O Estado de S. Paulo publicou nessa terça-feira, dia 14 de março, uma matéria em que acusou Lula de supostamente ter dado sinal verde para as nomeações do União Brasil e outros partidos da direita golpista após um aviso que teria recebido de Arthur Lira, presidente da Câmara filiado ao PP de Alagoas, que a demora em atender seus “aliados” poderia fazer com que o início de seu terceiro mandato começasse mal, com derrotas importantes no Congresso.
Um dos sinais de que a corda está muito pesada para Lula puxar sozinho é, por exemplo, a decisão de manter o ministro das Comunicações direitista, Juscelino Filho, e a liberação de indicações de cargos do segundo escalão para o União Brasil e o MDB para conseguir apoio em votações no Congresso e barrar a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) das manifestações de 8 de janeiro. A lista beneficia o União Brasil, partido de Juscelino, que terá diretorias dos Correios, do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) e do Departamento Nacional de Obras contra as Secas (Dnocs).
O União Brasil também ficará com as presidências da Telebrás e da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), entre outros postos estratégicos.
O MDB será contemplado com a diretoria do Banco do Nordeste, a vice-presidência da Caixa e quatro secretarias do Ministério das Cidades. A pasta do Ministério das Cidades, inclusive, já é comandada pelo partido.
Até agora o governo Lula não chegou a de fato se envolver em polêmicas no congresso e nem disputas de força, mas a ameaça de Lira nos apresenta algo muito importante: a esquerda é minoritária, e quem controla a política institucional é a direita golpista pretensamente civilizada. Lula, se quiser governar, deve se pautar na importância das mobilizações populares, e não nas negociatas políticas.
Até agora, Lula obteve de seus aliados 87 assinaturas para instaurar uma CPI das joias, das quais são necessárias 171. Já a CPMI das manifestações do dia 8 tem o apoio de 189 deputados e 33 senadores.
Não foi à toa que Lula segurou Juscelino, no mesmo dia em que o presidente da Câmara fez duro diagnóstico sobre a articulação política do Planalto, em palestra na Associação Comercial de São Paulo. Ao falar sobre a expectativa de aprovação da reforma tributária, Lira afirmou que o governo não tinha base consistente nem na Câmara nem no Senado.
Em jantar com o presidente, na última quinta-feira, Lira foi além e disse que a situação caminhava para uma crise porque, na ponta do lápis, o Planalto não contava com apoio nem de 200 deputados, de um total de 513. Ele também reclamou das críticas dirigidas ao Centrão pela presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR).
O erro de Lira é dizer que a crise vai se deflagrar, quando, na realidade, ela já está em andamento. Lula e a esquerda não têm força dentro do Congresso para executar sua política, e a única forma pela qual poderá vir a ter será diluindo sua política ao ponto de ser uma política indistinguível da política da direita.
A saída para a crise reside numa radical mudança de estratégia, com a expulsão da direita golpista de dentro do governo e o apoio do governo se transformando nos movimentos sociais e em toda a militância e população.
Lula planejava liberar os cargos apenas após deputados e senadores retirarem as assinaturas que permitem a instalação da CPMI das manifestações do dia 8, mas resolveu acelerar a distribuição de determinados cargos. Dos 59 deputados do União Brasil na Câmara, 28 subscreveram o requerimento pedindo a abertura da comissão.
“Somos contra essa CPMI porque a extrema-direita bolsonarista quer fazer do Congresso um cercadinho de fake news e dizer que havia infiltrados na tentativa de golpe”, afirmou o vice-líder do governo na Câmara, Rogério Correia (PT-MG).
A própria esquerda está aguardando suas migalhas ao invés de se engajar pesadamente na luta contra a direita, para que Lula consiga efetivamente governar e que faça um governo à esquerda.