 70% do PIB (Produto interno Bruto) brasileiro, isto é, praticamente ¾ da produção de todas as nossas riquezas, onde mais da metade do orçamento público da União é capturada em mais da metade para satisfazer as demandas insaciáveis dos banqueiros e rentistas nacionais e estrangeiros através do pagamento dos juros abusivos dessa mesma dívida pública que o jornal “Estadão”diz estar diminuindo.
O argumento falacioso dos meios de comunicação a serviço da burguesia em relação a esse tema já vem de longa data, e tende a ser ainda mais pertinente como argumento de pressão a favor do tal “ajuste fiscal” (aumento de impostos e corte de gastos públicos) como necessidade imposta pelo mercado financeiro aos governos, em especial agora, na administração Lula. A dívida pública, principalmente a partir do Plano Real, já em 1994, só vem aumentando de maneira exponencial.
O Plano Real, que entre os governos Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso foi organizado e colocado em prática a mando do “Consenso de Washington” (reunião organizada no final de 1989 entre mais de quatro dezenas de países mundiais comandada pelos países imperialistas com objetivo de garantir os interesses a partir das exigências do fundo monetário internacional – FMI) para conduzir o projeto neoliberal no Brasil. Desde então, a dívida pública só aumentou de maneira absurda a partir do aumento de juros extorsivos cobrados do povo brasileiro sob controle do Banco Central – instituição responsável pela administração da economia brasileira de forma centralizada, principalmente a partir da gestão do governo FHC.
A Auditoria Cidadã da Dívida Pública, desde o ano de 2000, procura explicar, por meio de uma pesquisa séria de dados econômicos governamentais, que a dívida pública está sendo utilizada como instrumento de transferência de renda e riqueza do povo para banqueiros e rentistas nacionais e estrangeiros. O que vem ocorrendo mesmo antes do início do Plano Real, em meados de 1994; já que o governo Itamar Franco, para colocar em prática o Plano Real, teve que atrair capitais externos (dólar) com altíssimas taxas de juros a fim de obter as tais reservas cambiais (dólares guardados no Banco Central como segurança a eventuais ataques especulativos contra a nova moeda e como forma de garantir uma maior segurança para controlar o valor do real em relação ao dólar) necessárias para colocar em funcionamento o chamado “sistema da dívida pública”, como a maior engenharia econômica e financeira do mundo em termos de acumulação e reprodução de ganhos financeiros aos banqueiros nacionais e estrangeiros, assim como a todos aqueles endinheirados que aplicam seus recursos em títulos públicos brasileiros para que o orçamento público garanta a riqueza dos já bilionários.
Desta maneira, os meios de comunicação capitalistas existem para serem os porta-vozes da burguesia e do imperialismo, como é o caso do jornal Estado de S. Paulo (Estadão), com argumentos falaciosos de todos os tipos, principalmente se tratando de um tema central como é o da dívida pública. Sendo assim, a redução da dívida pública segundo esse jornalão, diz respeito somente à parte relacionada das contas da administração pública e das políticas públicas como saúde e educação, por exemplo; enquanto que a parte que corresponde a mais da metade do orçamento está concentrada na dívida pública financeira, que de maneira estratégica a imprensa burguesa como o “Estadão” não menciona, evidentemente.
Isso prova que a imprensa burguesa golpista e entreguista do país está associada ao imperialismo e procura omitir quaisquer estudos que comprovem que a situação da dívida pública compromissada com o pagamento de juros aos endinheirados é a coisa mais nociva para a soberania nacional e para o povo brasileiro.