Já há diversos sinais da organização de um bloco golpista da esquerda pequeno-burguesa, que se organiza para atacar o governo Lula. No mês passado, PSTU e PCB chamaram um ato nacional com a seguinte palavra de ordem: “Contra o arcabouço fiscal de Lula e o marco temporal”.
Ainda que tenha sido um ato pequeno, é importante analisar as tendências que estão por trás de tais movimentações. Houve um caso parecido em 2012, quando um pequeno grupo de extrema-direita chamou uma comemoração do golpe militar de 1964 e o PCO afirmou que era importante combatê-los, contra o que a esquerda pequeno-burguesa respondeu que seria um grupo de gatos pingados. Poucos anos depois, foi possível ver grandes atos da direita com a extrema-direita, chamando a derrubada do governo.
Portanto, o mesmo se aplica à situação atual. Ainda que PCB e PSTU sejam grupos pequenos, não é de se duvidar que a burguesia impulsione manifestações como essas por eles convocadas para colocar em pauta a derrubada do governo Lula.
O que chama atenção é que são apenas seis meses de governo Lula e já há um bloco de esquerda fazendo uma oposição total ao governo, com a disposição de chamar manifestações, plenárias, ainda que sejam irrisórios.
Na nota política do PCB, com o título “A saída para combater a crise e a ofensiva da burguesia é a luta popular”, o partido já afirma com todas as letras que “o governo Lula se rendeu sem luta ao grande capital, cedendo às pressões dos setores mais reacionários do Congresso, mantendo a mesma lógica neoliberal dos governos anteriores”. Ou seja, o terceiro mandato do líder do PT seria nada mais do que uma continuação dos governos Temer e Bolsonaro.
O PSTU vai além, em matéria com o título “PSOL só poderá combater o arcabouço se romper com o governo”, publicada em seu jornal online Opinião Socialista, eles afirmam: “Os ativistas devem romper com o governo e construir uma oposição de classe e de esquerda que se enfrente com o governo”. Ou seja, dizem que é preciso chamar atos para preparar um enfrentamento contra o PT.
A mensagem passada por ambos, ainda que implícita, é que se deve lutar pelo “fora Lula”. No caso da colocação do PCB, se o governo Lula é uma continuação dos governos anteriores, então ele deverá ser tratado como tal. No período do governo Bolsonaro, a esquerda saía às ruas chamando o “fora Bolsonaro”. Sendo o governo do PT uma continuação disso, o tratamento deveria ser o mesmo.
Outro aspecto interessante dessa atual mobilização contra o governo Lula é o amálgama, técnica stalinista que busca misturar duas coisas diferentes para dar uma falsa impressão final de algo que se quer combater. Colocar, na convocação do ato e plenária, a palavra de ordem “contra o marco temporal” é uma tentativa de fazer esse amálgama. Afinal de contas, o governo Lula não é o responsável pelo marco temporal, que é uma política da direita e do congresso. Na realidade, o PT se colocou contra o marco temporal, portanto misturar as duas coisas é uma política desonesta que vem com a finalidade de procurar atribuir também ao governo Lula essa questão. O fato de estarem se utilizando de expedientes dessa natureza já é uma demonstração de que estão procurando “inventar histórias” para atacar o governo.
Além disso, é notória a tentativa de “fechar” o bloco golpista da esquerda para atacar o governo. Recentemente, houve o racha no PSOL, com a saída da CST, de Babá, que argumenta justamente o apoio do Partido a Lula para justificar o racha. É natural, portanto, que a CST já tenha se juntado à convocação da próxima plenária (marcada para o dia 27 de junho), que irá planejar as manifestações contra o governo.
No entanto, o PSOL enquanto partido ainda não se integrou a esse bloco golpista. Já há uma pressão vinda do restante da esquerda para que haja essa integração com o PSOL, que é, desses partidos, o de maior tamanho em número de filiados, além de ser o único com uma presenta mais representativa de parlamentares e de outros cargos.
O PSTU, consciente da necessidade de trazer o PSOL para o bloco, emitiu a matéria “PSOL só poderá combater o arcabouço se romper com o governo” em sua página Opinião Socialista, onde faz uma convocação aberta para que o partido de Guilherme Boulos e Juliano Medeiros assuma novamente seu papel golpista.
Tudo conflui para que se tenha no cenário político uma repetição do que ocorreu em 2016. Naquela época, o PSTU chamava o “fora todos”, enquanto Guilherme Boulos chamava os atos “Não vai ter Copa” e procurava rachar quaisquer tentativas de lutar contra o golpe – um exemplo foi a formação da Frente Povo sem Medo, cuja função era justamente rachar a Frente Brasil Popular (formada para lutar contra o impeachment) e enfraquecer a luta contra o golpe.
É preciso ter clareza das articulações golpistas dentro da esquerda porque elas já tiveram uma importante função na investida do imperialismo contra o governo do PT e isso poderá se repetir no futuro próximo. É preciso enfrentar desde já a tendência golpista que se articula na esquerda.