O jornal golpista Estado de S. Paulo publicou, nesse dia 1º de setembro, um editorial que, à parte a canalhice típica dessa imprensa, tem a vantagem de mostrar bem claramente qual a origem da pressão contra Lula em relação às suas indicações no STF.
Quando um esquerdista identitário vem criticar Lula por ter escolhido Zanin e vem dizer que Lula deveria e deve agora no lugar de Rosa Weber colocar uma “mulher negra LGBT etc”, ele só está fazendo eco à campanha da burguesia que não quer ninguém da confiança de Lula no STF.
Com o título “Um Supremo para chamar de seu”, o editorial do Estadão afirma que “Lula pretende preencher a vaga a ser deixada pela ministra Rosa Weber, no final de setembro, indicando alguém com quem tenha a liberdade para ‘trocar ideias’ quando precisar (…) Ora, isso é repetir o mesmo erro de Jair Bolsonaro, que admitia explicitamente que o nome indicado precisava ‘tomar tubaína’ com ele e ‘ter essa afinidade comigo'”.
Segundo o Estadão, o presidente não deveria escolher alguém de sua confiança. Mas então quem ele deveria escolher? Será que os presidentes direitistas Collor, Itamar, FHC e Temer escolherem pessoas que não eram de sua confiança? Claro que sim. Mas como a confiança deles é a mesma confiança do Estadão, então está tudo certo.
Vejamos o caso de Alexandre de Moraes. Ninguém fala nada, agora que ele se transformou numa espécie de herói do povo passando por cima da lei, mas Moraes era ministro do governo Temer quando foi escolhido. Será que ele era da confiança de Temer?
Segue o editorial: “A Constituição confere ao presidente da República a prerrogativa de indicar os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). (…) Há requisitos importantes a serem seguidos: notável saber jurídico e reputação ilibada. Não são condições abstratas ou de difícil aferição. Ao falar em notável saber jurídico, a Constituição exige que o conhecimento técnico do indicado seja facilmente percebido por todos. Se há alguma dúvida a respeito do saber jurídico do indicado, o requisito não está preenchido.”
No mundo fantasioso criado pela burguesia para tentar pressionar Lula, o presidente escolhe, mas ele deve escolher pessoas com “requisitos”. O texto diz que não são condições abstratas, será que não? Vejamos novamente o caso de Alexandre de Moraes, qual seria o “notório saber jurídico” de uma pessoa que faz declarações de que “Liberdade de expressão não é liberdade de agressão!”. Talvez a nossa avó, fazendo crochê na sala, não tivesse uma posição tão idiota. Moraes repete absurdos jurídicos como esse frequentemente, numa demostração de que ele não apenas não possui nenhum saber jurídico, como é um verdadeiro asno.
E podemos citar uma série de asneiras que os juízes do STF já fizeram e já falaram. Mesmo assim, a imprensa golpista como o Estadão nunca falou nada contra os grandes ministros.
O que quer o Estadão, servindo de porta-voz para a burguesia imperialista, é pressionar Lula a indicar alguém que seja mais facilmente controlado. Por Lula, não, pela burguesia.
“Os integrantes da Corte devem ter a capacidade técnica e a estatura moral (…) para que sua atuação como magistrado seja rigorosamente independente.”
Quando a burguesia exige independência, podemos ter certeza que ela está dizendo: “quero alguém que seja dependente de mim!”
Segundo o Estadão, Lula deveria indicar um ministro (ou melhor, une ministre) que faça o que fizeram todos os indicados pelos governos do PT: rasguem a Constituição, abandonem o “saber jurídico” e se volte contra que os indicou para dar um golpe de Estado criminoso contra o povo.
É para isso que serve a pressão do Estadão. E é a serviço disso que estão os esquerdistas que repetem a babaquice de que Lula deveria escolher uma mulher negra etc para o STF. Rosa Weber, que até onde consta é mulher e foi escolhida por Dilma Rousseff, fez exatamente isso. E ainda mostrou um “notório saber” ao dizer a frase “não tenho prova cabal contra Dirceu – mas vou condená-lo porque a literatura jurídica me permite”. Não apenas uma demostração de ignorância, mas uma demostração de picaretagem.
Ninguém é totalmente confiável no STF, um órgão anti-democrático por si só, que deveria ser extinto. Mas o mínimo que Lula pode fazer é escolher uma pessoa de sua absoluta confiança.