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Demagogia identitária

Demagogia e oportunismo na luta contra a “simbologia”

Sâmia Bomfim propõe Projeto de Lei que não serve para nada, mas que dá a impressão de que está fazendo alguma coisa.

Borba Gato

Matéria da Revista Movimento, deste 1º de março, intitulada “Chega de homenagear criminosos”, mostra o grau de demagogia ao qual chegamos. O texto diz que “a deputada federal Sâmia Bomfim (PSOL-SP) protocolou, na Câmara dos Deputados, proposta de projeto de lei que veta homenagem a “escravocratas, higienistas ou genocidas no Sistema Nacional de Viação – SNV, em obras de arte, nomeação de Prédios Públicos da Administração Federal e nos Monumentos Nacionais em todo território nacional”.

Será que a nobre deputada já leu o Velho Testamento? Se leu, teria coragem de pedir para trocar o nome do Parque do Abraão, em Florianópolis, por um outro qualquer? Vai que alguém se sinta ofendido pelo fato de um parque público receber o nome de sujeito que possuía (literalmente) escravas. Para colaborar com a deputada do Psol, poderíamos propor também que se impeça as crianças de cantarem o ‘Escravos de Jó’ em escolas públicas’.

Pela proposta, ruas, avenidas ou patrimônio público que tenham sido batizados com nomes de eventos ou personalidades dessa natureza sejam substituídos. Mas essa mudança caberá a iniciativas de estados e municípios, que terão um prazo de 180 dias para compatibilização à Lei Federal, que aguarda análise da Câmara”.

Sâmia Bomfim, para ser coerente, deveria se insurgir contra a Bíblia, ali não faltam escravismo, higienismo ou genocídio.

Inspiração

Segundo a Movimento, a iniciativa foi inspirada em projeto da vereadora de São Paulo Luana Alves (PSOL), que iniciou o movimento ‘SP é Solo Preto e Indígena’. A ação de valorização do papel dessas etnias na formação da maior cidade do país combate o racismo estrutural e institucional trazendo à luz sua importância histórica. O movimento, inclusive, é responsável pela proposta de substituir a estátua de Borba Gato, na capital paulista, por uma imagem de Tereza de Benguela – uma rainha africana escravizada que se tornou líder quilombola.

O bandeirante Borba Gato teve uma estátua em sua homenagem incendiada em São Paulo em julho de 2021. A estátua fica em uma importante avenida no bairro de Santo Amaro. Segundo os autores da façanha, estavam lutando contra aquilo que a estátua simbolizava: um escravocrata, um estuprador de índias e genocida. Também alegavam que aquele tipo de ‘símbolo’ causava sofrimento nas pessoas que tiveram antepassados escravizados.

O incêndio de Borba Gato causou perplexidade. Dos transeuntes que utilizavam regularmente a avenida Adolfo Pinheiro, e que foram ouvidos sobre o fato, praticamente nenhum sabia de quem se tratava. Alguns entrevistados responderam vagamente que teria sido um bandeirante. A maior revelação, no entanto, ficou por conta dos incendiários, que provaram desconhecer eles mesmos a história do Brasil e de Borba Gato.

Sem os bandeirantes o Brasil não seria o que é hoje, esse imenso território. As distâncias e terrenos que esses homens cobriram, a dificuldade que isso representou, é um feito épico. Para os desavisados, é bom lembrar que os índios participaram foram fundamentais para o êxito das Bandeiras.

O que esses demagogos da esquerda identitária não conseguem enxergar, é que o desenvolvimento humano é carregado de contradições, faz parte da nossa condição. Os gregos, por exemplo, eram escravagistas. Alguém vai negar a importância da cultura grega? Será que vão queimar estátuas de Aristóteles? E o que dizer do Império Romano? Em São Paulo, na Zona Oeste, existe um bairro que se chama Vila Romana. Que nomes os identitários vão propor paras as ruas Caio Graco e Tibério, por exemplo?

É uma insanidade tratar Borba Gato, ou qualquer outro personagem histórico, apenas como criminoso. A escravidão, por mais que a repudiemos, no século XVII era uma prática, não era crime. Borba Gato viveu anos refugiado no meio de índios que o respeitavam. Essa história de que teria sido um estuprador e genocida não passa de invenção.

E o mundo real?

Enquanto lutam contra o ‘simbólico’, esses deputados pequeno-burgueses vão deixando de lado o mundo real. Existe escravidão hoje, quem ganha um salário-mínimo no Brasil o sabe, e há quem ganhe menos ainda do que o mínimo.

A polícia, hoje, não de trezentos anos atrás, está dizimando a população negra, está higienizando os bairros ricos expulsando os pobres das ruas. Em vez de lutar pelo fim das polícias, essa gente fica fazendo demagogia com pessoas que viveram há séculos.

Outro trecho da revista transcrevendo Sâmia Bomfim também chama a atenção: “Essa é a ideia do nosso projeto. Acho que, em um momento em que se vê ameaças da extrema direita, ou que o tema da reparação histórica está tão em voga, nosso projeto também vai no sentido de fortalecer a população indígena e a população negra do país”.

Essa conversa da ‘reparação histórica’ é outra conversa mole. Nenhum brasileiro tem que reparar nada pelo que teria acontecido no nosso passado, não temos nada a ver com isso. Fazem demagogia dizendo que a população negra tem que ser reparada. Quem vai pagar? O brasileiro é um povo totalmente mestiçado, pobre e já suficientemente endividado. O negro sofre mais com preconceito e com baixos salários? Sim, mas isso está acontecendo agora e a luta tem que ser feita hoje.

Se Sâmia Bomfim quer lutar contra as desigualdades, deveria, por exemplo, propor a estatização do sistema financeiro, pois os bancos são os principais responsáveis pela completa miséria que vive a população brasileira negra, indígena, amarela, cafuza…

O povo sempre tratou com sarcasmo aqueles vereadores direitistas e ociosos que passavam a vida inteira mamando nas tetas da municipalidade e a única coisa que teriam feito de ‘útil’, quando muito, seria um projeto de lei propondo o nome de alguma rua ou praça. Parece que, agora, muitos políticos de esquerda vão se juntar ao bloco.

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