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Ladislau Dowbor – parte 3

Ladislau Dowbor fala sobre privatização e o capital estrangeiro

Entenda como o a taxa de juros destroi a produção e aumenta a pobreza de um lado e a concentração de renda do outro

Ladislau Dowbor 3

Seguimos com a nossa série de perguntas feitas a Ladislau Dowbor, professor e economista, autor de diversos livros, como A Era do Capital Improdutivo, que pode ser baixado gratuitamente em seu sítio dowbor.org

Não deixe de ler a primeira e a segunda parte desta entrevista.

Nesta parte da entrevista, Ladislau Dowbor explica que o ‘rentismo’ é muito mais forte que o de burguesia industrial. O poder no sistema capitalista se deslocou da produção para os intermediários que controlam o sistema financeiro, os recursos naturais, a política e isso cria a instabilidade e deixa todo mundo preocupado. O pano de fundo é que estamos destruindo o meio ambiente, paralisando a economia e gerando uma desigualdade que o mundo nunca conheceu.

A privatização gera ao mesmo tempo a desnacionalização de empresa e a entrada de capital estrangeiro como a BlackRock, Credit Suisse, etc. Com isso, o país perde o controle sobre a energia, os recursos naturais e perde a soberania.

Dinheiro público para os bancos

Na crise de 2008 os bancos foram socorridos pelos governos com trilhões doados a esses especuladores, socorrendo quem havia agido inescrupulosamente e permitiu que fosse transferido somas enormes de impostos arrecadados para a iniciativa privada, abrindo a porteira para outras transferências de impostos públicos para o capital especulativo. Eles sabem que mesmo em situação de falência serão socorridos pelos governos. Nos EUA, a garantia dada pelo estado aos depósitos até 250 dólares nos bancos facilitou que fossem feitas garantias para os grandes grupos financeiros, essa foi a abertura da porteira.

Isso impediu também que as tentativas de criar taxas sobre os lucros nas transações internacionais, para diminuir a movimentação financeira em ritmo da velocidade da luz, não tivessem sucesso nos EUA e na União Europeia. Todas as tentativas de colocar um pouco de ordem nesses grupos financeiros não tiveram sucesso. Eles têm muito poder tanto individualmente como nas associações que participam. Não aprendemos nada com a crise de 2008, pois não foram criados nenhum organismo ou mecanismos para controlar esses grupos e temos governos ainda mais dóceis.

No caso brasileiro, uma taxa de juros de 13,75% ao ano justificada como sendo para proteger o consumidor da inflação é uma situação patética, uma mentira, pois não temos inflação de demanda e sim de oferta, nem mesmo o Campos Neto acredita nisso. O que se está fazendo é aumentar o superávit primário para pagar os juros da dívida, entregando de 500 a 700 bilhões de reais dos impostos aos bancos, grupos da Faria Lima e suas ligações com a BlackRock, dentre outros, e deixando de fazer escolas, hospitais, estradas etc.

Falta de controle aumenta os rendimentos

Essa falta de controle sobre o sistema financeiro leva ao aumento da pobreza principalmente nos países menos desenvolvidos, e está gerando um nível de revolta por todos os lados do planeta, em ritmo de convulsões sociais. Quanto maior a fortuna, maior será o rendimento que se obtém nas aplicações financeiras num processo cumulativo.

Para restabelecer o mínimo equilíbrio dos estados nacionais para ter capacidade de governo é preciso equilibrar a política de tributação assegurando que o dinheiro arrecadado seja utilizado para as obras do Estado nos desequilíbrios ambientais, sociais, geração de empregos. Enfim, em investimentos e não para a dívida pública, para a Faria Lima.

Precisa ter uma tributação que seja produtiva e traga justiça numa dimensão ética, social e econômica. Por exemplo, o volume de terras improdutivas no Brasil equivalem a 5 Itálias e o ITR (Imposto Territorial Rural) não é cobrado.

Num segundo eixo, deve ter racionalidade no crédito, servindo para financiar o consumo e a produção. Conforme dados do Banco Central os juros médios para pessoa física é de 55,8 %, a média para pessoa jurídica é 23,1%; 79% das famílias estão atoladas em dívidas, ou seja, paralisou o país. Sem demanda as empresas não têm para quem vender.

Com essa situação os empresários preferem aplicar no sistema financeiro que investir na produção e não ter riscos. Isto aqui não é mais capitalismo que tem produção e consumo, isso é rentismo.

Não há como promover o desenvolvimento econômico, com essa taxa de juros, não há saída. Se acumulam os problemas com a tributação, com o sistema de crédito e com os recursos naturais onde as entradas com as exportações precisam ser aplicadas em favor de políticas de meio ambiente, com pesquisas e tecnologias para a produção de alimentos nas pequenas propriedades, além de políticas fiscais.

Investir na base

Se “não importa de onde vem o dinheiro, importa para onde é destinado” usando como fonte de recursos o aumento da dívida, de impostos ou conversão de dólar, e assim terá aumento da produção de alimentos baixando os preços, formação de cinturão verde em torno das cidades gerando empregos, pequenas indústrias de transformação, dinamizando a economia e gera mais recursos para o Estado. A ideia é o efeito multiplicador do investimento. Aplicando na base aumenta o consumo e o desenvolvimento.

A atitude correta não é a contenção do gastos, em macroeconomia não pode ser austero, segurar a despesa segura o desenvolvimento, temos que fazer o contrário. Numa economia com amplos recursos subutilizados, é preciso colocá-los para produzir, gerar recursos tributários. Aumentando os produtos disponíveis, gera-se renda e empregos.

Dilma baixou a taxa de juros o que tira os bancos públicos da agiotagem. Na França, para um empréstimo acima de 6.000 euros, a taxa acima de 4.9% de juros ao ano é considerado uma ilegalidade pelo código comercial.

Hoje, as pessoas não estão consumindo, estão pagando juros, é preciso diminuir a taxa para romper com esse ciclo de não conseguir sair da dívida com os aumentos sucessivos dos juros. Para isso, a utilização dos bancos públicos é um eixo importante.

O BNDES já decidiu repassar um bilhão de reais para financiar acesso à internet banda larga para as escolas públicas. Isso é investimento, ao contrário do que pensam alguns economistas que dizem que é gasto. As políticas de microcrédito são muito interessantes também, ajudando as famílias que têm algum projeto e dinamizam a economia. As estatais que sobraram podem também financiar esses projetos sociais nos locais que estão localizadas. Esse sistema é considerado estratégico e funciona bem na Europa também.

Na visão da economia aplicada se pensa nos problemas críticos, que são claramente a destruição ambiental, desigualdade, e como enfrentar esses problemas. Se olha para a dimensão financeira, dimensão crédito, dimensão política fiscal, dimensão dos recursos naturais e como organizar tudo isso para resolver esses problemas.

Um exemplo claro do que foi dito acima, é partirmos da situação do Brasil, onde se produz 4 kg de grãos por dia e por pessoa para exportação enquanto tem muita gente passando fome. Isso está drenando as empresas e os recursos naturais para fora do país, o que é inadmissível.

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