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Ladislau Dowbor - parte 2

Três empresas controlam um capital similar ao PIB dos EUA

Ladislau Dowbor explica o problema do fluxo descontrolado de capitais, bem como as privatizações acabam enriquecendo outros países à custa da pobreza do povo brasileiro

Ladislau Dowbor

Publicamos aqui a segunda parte de nossa entrevista com Ladislau Dowbor, professor e economista que tem se destacado por suas críticas ao capital improdutivo.

O professor nasceu na França, mas sua família veio para o Brasil fugindo da Segunda Guerra Mundial. Nos anos de 1970, militou na Vanguarda Popular Revolucionária. Foi preso e torturado pela Ditadura e se exilou na Argélia. O economista é professor titular na Pontifícia Universidade Católica, além de dar consultoria para diversos países.

Abaixo, uma pergunta que fizemos sobre a derrocada bancária, seguida da resposta.

DCO: O que está acontecendo no Brasil e no mundo é o reflexo da falência do imperialismo. Gostaríamos de saber sua opinião a respeito dos tais ‘estouro da boiada’ nos bancos dos EUA e da Suíça que atribuem as falências ao aumento das taxas de juros nos EUA, e à crise de 2008 ainda não debelada. Como isso afeta a situação que vivemos hoje?

Ladislau Dowbor: O dinheiro virtual, hoje, representa um papel muito importante. O dinheiro físico, que tem dificuldades em passar pelas alfândegas, representa apenas 3% do total do dinheiro em circulação. O dinheiro virtual – que é 97% do total – circula à velocidade da luz, hipoteticamente, e isso faz com que seja impossível que os governos possam controlar efetivamente esse fluxo. Temos 193 bancos centrais no mundo e um único ponto de controle internacional, isso é um simulacro de controle, que é o Banco de Compensações Internacionais (BIS) na Basiléia-Suíça e, na verdade, “ninguém controla o sistema global de fluxos monetários”.

O segundo eixo está na raiz dessa transformação que é a liquidação do banco Class Eagle, em 1999, no governo Clinton, que parou de ter controle sobre fluxos financeiros. Essa perda de capacidade reguladora e o fato do dinheiro ser virtual, gera a situação onde o dinheiro e o sistema financeiro se globaliza enquanto os governos nacionais perdem capacidade de regulação.

Isso leva rapidamente à reformulação da estrutura do sistema financeiro onde os grandes bancos importantes se expandiram para a gestão de ativos, como é o caso da BlackRock, que administra 10 trilhões de dólares. Larry Fink, CEO da empresa, é recebido como chefe de estado em qualquer país. Enquanto isso, o orçamento do governo americano é de 6 trilhões. Se adicionarmos outras duas administradoras de ativos com a BlackRock, o valor vai para 20 trilhões, quando o PIB dos EUA está na faixa dos 23 ou 24 trilhões.

A volatilidade da moeda

Outra forma de dimensão da volatilidade da moeda é com os derivativos, onde os dados do BIS dizem que ultrapassam os 600 trilhões em especulação frente ao PIB mundial, de 100 trilhões. Enquanto a produção de petróleo mundial é em torno de 100 milhões de barris/dia mais ou menos, o volume negociado e entregue efetivamente é em torno de 3 milhões, por exemplo.

A especulação e o processo de intermediação por meio de papéis que hoje se transformaram em dados informatizados, levou ao tamanho gigantesco do sistema financeiro e da moeda virtual em todo o planeta. No Brasil isso apenas atingiu a forma grotesca pelas taxas de juros absurdas, pelo grau de endividamento interno do Estado e das famílias, transferindo dividendos das empresas privatizadas para o exterior, caso da Vale, Petrobrás, Eletrobrás, etc. No passado, o sistema financeiro estava a serviço de atividades produtivas financiando a produção e o consumo.

Privatizações e empobrecimento

A privatização parcial da Petrobras e a dolarização do preço dos combustíveis, as PPIs (Preço de Paridade Internacional), geram extração de dividendos que serão apropriados por pequenas parcelas da população no Brasil e em grande parte internacional, à custa do empobrecimento do povo brasileiro. Só no ano passado foram 217 bilhões de reais apenas pela Petrobras, fora as demais privatizações. Como dizem os americanos, o rabo é que está abanando o cachorro, isto é, inverteu-se o sistema. Antigamente o sistema usava a poupança dos correntistas para financiar a atividade produtiva e agora passou a drenar essa poupança. Felizmente, tem alguns autores que têm essa visão sistêmica do mundo financeiro.

Foram detectados 11 mecanismos principais dessa economia classificada como ‘rentismo’. Ela vai muito além do que chamam “indústria 4.0”. Na verdade, é uma apropriação do excedente do que a sociedade produz em diversas partes do mundo por um grupo pequeno. Há no Congresso Americano uma emenda constitucional que quer anular o que foi aprovado em 2010 que permite às empresas financiarem as campanhas políticas. Eles dizem que “temos o melhor congresso que o dinheiro pode comprar”, fora a parte anedótica, acham que esses grupos conseguem dominar a própria política e como essa esfera é global a capacidade de influência desses grupos precisa ser barrada.

Leia também a primeira parte aqui.

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