Um homem de 48 anos suspeito de se ter ateado fogo dentro de uma casa em Ribeirão Preto (SP) durante uma discussão com a esposa morreu na noite de quarta-feira (1º/01). Segundo o boletim de ocorrência, ele tinha sido hospitalizado com 45% do corpo queimado. O incêndio aconteceu na madrugada de sexta-feira, dia 27, por volta das 4h.
Há alegações de que o homem tenha feito isso como uma forma de protesto motivada pelas ações de Moraes e o fortalecimento do Estado repressor.
O fato despertou um debate sobre a natureza psicológica do bolsonarismo, tendo em vista que o homem teria supostamente ateado fogo a si mesmo como uma forma de protesto contra o ministro do STF.
Embora seja fato de que existem bolsonaristas malucos e radicalizados, não se pode colocar todos dentro dessas categorias, e o caso mostra que se trata claramente de uma pessoa que sofria de graves problemas psicológicos.
O problema é que, apesar de materialmente os bolsonaristas estarem desmobilizados (ao menos publicamente), em suas mentes seus ideais ainda fervilham, e pode-se conjecturar, estimuladas por toda a crescente onda de censuras e prisões, uma maneira autoritária de se lidar com qualquer tipo de oposição. Vive-se uma repressão desproporcional por parte do Estado e do STF.
A perseguição de Alexandre de Moraes não fará outra coisa que inflamar ainda mais os bolsonaristas, pois é exatamente contra essa perseguição que eles lutam. A ação radical do STF tem desencadeado provocado uma resposta também radical. Precisamos lembrar que muitos bolsonaristas se consideram antissistema por isso se levantam cada vez mais contra essa instituição.
Muitos bolsonaristas, diferentemente de boa parte da esquerda, defende o direito de liberdade de expressão. Outros também discordam do sigilo com relação ao processo eleitoral e a perseguição e censura para quem questiona o pleito. Essa repressão faz com que os bolsonaristas realmente fiquem com uma pulga atrás de suas orelhas,e isso os torna um setor facilmente mobilizável pela direita.
O modo como Moraes lida com os problemas que se apresentaram diante das mobilizações bolsonaristas são claras violações da Constituição. Está se formando um ambiente político que poderá conflagrar no futuro. Os precedentes criados pelo ministro, e pelo STF abrem caminhos para todo tipo de arbitrariedades na Justiça. Todos os atos abusivos do Supremo influenciam os demais tribunais espalhados pelo País. Se ministros do tribunal fazem interpretações livres da Constituição, seguramente as instâncias inferiores seguirão o exemplo.
A atuação de Moraes não apenas cria problemas para o futuro. Estamos vendo os desdobramento de seu autoritarismo. Muitos consentiram com seus abusos porque supostamente serviriam para evitar determinados problemas. Hoje, fica muito claro que problemas maiores estão sendo criados e não combatidos.
Além de inefetiva no presente e problemática para com o futuro, a via da repressão torna o ambiente político cada vez mais propício para a direita. Facilita a vida e a movimentação daqueles que são realmente entusiastas do golpe e que têm poder e influência para articular tal política: os militares, a direita terceira via e a burguesia.
O governo Lula deve se manter vigilante para não cair em uma armadilha. A própria direita insufla o golpe com base no endurecimento das relações do Estado com a oposição. Lula deve resolver as contradições do atual momento e não deixar de buscar apoio popular, essencial para que o governo possa resistir e governar em defesa dos interesses da classe trabalhadora.